O elogio do lucro (2)

0
655

Os países mais avançados, os mais modernos e onde as famílias vivem melhor, são aqueles países com mais e melhores empresas que geram lucros e acumulam “superavits” em vez de dívidas. Por exemplo, a Noruega aproveitou o facto de ter petróleo e gás nas suas costas para acumular lucros, no que penso seja o maior fundo existente na Europa. Ao contrário, em Portugal, os governos do PS proibiram as empresas de pesquizarem o petróleo e o gás na nossa costa, apesar de sabermos que no Algarve, a vinte milhas da costa, existem importantes reservas de gás.

Ao mesmo tempo, e como escrevi no artigo anterior, estamos muito contentes em ter mais de 90% de empresas muito pequenas, uma parte em vãos de escada, que na melhor das hipóteses dão para os que lá trabalham sobreviverem com dificuldade. Com a nota de que a esmagadora maioria são empresas comerciais, que em muitos casos vendem produtos estrangeiros, isto é, contribuem para o problema nacional de termos uma balança comercial negativa, ou seja, compramos ao exterior mais do que vendemos ao exterior.

Um dos grandes objectivos políticos nacionais, que preocupa muitos os deputados da esquerda na Assembleia da República, é combater os chamados lucros excessivos e conseguir trabalhar menos, por agora o objectivo é quatro dias por semana, objectivo a que o PS é sensível, tendo, logo que António Costa chegou ao poder, reduzido o tempo de trabalho dos funcionários públicos. Ao mesmo tempo, e em consonância com o trabalhar menos, aumenta-se a dívida, nomeadamente a dívida ao exterior, aproveitando o natural crescimento do PIB para falsamente se dizer que a dívida está a ser reduzida. De facto, estamos a deixar aos nossos filhos e netos cada vez mais dinheiro para eles pagarem, ou seja, estamos a ter em média um nível de vida que no futuro alguém terá de pagar.

Claro que este ódio ao lucro não é para todos, porque abundam na Assembleia da República, no Partido Socialista, no Governo e na política em geral, cidadãos que adoram o lucro e se afadigam para o conseguir, nomeadamente através dos mais variados métodos: empregos de favor com ordenados muito superiores às qualificações, gabinetes de advogados, leis de favor e, naturalmente, o crescimento da corrupção. Seria interessante fazer um levantamento de quantas empresas foram criadas nos últimos anos por políticos e familiares de políticos para venderem produtos ou serviços ao Estado por ajuste directo. De facto, no mundo da política todos se esforçam quando podem para obter algum lucro.

Neste processo, o poder político tem trabalhado com enorme sucesso em duas direcções distintas; (1) obter da União Europeia tanto dinheiro quanto possível e nisso trabalham com grande competência para, como disse o primeiro-ministro, poderem ir ao banco o mais rápido possível; (2) procurar a imobilização da Justiça e comprometer a sua independência, dentro do possível, em relação ao poder político, seja através de mais leis, se possível mais confusas, seja através da ausência dos meios necessários, seja através da nomeação de amigos para cargos públicos e privados e atrasar tudo o que possa contribuir para evitar os julgamentos. Por exemplo, este atraso de mais de um ano para clarificar a nomeação dos juízes a que se deve? A que se deve o aparecimento e a manutenção no cargo do juiz Ivo Rosa, apesar das suas decisões serem sistematicamente chumbadas na Relação? Ou a que se devem os problemas havidos para a nomeação do juiz para um cargo europeu? Em todas estas questões ninguém brinca em serviço.

Em Portugal convencionou-se que a justiça é lenta, ao mesmo tempo que se faz todo o possível para que seja mais lenta. Por exemplo, o que pode tornar lento o processo das golas antifogo e quanto tempo leva a saber se as golas eram boas e úteis ou não? Ou quanto tempo leva a definir se é legítimo e legal que o ex-ministro Manuel Pinho tenha recebido um “ordenado” do BES ao mesmo tempo que, enquanto ministro, tomava decisões desejadas por Ricardo Salgado? Ou o que pode fazer com que um processo de fundos comunitários, envolvendo autarcas, empresários e uma associação empresarial no norte do país, leve anos, ao ponto de já ter passado para a fase do esquecimento?

Desde sempre o Partido Socialista é um partido de advogados e não surpreende o sucesso que os gabinetes de advogados têm tido pelas mais diversas razões, como não surpreende os lucros que essas empresas, certamente com todo o mérito, conseguem. Mas será normal que o Estado deixe de ter advogados ao seu serviço e encomende leis e serviços jurídicos a entidades privadas, ao mesmo tempo que os transportes têm de ser públicos? Será normal que tantos advogados se afadiguem em recursos e em medidas dilatórias, sempre que os acusados têm dinheiro para suportar anos e anos de actividade dos seus advogados? Ou será normal que os ministros que terminam o seu serviço público nos ministérios tenham emprego nos grandes gabinetes de advogados, onde, com a legitimidade que ninguém discute, são defendidos interesses das mesmas áreas de provável conflito?

Responda quem souber. Entretanto, o actual Governo e as oposições de esquerda só aceitam que o lucro seja poucochinho e atacam as grandes superfícies por terem feito crescer os lucros. Agora, estão em vias de acabar com os vistos “gold”, por gerarem demasiado lucro no imobiliário e na construção civil. Em vez do lucro, António Costa gosta dos pobres e, não contente com os pobres que já temos, tenta importar mais pobres, não interessa se são brasileiros, afegãos ou vietnamitas, a condição é que sejam pobres, que fiquem no desemprego ou sejam explorados com salários de miséria, o que importa, repito, é que aumentem a pobreza média do país. Para isso os imigrantes podem levar anos a conseguir a sua legalização e a viver amontoados em apartamentos, para, com toda a probabilidade, ficarem pobres.

Portugal, com a sua demonização do lucro e com a sua incapacidade de assumir as evidências, aproxima-se perigosamente de um manicómio. Como sabemos, os chamados doidos afadigam-se usualmente em contrariar aquilo que os não doidos tentam fazer e assim vai a governação em Portugal. Se os países mais ricos da União Europeia pretendem generalizar o uso do comboio, nós optamos por impedir o seu uso a fim de evitar a concorrência internacional; se a Irlanda baixa os impostos e a sua economia cresce mais do que qualquer outra, nós aumentamos os impostos e estamos bem contentes por ter uma economia em estagnação há mais de vinte anos; se na maioria dos países europeus as regras do mercado são razoavelmente respeitadas, nós inventamos formas de as contrariar; se na generalidade dos países os salários crescem, em Portugal estamos a tentar que o salário médio de aproxime do salário mínimo. Etc..

Desta forma, aproximamo-nos perigosamente de um tempo em que os hospitais para doidos deixem de ser necessários.