Cantos de sereia

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[avatar user=”serrao14″ size=”thumbnail” align=”left” /]A entronização de António Costa está completa, após a realização do Congresso do PS, deste fim-de-semana.

Costa seguiu o caminho mais fácil e só o tempo ditará o seu êxito ou o seu fracasso.

Começou por ignorar Sócrates, não só quando manifestou a vontade de separar as emoções pessoais da política, no início do seu discurso de abertura, mas também quando “esqueceu” a excelência da governação socialista ao exaltar as virtudes “exemplares” da governação açoriana e as presidências de Soares e de Sampaio.

Na realidade, poderíamos pensar que se tratou de um lapso, mas Costa já nos habituou a que cada passo que dá é pensado e faz parte de uma estratégia definida há muito e executada com rigor e com frieza.

Na verdade, a omissão de Sócrates e do seu governo, mais do que um acto falhado, revela a fragilidade de uma estratégia e de um discurso populista de esquerda como há muito não se via na política portuguesa.

O discurso de encerramento teve direito, inclusive, à encenação da menção das mulheres vítimas de violência doméstica no corrente ano, como forma de enfatizar que o novo PS se preocupa de facto com as pessoas e com os seus verdadeiros problemas.

Na política não vale tudo, não pode valer tudo.

Foi um discurso em que, à parte a referência sempre positiva ao reforço da coesão e da valorização da cidadania lusófona, através de um novo paradigma da CPLP, tudo o resto foi “música celestial”. Não houve uma única proposta alternativa à actual política, nem, pasme-se, uma única referência ao estado em que o PS deixou Portugal em 2010, nem ao facto de termos estado sob resgate e condicionados aos ditames da Troika… que por acaso o PS assinou e a que se obrigou em nome de Portugal.

Costa continua a não oferecer aos eleitores o seu plano e a sua estratégia, assumindo que a sua imagem, o seu nome e o seu passado político são quanto basta para lhe cair o poder no colo e… com uma maioria absoluta.

Esticou no Congresso a fasquia ao máximo, declarando não fazer coligações com os partidos da actual maioria (PSD e CDS) e provocando os partidos da esquerda a serem parte da solução e não do mero protesto. Como pode a partir de agora falar em compromissos, em consensos, em buscas conjuntas de soluções para Portugal?

Mas do Congresso fica ainda a ideia que está profundamente inculcada, no espírito socialista, a ideia de que as eleições legislativas, presidenciais e tudo o mais, são favas contadas e que resta apenas esperar pela sua ocorrência. No final do primeiro trimestre de 2016 teremos um governo socialista na Região Autónoma da Madeira, na Região Autónoma dos Açores, um Presidente oriundo da área socialista e um governo socialista suportado por uma maioria absoluta!!!

Teremos um país rosa de acordo com os melhores sonhos cor-de-rosa… e quais Alices no país das Maravilhas, cada português será feliz, viverá sem austeridade, sem desemprego, sem dívida externa para pagar, com um Estado Social que tudo suprirá… e com os partidos da direita punidos exemplarmente e à beira da extinção…

Que Costa sonhe na cor que quer, é um problema seu… Mas que nos permitamos deixar-nos embalar nele como crianças, é um problema nosso.

Na realidade, cabe a cada um de nós despertar e estar atento, antes que seja tarde… Já nos deixámos embalar com outros cantos de sereia… E hoje vemos onde chegámos e quem elas eram…