Facto pouco comentado e estudado é a relevante presença de entidades filantrópicas fundadas por portugueses e que até hoje são referências na cidade do Rio de Janeiro. A começar pelos prédios monumentais, entre os mais bonitos da cidade, construções de qualidade e beleza, conservados até aos nossos dias.
A referência veio à tona com a compra, em leilão judicial, do conjunto da Beneficência Portuguesa do Rio de Janeiro pela poderosa “Rede D’Or”, com dezenas de hospitais de alta qualidade em 11 estados brasileiros, sendo que no Rio, em São Paulo e Brasília com posição de liderança, como os mais modernos do país. O grupo possui também a maior rede de clínicas oncológicas do Brasil e um quadro de médicos de renome, sendo directores médicos dos hospitais conceituados como Odilon Carvalho, João Pantoja, Marcelo London e Bruno Queirós, no Rio de Janeiro.
Na construção mais moderna já funciona o hospital Gloria D’Or, considerado um dos melhores no atendimento cardiológico da cidade. Mas o que é mesmo importante é a restauração dos prédios originais, de 1870, de rara beleza e riqueza, incluindo azulejos portugueses da maior qualidade. Nas construções restauradas funcionarão os centros de pesquisas e ensino do grupo, incluindo a Faculdade de Medicina e a Escola de Enfermagem.
Já a de São Paulo, fundada anos depois, é o maior complexo privado da cidade. Nos anos 1950, ao ter como provedor o empresário e senador pernambucano José Ermírio de Moraes, passou a ter o complexo de edifícios onde está seu principal hospital. Durante quase 40 anos dedicou seu tempo e recursos à instituição o empresário Antônio Ermírio, filho do grande benfeitor e hoje está sob os cuidados de um neto, Ricardo de Moraes. Este monumental conjunto possui mais de mil leitos e 50 salas de cirurgia com o que existe de mais moderno nos equipamentos médicos. A associação tem o título de Real, consignado pelo Rei D. Carlos.
Porém, o mais importante na história, em fase de recuperação, é a Santa Casa do Rio de Janeiro, fundada pelo Padre José de Anchieta ainda no século XVI. A construção também é rica, numa grande área no centro do Rio. Foram seus dirigentes muitos titulares do Império, sendo um deles o Marquês do Lavradio, com D. João VI. E, no século passado, personalidades como o neurologista Paulo Niemeyer – irmão do arquitecto – e o advogado Eduardo Bahouth. Uma de suas enfermarias foi ocupada pelo notável cirurgião plástico Ivo Pitanguy, que ali prestou serviços aos carentes até o fim da vida e formou toda uma geração de cirurgiões plásticos do Brasil.
Já a Ordem Terceira da Penitência, fundada no século XVII pela irmandade da Igreja de N. S. do Carmo, também mantém de pé o seu hospital no centro do Rio e com um dos mais bonitos prédios da cidade, construído no século XIX. O hospital foi inaugurado pelo Imperador Pedro II.
A Irmandade da Candelária, uma Igreja de referência no centro do Rio, do século XVII, além do riquíssimo templo, mantém um estabelecimento de ensino no bairro de São Cristóvão, fundado em 1900, também uma preciosidade arquitectónica.
Isso sem falar na jóia manuelina que é o Real Gabinete Português de Leitura, na Rua Luís de Camões, no centro histórico da cidade. E recentemente o Palácio São Clemente, que foi sede da embaixada e hoje é do Consulado Geral, que foi uma conquista do embaixador António de Faria junto do dr. António Salazar.
Tudo tem a marca da presença portuguesa, incluindo as igrejas, que no seu conjunto são superiores às das cidades históricas de Minas, de Salvador e do Recife. ■