A morte da rainha Isabel II alterou compreensivelmente o foco dos meios de comunicação, centrando o interesse público um pouco por todo o mundo no desaparecimento de uma grande líder de dimensão global. Setenta anos de reinado, só por si, justificaria o sentimento geral de perda, mas a gestão feita pela rainha ao longo do seu reinado vai muito para além disso. Veremos agora em que medida o desaparecimento de Isabel II vai permitir o aparecimento de alguns problemas e conflitos no velho império britânico e, por extensão, neste nosso mal governado planeta.
Em Portugal os meios de comunicação marcam a agenda política em blocos de interesse, que tendem a eliminar tudo o resto do que verdadeiramente se passa. Do nada surgem comentadores rotulados de especialistas e os comentadores habituais desdobram-se no tratamento dos mais diversos temas com a sabedoria das grandes generalidades, fortemente influenciados por quem lhes paga. Assim, no meio deste bazar comunicacional, perde-se qualquer intenção estratégica de médio prazo, ou até apenas o tratamento organizado dos problemas nacionais. O Governo do PS adora esta situação que lhe permite ir passando por entre os pingos da chuva do esquecimento e das muitas questões mal resolvidas. O Presidente da República alimenta-se do mesmo.
Quando quase toda a gente já tinha percebido que estava a ser enganada com o celebrado e adiado programa de ajuda às famílias, supostamente mais carenciadas, eis que se anuncia a venda da TAP, como a coisa mais natural do mundo. No espaço de poucos anos a TAP foi privatizada, depois nacionalizada e agora vai ser privatizada novamente. O mesmo ministro que vendeu ao país a ideia virtuosa da nacionalização, com a acusação dos privados não saberem governar a empresa, no momento exacto em que a empresa crescia, tinha mais aviões, mais rotas e mais passageiros e com o argumento de salvar a empresa não se sabe bem de quem, prometeu a restruturação e de colocar a TAP a ganhar dinheiro, mas eis que desiste do empreendimento e procura agora, no meio da confusão gerada pela sua intervenção, os privados salvadores que o tirem dali antes que seja tarde. Pelo meio ficam uns tantos milhares de milhões de euros, que não tendo produzido nada e não tendo gerado qualquer rendimento, vão directos ao crescimento da dívida, que o Governo promete reduzir. Eis a governação socialista em todo o seu esplendor resultante da gestão de um ministro faz de conta.
O colega da Economia, durante algum tempo desaparecido em combate, surgiu agora para afirmar o estado glorioso do turismo, acusando uns tantos desconhecidos de diabolizarem a actividade turística. O ministro, que escreveu cento e cinquenta páginas sobre as muitas formas de salvar a economia portuguesa, descobriu agora que o turismo é que é a solução certa, ficando o país sem saber que mais andou o ministro a fazer durante estes meses. De facto, a única coisa que sabemos é que o desejado e necessário investimento estrangeiro na indústria foge para Espanha e que muitas empresas portuguesas com elevadas contas de energia, como a cerâmica, o vidro e outras tantas, não vislumbram qualquer solução de sobrevivência. Coincidentemente, depois do fecho das duas centrais a carvão estamos a importar a electricidade de Espanha e sem olhar ao dente, isto é, pode ser de origem nuclear, a carvão ou a gás, pouco importa o custo, desde que não existam os malfadados apagões. Assim, criámos mais uma dependência da vizinha Espanha e, depois da banca, da água e da ferrovia, temos agora a boa vontade espanhola para resolver aquilo em que António Costa não quis pensar.
Suspeito que este mesmo ministro da Economia não fará a mais pequena ideia de como irá implementar as gloriosas ideias que andou a vender ao país em inúmeras entrevistas e conferências. O elogio do turismo, cujo crescimento ninguém no seu juízo lamenta, é um bom sintoma, sendo apenas triste que o homem não fale da industrialização necessária, das exportações de que precisamos como de pão para a boca, ou de contentar a AutoEuropa e a PSA que pedem há muito uma ligação ferroviária para a Europa, factor cada vez mais determinante da sua manutenção em Portugal e do progresso das exportações em geral. Ou ainda do estado actual dos sucessos do lítio, do hidrogénio e de todas as outras tecnologias destinadas a salvar a economia portuguesa. Porque não acredito que o ministro não saiba que o turismo é uma actividade de risco elevado, que pode desaparecer numa qualquer volta da história e que tem uma notável contribuição para a baixa produtividade nacional e para os baixos salários de que tanto se queixa o primeiro-ministro. É desta forma que nos governos socialistas as formigas se transformam em cigarras.
A inflação, que seria passageira, veio para ficar e, como habitualmente, enriquece falsamente o Estado e empobrece os portugueses. Ora como o Estado, de parceria com o PCP e o Bloco de Esquerda, andou cinco anos a distribuir o que não tinha e a descobrir que trabalhar menos era uma necessidade nacional, o Estado em vez de contribuir para o crescimento da economia, agravou ainda mais um sério problema de estagnação económica que já leva mais de vinte anos. Claro que é preciso mudar de vida, mas, como António Costa insiste em esclarecer, a solução de todas as coisas está no programa do Governo e para isso não são precisos governantes com ideias, mas apenas ajudantes.
Por experiência já conhecemos a coerência do primeiro-ministro, há quem lhe chame teimosia e, assim sendo, foi anunciado um novo ajudante para a Saúde, que de uma penada levará à glória o programa do Governo e sem alterações. Entretanto, o muito elogiado secretário de Estado da Saúde, lá terá feito alguma coisa que desagradou a António Costa, que se cuide, aliás, como a saúde dos portugueses.
Voltando à questão comunicacional, acontece que em Portugal os ministros aparecem e desaparecem de acordo com os temas em debate, seja a pandemia, os fogos, as ajudas do Estado, a TAP ou a morte da rainha. Fica, portanto, por saber o que anda o Governo a fazer de útil nos intervalos, já que de inútil damos por isso diariamente nas nossas vidas. As facturas da electricidade e do gás, do supermercado, da amortização da casa e do material escolar para os filhos não tardam em chegar. E, por causa, temos que os professores não chegam para as necessidades, já se sabia, mas o ministro da Educação anunciou agora que o ano escolar vai começar, pelo que mandou estudar o assunto. Depois de sete anos no ministério temos homem.
Não sei se os portugueses se dão conta, mas quatro anos é muito tempo e onze anos de Governo de António Costa são uma eternidade. Assim é fácil de prever que dentro de quatro anos a economia portuguesa estará pior e o atraso de Portugal em relação aos países europeus do nosso campeonato aumentará, assim como a saída dos jovens em busca de uma nova vida no estrangeiro e o nível de ignorância e de pobreza de largos sectores da nossa sociedade não se alterará. Se existem por aí pessoas que não concordem com esta previsão pessimista ainda bem, mas agradeço que me digam como é que com as mesmas pessoas e com os mesmos métodos se podem esperar resultados diferentes? Fico à espera. ■