MIGUEL MATTOS CHAVES

Análise sobre os portugueses e sua atitude face à política, sobre a recente coligação CDS-PSD e as razões pelas quais nas próximas eleições nada mudará.

Neste artigo pretendo, em primeiro lugar, fazer uma pequena reflexão sobre o que tem sido a atitude dos portugueses face ao sistema político e a sua cumplicidade na subversão do sistema democrático que representa o denominado “voto dito de útil”. Vejamos então o que se tem passado nesta III República.

Verifico, com muita pena, que os meus concidadãos portugueses, preferem de forma geral adoptar as seguintes atitudes:

  • “Descansar” no poder político, as decisões fundamentais que afectam as suas vidas;
  • Preferem transferir as suas responsabilidades para o sistema político,
  • Preferem não actuar e preferem deixar que actuem em seu nome para não terem que participar activamente. Ou seja, não querem maçar-se e sair da sua “zona de conforto” ou das suas rotinas diárias.

Quando pretendem a mudança, quando estão descontentes. O que fazem? Quando querem encontrar um novo líder e uma nova equipa (o que é um facto da actualidade) não se dispõem a fazer nada, a não ser falarem muito, queixarem-se muito, dizerem muito mal de tudo e todos. Mas mesmo isto só nos cafés, nas redes sociais, em jantares ou almoços com amigos, e pouco mais.

Mas não se dispõem a organizar-se e trabalhar para ajudar a levar ao poder diferentes pessoas, diferentes equipas, com diferentes propostas.

E mesmo que apareçam novas pessoas, com novas ideias, com novas propostas, logo se ouvem e lêem várias desculpas que as pessoas dão, normalmente, e que podem resumir-se nos seguintes argumentos:

  • “É uma pessoa muito capaz, séria, com boas ideias, mas não tem hipótese de lá chegar, pois as sondagens, etc.”
  • “Não é dum partido grande”, logo não vale a pena votar nele(s), etc.
  • “São pouco conhecidos” querendo com isso dizer que os jornalistas (das televisões, rádios e imprensa) não os entrevistam e daí não vale a pena votar nele/(s), ou seja, as pessoas transferem os seus direitos de escolha, para a escolha que os meios de comunicação fazem.

Porque será que os portugueses pensam que a opinião dos jornalistas (cidadãos como você) é melhor que a sua?

Outro argumento muito ouvido e lido é: “Não sou político”, isto é, a política é para os outros eu só voto ou eu só me abstenho. Com esta atitude transferem os seus direitos de escolha para outros, para os “políticos”, esquecendo os seus próprios direitos políticos de escolher através do voto quem os governará.

E assim, com estas atitudes, as pessoas deixam que outros decidam por si as suas vidas.

E com estes falsos argumentos, desistem de tentar organizar-se para levar ao poder novas pessoas, novas equipas, novas ideias, novos projectos, que queiram mudar a forma de governar a sociedade, e desprezam outras formas de encarar o serviço à comunidade, ou seja, aos portugueses;

E quando, em eleições, quando lhes é dado o seu único instrumento de mudança – o voto, o que fazem os portugueses?

A realidade tem demonstrado que os portugueses votam no “seu clube” (partido) sem qualquer espírito crítico e sem cuidar de analisar se os ocupantes do poder delegado por eles (portugueses) actuaram bem, ou não, se governaram bem, ou não, e se são, ou não, merecedores da sua confiança novamente em futuras eleições. Isto é, se são, ou não, merecedores de terem novamente o seu voto, a sua confiança.

A demonstração empírica, a realidade destes factos, a análise demonstrativa do que acima digo, está aliás feita.

Vejamos porquê. De há 40 anos a esta parte alternam-se no Poder o PSD e o PS que assim se apoderaram de Portugal e da sua riqueza. Isto com o voto ou a abstenção dos portugueses.

Ou seja, a maioria das pessoas têm votado, à vez, (em termos ditos “úteis”), num ou noutro. Isto, muitas vezes (demasiadas) com o argumento do chamado “voto útil”.

Ora, como está verdadeiramente demonstrado pela realidade dos factos, o “voto útil” só é útil para quem o recebe e não para quem o dá. Na verdade, está mais que demonstrado que o “voto útil” não tem sido útil para a esmagadora maioria dos portugueses que o depositam nas urnas de voto. Como aliás se tem visto, de há 40 anos a esta parte.

