A praga do “politicamente correcto” está a atingir as raias da loucura. Não falta muito para que os ‘lobbies’ esquerdistas impeçam o pobre cidadão de respirar – não vá ele “ofender” alguma minoria protegida. É a inquisição das coscuvilheiras do século XXI.
Para os fanáticos do “politicamente correcto”, este artigo está condenado a ser “ofensivo”. Talvez seja ofensivo por não respeitar o “acordês”. Talvez seja ofensivo pelas imagens que o acompanham. Talvez seja ofensivo pelo tipo de letra escolhido pelos nossos paginadores.
Mesmo que esta página saísse em branco, o artigo não deixaria de ser ofensivo para esses fanáticos, pois o papel resulta de um cruel abate de árvores. E ainda que fosse divulgado em formato digital não deixaria de ser ofensivo, por consumir criminosamente electricidade. Aliás, para muitos destes loucos, que se auto-apregoam como paladinos da liberdade de expressão, até a mera existência deste jornal é ofensiva.
Não há como fugir a este fenómeno dos nossos dias, em que tudo acaba por ser ofensivo para um pequeno grupo de pessoas que contesta só por contestar, que nunca está feliz com nada e que dita os decretos do “politicamente correcto”. São uma praga. Nada produzem, nada inventam, nada criam. Pelo contrário, tentam activamente manietar quem quer fazê-lo.
Dizem-se progressistas, mas são rápidos a censurar e a condenar, usando métodos quase medievais de prova de culpa. Afirmam-se pela liberdade, mas adoram a censura. Querem fazer justiça pelas próprias mãos e denunciar tudo e todos, mas para eles não há lei ou código deontológico. Pelo meio, retiram protagonismo a quem verdadeiramente luta pela sociedade e trabalha para a melhorar. Os níveis de parvoíce chegaram a níveis extremos, e as crianças já começam a ser doutrinadas na loucura do “politicamente correcto”. Não falta muito para que seja proibido respirar.
Queimem as bandeiras!
Em 2014, um aluno sueco foi arrastado da sua sala de aula para o escritório do director da escola. O crime de que o petiz era acusado? Vestia uma camisola com um símbolo “racista”: a bandeira nacional do seu país. É comum na Suécia, que já foi um dos países mais liberais do mundo e é hoje um dos mais afectados pelo “politicamente correcto”, as crianças serem castigadas por usarem o símbolo nacional, especialmente em locais onde haja grandes comunidades muçulmanas, visto que a bandeira apresenta a “cruz cristã”. Para espanto geral, as autoridades concordaram com a acusação feita pela escola, onde ainda hoje não se pode entrar com a bandeira do país que paga para a instituição continuar a funcionar.
Felizmente na Suíça houve mais juízo, e quando o ‘lobby’ do “politicamente correcto” fez o incrível pedido para que as autoridades retirassem a cruz da actual bandeira, alegando que “temos que nos questionar se o Estado quer continuar a apoiar um símbolo [a cruz] no qual muitas pessoas já não acreditam”, as autoridades mandaram-no à fava e os principais partidos políticos, da esquerda à direita, correram a afirmar que a ideia era uma imbecilidade.
Mas conciliar as culturas nacionais com as comunidades imigrantes tem-se revelado um problema – excepto, claro, para os militantes do “politicamente correcto”, que acham que o outro lado tem sempre razão. Agora, até o Natal querem banir: em muitas cidades norte-americanas já não se pode dizer “feliz Natal” a ninguém, mas sim apenas “felizes festas”, e nos países nórdicos a “árvore de Natal” deu lugar à “árvore das festas”. O presépio, obviamente, está banidíssimo.
Treze vítimas
Tanto na Suíça como na Suécia a comunidade muçulmana representa entre cinco e dez por cento da população e já começou a exigir continuar a ter as mesmas práticas culturais que tinha nos seus países de origem. Práticas culturais que estão, em muitos casos, em infracção dos valores ocidentais mais básicos, como os direitos das mulheres. Mas quem tiver a coragem de discutir este problema, até mesmo para auxiliar na integração destas pessoas, é imediatamente acusado de racismo, xenofobia e outros “crimes” que nos relembram o chavão “fascista” dos tempos do PREC.
