“Sinapismo: cataplasma de efeitos revulsivos que tem por base a mostarda; pessoa impertinente.” (Dicionário de Língua Portuguesa, 9ª ed.)”

Os esquerdistas radicais no poder em Atenas cederam em toda a linha e tiveram que engolir o sapo da austeridade. Esta é a verdade, por muito que apregoem o contrário e tentem desviar as atenções com a pose estudada, as atitudes agressivas e as marcas de luxo exibidas pelo novo ídolo da esquerda caviar.

A esquerda caviar encontrou um novo ídolo. Diga-se de passagem que esta sensibilidade político-ideológica sempre foi atreita ao culto da personalidade. Dos antigos aliados no Bloco contam-se, do lado da costela marxista-leninista-pensamento Mao Tsé-tung, os crentes nos “Cinco Magníficos” (Marx-Engels-Lenine-Estaline-Mao); por parte da costela trotsquista, os adoradores da vítima da picareta de alpinista em Coyoacán; pela costela ex-PC, os veneradores do Che do poster; e da costela anarco-ecologista, os admiradores de Cohn-Bendit, que acolheu no seio da sua eurobancada o apóstata Rui Tavares, depois do ex-eurodeputado ter roído a corda ao partido que o elegeu. Gostos…

Yanis-Varoufakis-1-1Mas agora todas estas facções – e mais um punhado de políticos tresmalhados, às vezes vindos de onde menos se espera – coincidem no apoio ao Syriza grego (como antes tinham levado aos píncaros “o partido”, único nos respectivos países, da extinta URSS, da China, da Albânia ou do Vietname) e aos seus próceres, sobretudo o ministro das Finanças Varoufakis.

Não é de estranhar: este professor de Economia cedo aprendeu o bê-a-bá da política, usando a táctica da diversão para desviar as atenções dos verdadeiros problemas. Daí a preocupação em “marcar a diferença” em todas as ocasiões em que dá um ar da sua graça.

A esquerda Burberry’s

E conseguiu: a própria esquerda caviar parece que se transformou em “esquerda Burberry’s”, tal a popularidade do cachecol daquela marca de luxo inglesa exibido por Varoufakis numa das primeiras reuniões de eurocratas em que participou. Dias depois, durante um périplo por capitais europeias, as atenções foram desviadas para o sobretudo Barbour (outra marca de luxo inglesa).

Mas o autêntico “statement”, como que a gritar “podem estar todos contra mim, que eu não tenho medo de ninguém”, foi a gola levantada do blazer na recente reunião do Eurogrupo, a fazer lembrar o antigo futebolista francês Cantona, no tempo em que dava pontapés na cara dos espectadores.

O mais curioso é que esta demonstração primária de agressividade cumpriu o seu objectivo: a atitude e o discurso triunfalista esconderam a cedência de Varoufakis em toda a linha. A verdade é que a Grécia, governada pelo Syriza, vergou-se à Alemanha e ao Eurogrupo – por muito que apregoe o contrário, engoliu a austeridade.

Nesta peculiar relação com a realidade (o chamado estado de negação), faz lembrar o velho dirigente do PCP Carlos Costa, que perante a vitória da AD, com maioria absoluta, proclamava aos microfones da televisão: “A direita acaba de sofrer uma derrota colossal”…

É assim o “mago da Economia” Varoufakis, tal como o chefe do actual governo grego, Tsipras, líder do Syrisa (Coligação da Esquerda Radical) e do maior partido desta coligação, o Synapismós. A palavra grega deu origem à portuguesa sinapismo que, segundo o Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora, significa “cataplasma de efeitos revulsivos” ou “pessoa impertinente”. Em cheio.

Os emplastros

É a este sinapismo que se querem agora colar, quais emplastros, quatro formidáveis organizações de massas cá do burgo, cuja unidade imbatível promete varrer o panorama da política nacional: Livre, Tempo de Avançar, Manifesto e Refundação Comunista.

Em conjunto, assinam uma carta-aberta, entregue solenemente na Embaixada da Grécia no fim da semana passada pelos inefáveis Rui Tavares e Ana Drago, manifestando solidariedade ao “primeiro governo anti-austeridade da União Europeia”.

Mas a carta vai mais longe. Esquecendo que foram os mesmos gregos que, em 1985, tudo fizeram para boicotar a adesão portuguesa à então CEE, hoje União Europeia (só levantaram o veto mediante um cheque chorudo, conforme noticiado pelos jornais da época, mas isso agora não interessa nada…), a esquerda caviar declara que o Governo escolhido pelos portugueses em eleições livres “não nos representa”.

Não o fazendo por menos, Tavares, Drago & Companhia ameaçam: “Faremos pressão, dentro e fora de Portugal, para que o Governo de Portugal mude de posição — ou para que Portugal mude de governo”.

Que medo!

E rematam, de forma teatral, com um apelo dramático: “Caros concidadãos gregos: aguentem firmes, que vêm reforços a caminho.” Simplesmente hilariante.