Um sistema político bloqueado

Dito isto, deixo aqui uma pergunta para reflexão: qual tem sido a utilidade, para Portugal, de termos o “centrão dos interesses” a governar o País, em que só mudam as pessoas e não as ideias, em que só mudam as pessoas e não os métodos, em que só mudam as pessoas e nem mesmo os programas ou os seus efeitos na população?

Em resultado desta actuação dos cidadãos portugueses, verificamos que o sistema político está bloqueado, com a cumplicidade, e por vontade, dos portugueses.

Em consequência tenho alguma dificuldade de perceber porque se queixam tanto. O normal da vida é que quando uma pessoa se queixa fá-lo porque se sente mal com o que lhe estão a fazer. A consequência normal do sentir-se mal ou desagrada faz com que as pessoas normais queiram mudar, e fugir do que lhes provocou a queixa. Mas não tem sido isso o que se verifica, pois, à vez, votam maioritariamente apenas num ou noutro dos partidos do “centrão”.

Sabendo muito bem de toda esta situação de facto, instaurou-se na mente dos ocupantes dos lugares de cúpula dos dois partidos um sentimento de impunidade. Isto é, de estarem acima de tudo e de todos, o que tem dado os resultados que estão agora à vista.

Por outro lado, esta situação de inexistência de alternativa, por vontade dos eleitores e não dos políticos (justiça lhes seja feita), tem levado estranhamente a um sentimento crescente de desânimo por parte de muitos cidadãos portugueses. Tal facto tem levado mesmo a uma abstenção cada vez maior, dando assim um sinal de desinteresse, mas também de desresponsabilização, ou seja de não quererem saber do poder. Ou seja, queixam-se muito mas ou votam nos mesmos ou abstêm-se.

Ora a abstenção favorece, de facto e na prática, quem ganha, dado o método de Hondt que é utilizado em Portugal para escrutinar os resultados das eleições. E por isso o poder finge que nada se passa.

Daqui deriva a conclusão inevitável, embora dura e crua, de que a falta de cultura política da população portuguesa é um facto. Com 41 anos de sistema democrático é pelo estranho que assim seja. O que é curioso é que os oposicionistas do regime da II República, ou Estado Novo, clamavam por uma maior formação política dos portugueses. O que se verifica é que depois de assentes no novo poder “democrático”, a situação se manteve ou até se agravou. Se não vejamos, os detentores do poder político ou as cúpulas dos principais partidos, promovem uma desinformação constante, promovem a contra-informação e estimulam a deturpação da História, etc. Com que finalidade?

E tudo isto é aceite com indiferença e de forma voluntária, pela esmagadora maioria da população.

Consequências do abstencionismo generalizado

Posto isto, vejamos algumas consequências desta situação de facto. Com esta actuação da maioria dos portugueses, o poder tem feito o que quer, desembocando no actual “neoliberalismo repressivo” (no dizer do Prof. Adriano Moreira) que está a empobrecer os portugueses em geral. A brutal carga de impostos sobre quem trabalha e sobre os reformados e pensionistas, tirou-lhes dinheiro que lhes faz falta para a sua vida particular. O argumento utilizado pelos detentores do poder e seus comentadores avençados, é de que não havia alternativa. Havia, mas não agora vou entrar por aí.

Esse dinheiro (de cada um dos portugueses) desta brutal carga de impostos (que se tem vindo a agravar, pela mão dos sucessivos Governos, desde há vários anos a esta parte) tem servido para “engordar” as estruturas do Estado, e têm sido aplicados em rotundas, pavilhões gimnodesportivos construídos em aldeias de 600 pessoas, fontanários, auto-estradas a esmo, fundações que só servem os seus donos e os ‘boys’, empresas municipais para os ‘boys’, PPP, rendas da EDP e outras, na contratação de assessores para tudo e para nada, etc.

E aparentemente os portugueses ficaram felizes com essas “obras”. Mas não perceberam que as iam pagar e caro, como agora se vê.

Com esta postura dos meus concidadãos, os detentores do poder fingem preocupar-se com a abstenção. Nas 24 horas subsequentes às eleições lamentam tão grande abstenção e proferem alguns discursos de circunstância sobre o facto. Os jornalistas dizem que é uma tendência e apresentam-na como uma inevitabilidade.

Na realidade, políticos e jornalistas, têm calmamente seguido em frente. Os eleitos para os cargos da governação pelos abstencionistas e pelos votantes, continuam sem emenda. Será que Portugal não tem emenda?

