Jornadas Mundiais da Estupidez!

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A existirem, seria daqueles eventos que Portugal ganharia muito antes de apresentar candidatura! Com efeito, poucos haverá tão capazes como nós de levar a estupidez a limites nunca antes imaginados…

As Jornadas Mundiais da Juventude, hoje motivo de indignação pelo custo absurdo de um palco para as acolher, têm como pai um triunvirato composto por Costa, Medina e D. Américo Aguiar. Tendo estes abalado para incerta (como, aliás, procedimento recorrente nos dois primeiros), coube a Moedas assumir a parentalidade, não como pai, mas como padrasto.

A decisão de acolher o evento coube aos três primeiros, em 2019, que fizeram as capas de jornal ao anunciarem a gravidez, mas abalaram quando começaram as dores do parto. Ao contrário de vários milagres anunciados pela Igreja e que, à falta de explicação científica ajustada, atribuímos ao divino, as JMJ carecem de processo de candidatura, ou seja, é preciso que alguém se disponha a organizá-las, apresente a mais-valia do projecto que o permita ser escolhido em detrimento de outros. Ora, não sendo as primeiras (é coisa que vem desde 1985 e se realiza aproximadamente de três em três anos), seria de esperar que o exemplo das 15 anteriores edições desse para tirar algumas conclusões. Ao que parece não foi bem assim e alguém se lembrou que seria porreiro fazer uma coisa destas em Portugal e, depois, não se sabe muito bem como, quando, quem ou porquê, acabou por nos sair o brinde…

Poderia ter sido uma oportunidade de ouro de ver um milagre operar e ver o aeroporto de Beja em funcionamento, caso alguém com dois neurónios tivesse pensado que um evento desta envergadura fosse capaz de impulsionar uma das regiões menos desenvolvidas do nosso rectângulo. Outra hipótese, era alguém que tivesse uma máquina de calcular, aventar Fátima como hipótese, quer pelo simbolismo do lugar, quer pelo mesmo já ter grande parte das condições logísticas em funcionamento pleno. Mas não, aos decisores, carentes em neurónios, calhou de não terem nenhum ábaco à mão. É preciso azar, convenhamos! Vai daí, decidiram por Lisboa e pediram ao Guterres para fazer as contas…

Isto foi em 2019. De lá para cá, Costa decidiu nomear o inenarrável José Sá Fernandes para coordenador da coisa, pagando assim alguns favores da “gerinçonça” (quer a do Governo, quer a da Câmara de Lisboa). E logo aqui se deu o primeiro milagre: um bloquista que se torna um profundo beato católico a troco de 210 mil euros, havendo que louvar o acerto das contas socialistas: na TAP paga-se 500 mil quando só 58% da frota é que voa. Ora, os 42% que ficam em terra, tal como o palco, custam 210. É que não falha um cêntimo!

O segundo milagre foi quando Medina, que lançou um concurso público para o evento, foi para ministro das Finanças. Diz o leitor: então se Medina lançou um concurso público fez bem, as coisas estavam a correr como seria de esperar… Cabe-me explicar algumas nuances linguistas: Medina lançou apenas um concurso, das centenas de concursos que seriam necessários… Percebeu agora, caro leitor? Pergunta legítima: qual foi então o milagre? A resposta que se impõe é que alguém que não sabe fazer uma conta simples de quanto custariam as JMJ em Lisboa, acaba a dirigir o erário público de toda uma nação, só mesmo por milagre…

Seis milhões por um palco é um absurdo? Com certeza que sim, mas não tão absurdo como os pavilhões transfronteiriços, os estádios do Euro (grande parte hoje desertos e com permanentes custos de manutenção), o prémio da Christine Widener ou o vencimento de Adão e Silva quando comissário das comemorações do 25 de Abril. Os indignados de agora, ou têm curta memória ou aversão à matemática. É que, um dos grandes mistérios ainda por esclarecer, é qual o retorno directo das JMJ, estimando-se a presença de 2,5 milhões de jovens na capital durante cerca de uma semana…

Vemos anúncios a “oferecer” quartos para arrendar, nessa semana, a dois mil euros a noite. Não sendo pecado, é imoral, mas é a prova viva do povo mesquinho e oportunista que somos e da manifesta incapacidade socialista em antecipar seja o que for… Um Governo que se prezasse, e que tivesse o mínimo de vergonha, ter-se-ia preparado, de antemão, garantindo alojamento aos jovens a preços razoáveis e punindo a especulação, vil e oportunista. Mas não! Iremos fazer a fraca imagem que fazemos lá fora, “comme d’habitude”!

As estimativas que, por enquanto, se conhecem, apontam para um custo total do evento que supera os 160 milhões de euros, acreditando que não será Pedro Nuno Santos a substituir Sá Fernandes, nem o empreiteiro do hospital militar a realizar as obras… Ao invés de andar a comunicação social entretida com o custo de um palco decidido em cima do joelho e a cerca de seis meses do evento, devia perguntar o que andou esta gentalha a fazer desde 2019 e a apurar as responsabilidades de quem deveria ter decidido e não o fez em tempo útil, permitindo poupar (elevadíssimos) custos e garantindo uma maior transparência ao processo. Mas não! Há que ridicularizar Moedas e a sua aparente incapacidade para decidir de outra forma, como o fez o fiel escudeiro socialista Marcos Perestrello, olvidando, propositadamente, que a (ir)responsabilidade da decisão radica em Costa e em Medina. Mas isso são outros palcos, bem mais caros que este…

Pena é que o cândido Costa (não confundir com o ex-jogador, honesto, sério e competente) que deu a entrevista à RTP ainda esta semana, nunca venha a ser primeiro-ministro, estando o lugar atribuído a um homónimo que só colecciona desgraças, e tudo seria diferente. Pode ser que um dia apresente baixa, sob compromisso de honra, e o povo lhe dê a merecida maioria! (Juro que não era piada…).