O saque ao Sistema Financeiro

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O debate ideológico, os interesses deixados criar pelo sistema político e as culpas acumuladas estão a impedir a avaliação rigorosa do que aconteceu ao sistema financeiro português na última década, e isso está na base dos erros sucessivos que têm sido cometidos por administrações, governos e reguladores.

Desde o caso do BPN até ao do Montepio, passando pelo Millennium, BES, Banif e Caixa Geral de Depósitos, nunca foi feita uma avaliação rigorosa e competente sobre o que correu mal, isto é, nenhum dos casos serviu para evitar os seguintes.

As comissões de inquérito da Assembleia da República, como as auditorias feitas pelas mesmas empresas que coexistiram com a devastação feita, não fizeram mais do que arranhar a superfície do problema e cada partido procurou, procura ainda, evitar que as suas culpas, as culpas dos seus dirigentes e dos seus ex-dirigentes, sejam conhecidas, com o objectivo de evitar que sejam condenados na justiça e na opinião pública.

As actuais manobras do PS na Assembleia da República para evitar que se conheça o desastre em toda a sua extensão do caso da CGD e avaliados os manobrismos de José Sócrates e de Armando Vara, bem como as culpas de sucessivas administrações, são parte do ‘cover up’ realizado desde há pelo menos dez anos e que faz dos executores norte-americanos de Watergate um bando de amadores.

O caso do Montepio é agora a cereja em cima do bolo e vale a pena ler o excelente texto de José Manuel Fernandes no “Observador” para se ficar aterrado e revoltado. Gestores a contas com a justiça, relações com o BES e com Ricardo Salgado e os favores mútuos, as matrafices da OPA sobre o Finibanco, as Assembleias-Gerais com votações totalmente viciadas; e, acima de tudo isso, paira a figura sinistra de Tomás Correia e dos seus diversos acompanhantes.

Sobre esta questão, que afecta as poupanças de mais de quinhentos mil portugueses, o Primeiro-Ministro diz-se tranquilo; o Ministro Vieira da Silva, a quem cabe regular a Associação Mutualista, dona do Montepio, está calado que nem um rato; e Carlos Costa, do Banco de Portugal, como bom burocrata, lá vai adiando o inevitável com panaceias e panos quentes.

Por sua vez, o Presidente da República anda feliz e contente a contentar os portugueses com afectos e ‘selfies’.

Ora, onde será que os portugueses já viram e pagaram – de facto, vão pagar os filhos e os netos – este filme?

Entretanto, a Procuradoria-Geral da República resolveu arquivar o processo de Dias Loureiro no BPN, o qual se declarou chocado com as insinuações feitas pelos juízes.

Vejam os leitores que choque devem sentir os portugueses em presença dos ruinosos “actos de gestão” praticados por este ex-ministro e ex-conselheiro de Estado.

Em resumo, para quando a limpeza do nosso sistema político e começar a construir uma nova democracia com seriedade e verdade?