Os portugueses têm-se esquecido que a política deve ser uma missão de serviço a Portugal e aos portugueses. E por isso, têm que saber escolher quem sirva Portugal e não se sirva de Portugal. Claramente não o têm sabido ou querido fazer, tanto pela acção como pela omissão.

E parecem esquecer que os cargos políticos têm que ser temporários, para que não se adquiram vícios de poder e os consequentes eventuais abusos do seu exercício, que acabam por prejudicar Portugal e os portugueses.

Conclusão

Com esta atitude, os portugueses, não dão a oportunidade a si próprios de mudar de vida. Com esta atitude não dão a força necessária para que apareçam mais cidadãos, diferentes, com experiência de vida prática e provas dadas, que sejam capazes de desenhar e implementar uma mudança de postura no exercício da governação local, ou nacional. E com esta atitude estão a ser cúmplices no bloqueamento de Portugal. Até quando?

O Sr. primeiro-ministro insiste em não baixar impostos que pesam sobre quem trabalha por conta de outrem e sobre os reformados.

E pergunto: se as pessoas não têm mais poder de compra para comprar o que é produzido; se só com mais trocas na Economia poderão existir mais empresas e mais empregos, logo mais cobrança de impostos pela quantidade das trocas e não pela unidade, como nestes quatro anos; se a soma das trocas, tem como resultado final o PIB; se quanto maior for o PIB, menor é a percentagem de défice; qual é a sua dúvida Sr. primeiro-ministro? É propaganda política da moda? Ou é apenas ignorância pura e simples?

Por último, gostava de lhe perguntar: foi V. Exa. eleito pelos portugueses para defender os interesses dos portugueses e promover o seu maior acesso a uma vida melhor? Ou foi eleito pelos eurocratas de Bruxelas?

Só há desenvolvimento com crescimento. Para haver crescimento tem que se somar três condições de base e não duas:

  • Mais poder de compra, logo menos impostos;
  • Mais exportação, não ao alcance de nenhum Governo mas sim do trabalho das empresas;
  • Mais investimento, sobretudo na Indústria. Não ao alcance de nenhum Governo mas sim das empresas.

A conclusão é óbvia e não necessita de grandes estudos: com muitos impostos e pouco poder de compra por parte dos cidadãos, só um louco investirá em mais empresas, logo na criação de mais empregos, por falta de poder de compra dos destinatários da produção das empresas. Penso que isto é de uma mediana clareza.

Os conservadores ingleses e David Cameron

Ao contrário dos comentários pressurosos e apressados de boa parte dos “comentadores do regime”, especialmente os ligados umbilicalmente aos sociais-democratas liberais (PSD), o Sr. Cameron e os conservadores ingleses nada têm a ver com as políticas seguidas nos últimos anos pelo PSD. Aliás o partido congénere do PSD, no Reino Unido, são os liberais-democratas, que foram esmagados nestas eleições e cujo líder já pediu a sua demissão, em cumprimento de uma ética de comportamento que, muito bem, existe no Reino Unido.

Como aliás se pode ver pela análise séria das medidas tomadas ao longo do seu anterior mandato; Como também se pode ver pela análise séria das medidas que propõe para os próximos cinco anos de mandato; a política e a prática seguida pelos conservadores britânicos têm tudo a ver com a linha conservadora portuguesa e muito a ver com a maioria dos princípios da democracia-cristã. Nada tem a ver com a linha de Governo deste PSD; não é por acaso que, pelo menos na presidência do Prof. Doutor Adriano Moreira, Dr. Manuel Monteiro e Dr. Ribeiro e Castro o CDS-PP tenha tido relações estreitas e privilegiadas com os conservadores ingleses.

Actualmente, não sei o que se passa nessas relações. Mas suspeito que, a existirem, não serão com certeza assentes nas premissas ideológicas ou programáticas, dada a irrelevância do CDS-PP no Governo e dada a ausência dos seus valores e ideias, no programa de Governo do PSD. A subsistirem essas relações, entre o CDS e os “Tories”, creio que não serão as mais calorosas. É que os Ingleses têm uma prática da política que não permite grandes desvios.

Assim, como conservador português, é com muito gosto que endereço os meus parabéns ao Sr. David Cameron e aos conservadores ingleses pelo excelente resultado obtido nas eleições. Bem gostaria que o CDS recuperasse os seus princípios e valores e que fosse sozinho às eleições onde, ao contrário das opiniões vigentes, teria tudo a ganhar se fosse coerente. É que não creio que o maior partido da oposição seja credível, apesar do bom trabalho feito e apresentado pela sua equipa de economistas. Até quando?