Na semana passada expliquei em pormenor as razões por que é mentira que a economia e a governação do país estejam a conduzir Portugal em direcção ao progresso e ao desenvolvimento. Aliás, não seriam precisas muitas palavras porque a economia cresceu em média apenas cerca de 1% durante o último quarto de século, que é metade do tempo em que vivemos num regime formalmente democrático.
Durante estes últimos vinte e cinco anos, o Partido Socialista governou cerca de vinte anos e durante os restantes quatro anos o PSD de Passos Coelho teve de reconduzir Portugal à credibilidade económica e financeira perdida pela bancarrota do PS de José Sócrates. Ou seja, tudo o que o PS e António Costa possam dizer hoje acerca do progresso económico de Portugal não é verdade. Desde logo porque a economia portuguesa está a ser ultrapassada pelo progresso realizado pelos países da antiga “cortina de ferro” que iniciaram a entrada na União Europeia muito atrás de nós e o progresso económico nacional relativamente aos países mais desenvolvidos da Europa é tão diminuto que, por este caminho, levaremos setenta ou oitenta anos a chegar ao seu nível de hoje.
Recentemente, o primeiro-ministro António Costa gabou-se da estabilidade que diz ter sido obra sua, pessoal, durante os últimos sete anos. Trata-se de segunda mentira, porque como pode ser considerado estável um país que não progride economicamente, que tem dos mais elevados níveis de pobreza, com salários dos mais baixos da Europa? Ou um país, com uma Educação em permanente guerra dos professores e um Sistema Nacional de Saúde a viver entre greves e demissões dos seus profissionais e com mais de um milhão e meio de portugueses sem médico de família? Ou que estabilidade é esta em que há incêndios todos os anos, em que morrem portugueses e o património rural é destruído? Ou que estabilidade existe quando a geração mais jovem e mais bem preparada abandona o país na sua luta por uma vida melhor? Ou que economia pode ser estável com mais de 90% das empresas muito pequenas, a esmagadora maioria no sector do comércio, empresas que não crescem e não exportam? Ou que estabilidade pode existir num país que sobrevive mal, apesar de fortemente alimentado pela solidariedade dos outros países da União Europeia?
Sim, a estabilidade de António Costa é a estabilidade dos cemitérios, onde se vive sem a esperança de dias melhores e onde cada vez menos portuguesas acreditam no processo democrático para se darem ao trabalho de votar. Sim, Portugal vive a estabilidade da corrupção e de um sistema de Justiça adormecido que protege os corruptos e os videirinhos. Sim, Portugal caminha a passos largos, com a estabilidade construída por António Costa, em direcção à cauda da Europa.
É, pois, tempo dos portugueses se perguntarem quem é este homem e quem é este primeiro-ministro que durante todos estes anos criou e manteve tamanha narrativa de estabilidade? Quem é António Costa?
O povo na sua infinita sabedoria diz o seguinte: “diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. Ora António Costa andou com José Sócrates durante muitos anos e, pior do que isso, não deu por nada do que se passou em Portugal durante todo esse tempo. Nem na “PT”, nem no “BES”, nem na “Caixa Geral de Depósitos”, nem no “Millennium”, nem nas nossas relações privilegiadas com a corrupção brasileira, ou com países do tipo da Venezuela ou da Líbia. Ou, mais modernamente, com a escolha de governantes que lhe são próximos, como João Galamba, Eduardo Cabrita, Fernando Medina, Pedro Nuno Santos, Vieiras da Silva, pai e filha, que, como outros, criam ou criaram a permanente instabilidade dos muitos casos e casinhos resultantes de tudo em que tocaram.
Ao longo dos anos António Costa nunca mostrou ter uma ideia clara sobre Portugal e o seu futuro, nunca definiu ou aceitou uma determinada estratégia para o progresso e o desenvolvimento do país e se tem mostrado alguma habilidade para enganar o povo em campanhas eleitorais, o facto é que perdeu a sua primeira eleição com Pedro Passos Coelho e chegou a primeiro-ministro com o golpe de rins da “geringonça”, que se sabia era uma contradição estratégica formada por objectivos opostos, que não poderia durar. Porque se sabia não ser possível governar bem um país sendo a favor e contra a União Europeia e a Nato, ou defender ao mesmo tempo a actividade privada e a nacionalização da economia, ou distribuir a riqueza que o país não consegue produzir.
Como primeiro-ministro António Costa é um desorganizador por definição. Nunca os sectores da Justiça, da Saúde, da Educação, dos Transportes e da Administração viveram tamanha ausência de organização. Ao longo dos últimos sete anos, António Costa limitou-se a lançar cada vez mais dinheiro sobre os problemas, indiferente ao valor da organização num mundo em que o saber e os recursos organizativos crescem sem cessar. De forma altamente desorientada e desorientadora, António Costa lança sucessivos programas para a habitação, para a ferrovia, para o combate à pobreza, para Saúde, para a Educação e para os fogos, programas quase sempre desnecessariamente complexos, que ora avançam, ora recuam e que são um verdadeiro susto para quem tiver de os levar à prática. Para mais com uma administração pública com cada vez menos recursos e com cada vez mais dirigentes de origem política, os famosos “jobs for the boys”.
A corrupção representa a cereja no topo do bolo cozinhado por António Costa. À volta da corrupção António Costa construiu um muro, cujo objectivo não é o seu combate, mas mandar para a Justiça aquilo que António Costa sabe a justiça não consegue resolver. Aliás, iniciou a sua caminhada governativa por retirar da Procuradoria Geral da República Joana Marques Vidal, que ao tempo era uma reconhecida combatente contra a corrupção. António Costa não fala da corrupção e para ele a corrupção não existe ou existe em todo o mundo, tanto faz. No processo lançou no esquecimento a ética, tanto a republicana como a outra que existe entre muitos cidadãos portugueses enojados com o nível de corrupção existente, perante a indiferença do primeiro-ministro. Tal como para um antigo ministro socialista, para António Costa a ética é aquilo que vem na lei, o que é bastante interessante vindo da parte de quem fabrica as leis. Sem esquecer que os deputados que apoiam António Costa na aprovação de muitas leis foram todos escolhidos por ele, provavelmente com o mesmo critério que usou para escolher Miguel Alves como seu secretário de Estado adjunto, ou com o critério que lhe permitiu afrontar o Presidente da República no caso Galamba.
Finalmente, receio que António Costa, como primeiro-ministro, seja um caso de estudo que, estou certo, a história não deixará de fazer. Até lá António Costa recomenda: é aguentar. ■