Nos Estados Unidos, o problema ganhou uma dimensão tal que já morreram pessoas por causa do medo do “politicamente correcto”. Em 2009, um muçulmano abriu fogo sobre um grupo de soldados numa base militar enquanto gritava “Deus é grande” em árabe, o mesmo grito usado pelos terroristas durante o 11 de Setembro. O indivíduo em causa estava sinalizado como (citamos a expressão usada pelas próprias autoridades federais) “um bomba relógio”. Até e-mails provando a sua ligação a imãs radicais estavam na posse da polícia, que há muito o trazia debaixo de olho. Mas, por incrível que pareça, nada foi feito. Segundo o inquérito final, os responsáveis pela investigação do caso tiveram medo de serem apelidados de racistas ou de islamofóbicos. Morreram treze pessoas por causa das pressões do “politicamente correcto”.
O “crime” do piropo
O problema dos “revolucionários permanentes” é que apenas se consideram úteis enquanto estão a “revolucionar”, e no processo de revolucionar não se importam com quem atropelam. Em Portugal, o Bloco de Esquerda, o nosso partido político mais adepto do “politicamente correcto”, tentou, e ainda tenta, proibir o tradicional piropo. O caso só pode provocar hilaridade: quererão os esquerdistas do Bloco pôr a polícia a controlar, na rua, as galanterias que um cavalheiro possa dirigir a uma senhora que passa? Quererão instituir a videovigilância da fala ou um sistema de denúncia dos piropos? Se isto não é totalitarismo, que nome se poderá dar-lhe?
A via das denúncias tem corrido mal, e horrivelmente em muitos dos países mais atingidos pela praga do “politicamente correcto”. Ao ponto de os homens se terem quase tornado cidadãos de segunda categoria. Na Suécia, por exemplo, se uma mulher se zanga com um homem, basta-lhe gritar “violação”, que esse homem é imediatamente declarado culpado antes de provado inocente. A sua cara é divulgada nas redes sociais e nas televisões, é demitido, é ostracizado pela comunidade. E, no entanto, em 5.887 “denúncias” registadas em 2013, apenas 190 se provaram mesmo casos de violação.
Já nos EUA, em 2006, toda uma equipa universitária de Lacrosse (um desporto em expansão) foi suspensa da Faculdade quando a “stripper” Gail Mangum acusou os jogadores de a terem violado. Todos os jovens em causa eram brancos heterossexuais, o pior inimigo dos “politicamente correctos”, que encontraram um aliado no Procurador-Geral Mike Nifong. Em busca de protagonismo, este suposto agente da ordem declarou imediatamente a culpa dos jovens antes sequer de a polícia iniciar a investigação.
O processo foi de tal forma mal gerido pela brigada do “politicamente correcto” que a procuradoria tentou adulterar provas para conseguir a condenação. O nome dos jovens foi arrastado pela lama, e um grupo de 88 professores de esquerda chegou a fazer uma declaração de apoio à “vítima”, exigindo “castigo exemplar” para os “privilegiados”.
No fim, foi a imprensa livre e responsável que salvou o dia, quando um jornal conseguiu comprovar que a “stripper” tinha prestado, pelo menos, cinco declarações contraditórias, e que os testes de ADN atestavam que, embora tivesse havido actividade sexual, não tinha sido com nenhum elemento da equipa. Pior: veio-se a descobrir que uma câmara filmou um dos jovens a quilómetros do sítio onde supostamente tinha violado a “stripper”, algo que o procurador da esquerda radical tentou esconder. No final foi expulso da ordem, e a “stripper” veio a ser presa, embora por outros pequenos delitos, incluindo, ironicamente, abuso de menores.
Por causa da loucura do “politicamente correcto”, vários homens completamente inocentes tiveram durante dois anos a sua vida feita em pedaços.
Inquisição
As acusações sem fundamento são tantas, que os procuradores e os polícias começam a desconfiar da veracidade de todos os casos, uma versão moderna do “Pedro e o Lobo”, arriscando-se a que verdadeiros violadores escapem ao braço da lei por falta de acção dos agentes da ordem.
