Não sou Charlie Hebdo

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Condeno completamente o massacre sobre o Charlie Hebdo, o jornal satírico que durante quarenta anos publicou caricaturas e cartoons sobre os mais variados temas.

O estilo iconoclasta do jornal era criticável, ver cenas de sexo explícito, homossexual entre o Pai, o Filho, com o Espírito Santo, não o do banco mas o Divino, em forma de triângulo espetado no ânus de Cristo não é propriamente algo que reflicta bom gosto, é mais do que isso, é fortemente ofensivo e provocador.

Cartoons do Charlie Hebdo
Cartoons do Charlie Hebdo

Ver um islamita nu, de joelhos virado para Meca, com uma estrela sobre o ânus e a legenda dizendo “Maomé, uma estrela nasceu!”, é extremamente discutível e ofensivo, mesmo para aqueles, como eu, que pensam que o Islamismo é uma simplificação dos monoteísmos existentes, uma religião fácil de entender pelos analfabetos pensado por um génio do marketing religioso, precisamente Maomé, para servir de suporte espiritual a um proselitismo violento e a uma expansão do império árabe, uma religião sem problemas filosóficos, em que Jesus, visto como profeta, não morre nem ressuscita sendo levado por Deus directamente da Cruz para o Céu, onde está junto de Alá, dando ao homem a possibilidade da poligamia, para libertar varões para a expansão militar, relegando a mulher para um lugar miserável, enfim, a mais dogmática das religiões, a mais inflexível na interpretação, o Corão é escrito directamente por Deus que se serve de Maomé apenas como instrumento, ao contrário dos Testamentos judaicos ou cristãos.

No entanto, como afirma o padre Portocarrero de Almada no Jornal i, mesmo que ofensiva, o abuso da liberdade de expressão teria de ser sempre combatido através dos meios que a sociedade civilizada põe ao dispor dos ofendidos, a lei e os tribunais, não através das balas e do assassinato.

Infelizmente, apesar dos discursos pacifistas de alguns chefes religiosos, e saúdo o papel moderado do Xeque David Munir da mesquita de Lisboa, a faceta medieval, bárbara do Islão é uma das leituras possíveis do livro, uma vez que a blasfémia seria punida com a morte e é assim que, por exemplo, no Paquistão qualquer pessoa que diga mal de Maomé ou do Corão poderá pagar com a morte, entretanto reintroduzida no país.

Entramos assim num choque civilizacional, em que perguntamos: seriam os senhores cartoonistas do Charlie Hebdo culpados, de certa forma, da sua morte? A única resposta civilizada, humanista e ética é: não.

Os culpados pela sua morte foram os chefes religiosos que incitam à violência em mesquitas e inúmeras comunidades islâmicas sediadas na Europa. Os desgraçados que mataram são apenas os instrumentos de uma violência primitiva, são bandidos, a sua morte não lava em nada o crime hediondo que praticaram cujos efeitos são infinitamente superiores ao seu sacrifício.

Nessa perspectiva, o assalto ao semanário francês é um sucesso militar e psicológico sem precedentes, cem mil homens envolvidos nas operações, helicópteros, veículos de transporte de tropas, vigilância electrónica, um sem fim de meios para localizar e deter três homens com algumas armas que se compram no mercado negro por umas centenas de dólares.

Um continente fechado sobre o seu medo e, sobretudo, o pensamento de que escrever livremente é perigoso e que devemos escolher as palavras quando abordamos certos assuntos, são, provavelmente, o maior sucesso deste ataque miserável e cobarde.

A solução para este problema parece-me simples e poderá limitar a violência mesmo a curto prazo. Penso que a resposta correcta dos serviços secretos (e a raison d’État é a principal razão de existência dos serviços secretos, filosoficamente assentes no facto de que travamos uma guerra não declarada) seria eliminar cirurgicamente os imãs, xeques, e outros chefes religiosos que apelam à violência, geralmente cobardes, incapazes de pegar em armas mas capazes de usar os jovens, incluindo crianças, em nome dos seus inconfessáveis interesses.

A única linguagem que estes senhores conhecem é a da violência e, abrigados no conforto das suas mesquitas, servidos nas suas mordomias pelas suas pobres comunidades, certamente pensariam muito bem antes de mandar para o matadouro os jovens das suas comunidades se a tolerância ocidental pela sua incitação ao ódio fosse radicalmente punida.

Somos todos Charlie Hebdo? Não, não somos, considero muito do que este jornal publicava como ofensivo, estúpido e de mau gosto. Nunca poderei afirmar que sou aquele esterco; no entanto, serei Charlie Hebdo, se isso for entendido como uma afirmação metafórica de que defendo a liberdade de expressão.