Purgas políticas: PS

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O líder socialista António Costa prepara-se para uma campanha eleitoral dura, de ganhar ou perder. A oposição suspeita de que a estratégia socialista passe por dramatizar em seu proveito as sequelas da pandemia e o clima de triunfo (cada vez mais “tremido”) criado em torno da detenção do antigo banqueiro João Rendeiro. Rui Rio foi claro na sua acusação: o triunfalismo algo despropositado do director da PJ não teria tido lugar se não estivéssemos à beira de eleições legislativas.

Seja como for, e à cautela, António Costa conduziu com mão de ferro o processo de formação das listas de candidatos a deputados. As principais figuras do Governo (na verdade, quase metade do Executivo) foram colocadas em lugares potencialmente elegíveis dessas listas. E ao ‘aparelho’ partidário Costa foi buscar apenas políticos fiéis e ‘apparatchiks’ de obediência indubitável.

Desde logo, para evitar escândalos que pudessem pôr em causa a eficácia da campanha socialista, Costa afastou todos os deputados anteriormente apanhados no “caso das moradas falsas”: Elza Pais, Nuno Sá e Fernando Anastácio. Para além disto, poucas são as novidades, pois a direcção do PS está apostada em fazer passar uma imagem de continuidade e coesão em torno do Governo. 

Entre os 12 ministros candidatos a deputados, sete são cabeça-de-lista, o que sucederá também com alguns dos 19 secretários de Estado que irão a votos. Além de António Costa, cabeça-de-lista por Lisboa, o PS apresenta como cabeças-de-lista Marta Temido (Coimbra), Pedro Nuno Santos (Aveiro), Ana Abrunhosa (Castelo Branco), Ana Mendes Godinho (Guarda), Alexandra Leitão (Santarém), Augusto Santos Silva (Fora da Europa) e Tiago Brandão Rodrigues (Viana do Castelo). Em outros lugares das listas concorrem ainda Matos Fernandes (Porto), João Gomes Cravinho (Setúbal), Mariana Vieira da Silva (Lisboa), Graça Fonseca (Lisboa) e Maria do Céu Antunes (Santarém).

Ana Catarina Mendes, a secretária-geral adjunta e potencial candidata à sucessão da liderança, será cabeça-de-lista por Setúbal, círculo que perde o polémico Eduardo Cabrita, que para já se afastou da ribalta. José Luís Carneiro, outro secretário-geral adjunto, será cabeça-de-lista por Braga.

Assis ignorado

O presidente do Conselho Económico e Social (CES), Francisco Assis, a mais autorizada voz da “ala direita” do PS, não foi incluído em qualquer das listas de candidatos. Na comunicação social o nome de Assis fora referido como certo entre as escolhas de Costa, que assim daria um sinal de querer unir as hostes do seu partido, e até se chegou a admitir que o líder o propusesse para a presidência da Assembleia da República. Nessa linha, os comentadores registaram que o próprio Francisco Assis, que no passado considerara a geringonça com a extrema-esquerda uma “divergência de fundo inultrapassável”, manifestara recentemente que já não haveria “razões de fundo” para se “autoexcluir de uma participação na vida política”. Assis chegou mesmo a falar publicamente sobre a possibilidade de suceder a Ferro Rodrigues, dizendo numa entrevista: “Quem valoriza o Parlamento como eu, se um dia lhe colocassem a questão de poder eventualmente ser presidente da AR, seria incompreensível que dissesse que era uma função que não gostaria de exercer”. 

Mas António Costa foi implacável e afastou-o liminarmente das listas, não correndo o risco de ter de conviver com vozes críticas. Comentando a sua exclusão, Assis afirmou: “Não houve nenhum contacto, não falei com António Costa e não falo com ele há meses”, acrescentando não estar “minimamente surpreendido” por não constar das listas: mesmo que perceba a “expectativa” que estava criada em torno do seu nome, diz nunca ter tido “indícios” da direção do PS de que poderia ser incluído num elenco em que apenas entram indefectíveis. ■