No caso dos piropos que o Bloco de Esquerda pretende criminalizar, bastaria uma acusação leviana para um homem inocente ser conduzido aos calabouços. Não que isso incomode muito o bando de desocupados e desocupadas que se consideram “activistas”, uma horda de guerreiros do Facebook e do Twitter, que se julgam corajosos a invadir barbearias e a atirar papelinhos a Mário Draghi.
Seria curioso de se ver grupos como as Femen teriam coragem para protestar da forma como se protesta na Arábia Saudita, onde as mulheres são verdadeiramente oprimidas.
Mas o politicamente correcto está cheio de pequenas hipocrisias, geralmente ridículas mas nem por isso menos inquisitoriais. Nem a arte foge ao “politicamente correcto”. Na Austrália, por exemplo, uma companhia de teatro baniu a histórica peça de teatro “Carmen”, escrita há 140 anos, porque a personagem principal, uma rapariga cigana espanhola, vende cigarros em frente a uma fábrica de tabaco. Os defensores desta censura alegam que a peça incentiva o consumo de tabaco, uma alegação que qualquer pessoa com o mínimo de senso comum e cultura geral imediatamente caracteriza como idiota. Mas o contexto histórico não importa para os loucos do “politicamente correcto”, e é por isso que o livro “Tintin no Congo” está prestes a ser banido e excluído das bibliotecas na União Europeia, apesar de ser uma obra desenhada em 1931, altura em que os valores culturais eram completamente diferentes dos da actualidade. Nada está a salvo.
Cobardia política
Apesar de estar comummente associado à esquerda, o “politicamente correcto” não é um fenómeno político ou ideológico, mas sim uma forma de pensar e ganhar notoriedade. O filósofo Slavoj Žižek, por exemplo, acusa os defensores do “politicamente correcto” de terem um modo de pensar “totalitário”, pois dão a ilusão de escolha às pessoas, embora apenas acreditem que existe uma resposta correcta. E estão sempre dispostos a castigar quem “erra”.
Um pouco como o caso de uma professora portuguesa que perguntou aos alunos se eles eram contra ou a favor da pena de morte, apenas para depois considerar como respostas certas os “contra” e erradas os “a favor”. Os alunos foram castigados pela sua opinião, mas casos como este são incrivelmente comuns no nosso País, onde o sistema de ensino permite muito poucos desvios intelectuais àquilo que é considerado “oficial”.
A classe política, da esquerda à direita, submete-se geralmente aos desígnios dos tarados do “politicamente correcto”, com medo de perderem votos. O Partido Trabalhista britânico chegou a ter no seu programa eleitoral o cancelamento do programa televisivo de automóveis “Top Gear” (entretanto cancelado por outra causa). Motivo desta censura a um dos programas mais populares da BBC: falar sobre automóveis, pelos vistos, incentiva “valores chauvinistas, pois a cultura automóvel está ligada a uma perspectiva antiquada da masculinidade”. E o pior é que um argumento tão caricato, uma autêntica purga estalinista, esteve quase a ser política oficial do governo do Reino Unido.
Em Portugal, os inocentes símbolos do nosso antigo império guardados, sob a forma vegetal, num jardim de Belém estiveram quase a ser apagados por decisão da Câmara de Lisboa, mais precisamente por obra do vereador Sá Fernandes, que considerou uma parte da história nacional como “ultrapassada” e “imperialista”.
Os nossos governantes precisam de acordar para o facto de que estas pessoas não têm qualquer ideologia, são apenas as coscuvilheiras de aldeia do século XXI. Seguem qualquer moda que lhes apareça à frente, sendo hoje “Charlie” e amanhã outra coisa, nunca tendo qualquer profundidade naquilo que defendem. A sua força deriva apenas do megafone das redes sociais, não tendo uma verdadeira base de apoio: apenas gritam mais alto. E é moda.
O “politicamente correcto” é uma doença da sociedade moderna. Se queremos que o bom senso regresse, temos urgentemente de deixar de dar atenção aos novos inquisidores. Eles não a merecem.