Podem não saber. Mas então não falem. Ninguém pode pressionar Passos Coelho. Cumpriu tudo o que apresentou ao eleitorado no seu primeiro mandato e só não avançou plenamente para o segundo por causa do “golpe” de António Costa.
Em suma, quando no descalabro de José Sócrates o país andava, na versão popular, “Ó tio, Ó tio”, teve a coragem de se chegar à frente e de dizer: Eu sou o Tio.
Depois foram anos de chumbo, anos de “troika” a tentar “curar” a bancarrota dos executivos do PS, então assegurados por Sócrates, que ainda aguarda julgamento. Se o país continuar a ser o que sempre foi a prescrição deve ser o destino do processo. Dizem que já era assim com D. Afonso Henriques. Não sei.
Mas, a que propósito se escreve hoje sobre Pedro Passos Coelho? Apenas por Marcelo Rebelo de Sousa ter falado nele. E que disse o PR, como se soubesse?
Palavras de Amarante
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse, em Amarante, que o país ainda “deve esperar muito do contributo” do antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.
“Sendo tão novo (Pedro Passos Coelho), o país pode esperar, deve esperar muito ainda do seu contributo no futuro, não tenho dúvidas”, afirmou aos jornalistas, observado que a “resistência” do ex-chefe do Governo no período da “troika” é reconhecida dentro e fora de Portugal.
“O país deve, num período muito difícil de crise na ‘troika’, ao primeiro-ministro Passos Coelho, uma resistência, que ainda há dois dias pude ouvir ser elogiada pela boca da então chanceler Angel Merkel. Portanto, é reconhecida cá dentro e reconhecida lá fora, é um facto”, acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa.
As declarações do Presidente da República aconteceram à margem da cerimónia que assinalou o início das comemorações do centenário de Agustina Bessa Luís, às quais assistiu o antigo primeiro-ministro.
No seu discurso, o chefe do Estado dirigiu-se ao “senhor primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho”, que estava sentado na primeira fila das dezenas de pessoas que assistiam ao momento.
“Lembrar quanto Portugal lhe deve no passado e quanto Portugal está seguro de lhe vir a dever, muito mais, no futuro”, disse.
Pedro Passos Coelho, 58 anos, presidente do PSD durante oito anos (2010-2018), foi primeiro-ministro de 2011 a 2015, durante os anos de intervenção da “troika”.
Desde então afastou-se da política activa, tendo sido raras as suas intervenções públicas.
E daí?
Sempre achei curiosas as análises dos chamados “passólogos”. Claro que o Presidente da República não está neste ridículo lote de gente que ganha a vida a dizer o que não sabe.
Lembro-me de estes “passólogos” terem surgido logo após a posse de Passos no XIX Executivo Constitucional, tipo moscas a tentarem o seu quinhão num país exangue.
Como se alguém soubesse o que ele pensa – e sempre o conheci a pensar muito – e ainda menos pudessem adivinhar quais serão os seus próximos passos.
É difícil entender o percurso de um homem livre. Não lhe advinha o futuro, mas com um pouco de trabalho (que não são capazes de ter) podiam reparar que fez muitas e muito diversas coisas nos seus anos de vida.
Hoje e amanhã
Hoje e amanhã o grande plano de Passos é o mesmo de sempre: ser feliz.
Sim. Gosta de política desde miúdo, mas foi-se apaixonando por outras coisas.
De Verão costuma tomar banho de mar e comer grelhados e ostras.
Dizem-me que também tem mais tempo para falar com as filhas e com os amigos. Aproveita a pausa estival para carregar baterias na praia que escolheu há muitos anos. E para fazer festas ao cachorro, que entrou na família há escassos meses, mas já faz das suas.
Do ponto de vista profissional – tem mesmo de trabalhar para pagar as contas, pois não pertence ao cortejo dos que se serviram do Estado – está a ensinar Políticas Públicas a alunos de licenciatura, de mestrados e de doutoramento.
Nos doutoramentos tem vários alunos africanos, o que o deixa visivelmente feliz. Nasceu, por acaso, em Coimbra, mas a sua juventude foi em Angola.
Uma infância marcada pela liberdade de movimentos ainda muito catraio.
Por isso, tentarem manietá-lo é não só idiota, como impossível.
Passos tem a felicidade única de gostar de si como é, mas tentar todos os dias ser ainda um pouco melhor.
Há viúvos e viúvas de Passos Coelho? Sim, existem pelas mais variadas pessoas, razão pela qual nada justifica que se tente entrar nas cabeças destes portugueses. Lá terão a sua “explicação”.
O futuro do país – nesta época de incerteza – é tão incerto como o que vai Passos Coelho fazer no domínio da política.
Uma coisa é certa: aos portugueses ele não deve nada. ■