Um Governo que não nos serve

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Hoje, a pedido de várias famílias e amigos socialistas, não irei atacar o seu partido em si mas antes o governo inteiro, já que a gravidade da situação é de tal ordem que não restará qualquer margem nem espaço nesta página para atacar o colectivo causador, ainda que esteja implícito, como habitualmente; muito menos perder tempo com retrospectivas anacrónicas ou sequer preambular e discernir sobre o ponto de partida e o caminho que seguimos para estarmos como estamos, como o fiz em anteriores artigos. O certo é que chegámos e agora, como dizem alguns… é lidar.

Feita a ressalva e o aviso à navegação, tempo agora de olhar resumidamente para toda esta rica “silly season”, não porque ao contrário do que seria de esperar, nada aconteceu (tendo os ‘Media’ não raras vezes de criar factos políticos, para alimentar a máquina noticiosa), como era apanágio desta época do ano, mas porque tudo, do mais gravoso ao mais grotesco, tem estado a suceder nesta temporada idiota e, o que é pior, continua a acontecer no exacto momento em que escrevo este texto, com a placidez e porque não dizer, a anuência do actual Presidente da República e irá, infelizmente para todos nós, prolongar-se e ampliar os seus efeitos no futuro, dada a já mais que notória incapacidade de solucionar os inúmeros problemas que temos pela frente, por parte daqueles que os criaram e alimentaram através de acções sucessivas desconectadas da realidade ou, na maior parte dos casos, inacções e até omissões convenientes e oportunas à sua manutenção nos cargos.

O incêndio (permitam-me a expressão) avassalador, que grassa em todas “as pastas”, que ameaça Portugal e a vida em múltiplas áreas dos portugueses, encontra terreno fértil e oxigénio abundante para deflagrar sem limites, na incompetência dos vários Ministérios, sem excepção, que irão, ao que parece, na sua maioria, ocupar um mesmo espaço, deixando assim “de dividir o mal pelas aldeias”, como até aqui, e concentrar toda a loucura e inépcia a que já nos habituaram em um só espaço, pode até ser positivo pois como diria o povo “só estragam uma casa”.

Ironias à parte, o certo é que o racional implícito na proposta, que consistiria na concentração e partilha de informação mais célere dos vários Ministérios e áreas poderia até fazer sentido, não fosse o facto de que os actuais actores no Governo não têm assim tantas boas experiências para partilhar, muito menos saber fazer, “soft” ou “hard skills”, como se diz na gíria de Recursos Humanos.

Se não vejamos, olhando e focando somente nos últimos dois, três meses, deparamo-nos com um momento trágico para a maioria dos portugueses – a ameaça felizmente ainda não consumada – da falência generalizada de todas as conquistas plasmadas na Constituição Portuguesa, seja no direito à habitação de todos os cidadãos, que é posta em causa pelo aumento das taxas de juro e Euribor e do aumento do custo de vida provocado. É certo, por factores externos, mas agudizada pela falta de preparação para o momento presente das nossas contas públicas, que estão totalmente desequilibradas do ponto de vista económico, a começar pela nossa balança de exportações que já se encontra a níveis de 2011, assim como a nossa falta de produtividade e a volatilidade da nossa economia sempre eterna dependente do Turismo. Seja na protecção do indivíduo e sua respectiva família a partir do seu património imóvel, “o seu abrigo”, que um pouco por todo o país foi posto em causa nestas últimas semanas, devido a um planeamento desastroso e deficitário, quer por falta de meios, quer por incapacidade demostrada da tutela de afrontar os “lobbies”, controlar e monitorizar os espaços e precaver situações desta magnitude. Seja pelo falhanço que daí adveio de protecção do património natural de todos nós, onde o total de área ardida foi mais uma vez avassaladora, (ainda que os modelos matemáticos do Governo se regozijem de contentamento pelo excelente trabalho). Seja na falência de todos os órgãos vitais do Serviço Nacional de Saúde e dos próprios utentes, com taxas de mortalidade anómalas e inexplicavelmente altas para esta época do ano, em comparação com períodos homólogos, ou, o que é mais grave, porque já existem médicos que ao perceberem que não conseguem, por falta de meios, cumprir o juramento honroso de Hipócrates, feito no início das suas carreiras, vendo-se dessa forma obrigados a pedir escusa de responsabilidade. Seja mais recentemente na área da Educação, onde um número avassalador de professores está em risco de não conseguirem ser colocados. Seja ainda em todos os processos atabalhoados e simplesmente trapalhões que o Governo se apressou a fazer para resolver estas e outras questões de enorme gravidade, as quais se multiplicam dia-a-dia, como é o caso do preenchimento de vagas discricionárias e arbitrárias de profissionais sem qualquer tipo de orientação estratégica e que põe a nu a total incapacidade de gestão, quando a realidade se impõe devido à situação de ruptura a que os serviços estão voltados. 

Seja porque razão seja, o facto é que este Governo já provou vezes e vezes sem conta que não nos serve em nada nem para nada, que nos empobrece, tira-nos a paz e a dignidade, põe em causa o nosso trabalho e saúde, coloca-nos em situação limite e por vezes até risco de pobreza, não nos protege a nós, muito menos ao nosso património, impede-nos de progredir, ao cobrar as mais altas taxas, quer individuais, quer colectivas, para alimentar o seu séquito e distribuir aquilo que não produz; rodeia-se e contrata académicos e pessoas visivelmente mal preparadas, designadas de “especialistas” para ocupar pastas de enorme relevância política e responsabilidade, sem ter em conta o real interesse público, que deveria ser a bússola dessa escolha, escuda-se e desculpabiliza-se sempre com a mesma lengalenga já gasta, de que a culpa é dos factores externos aos quais, a clarividência deles é alheia.

Em suma, faz tábula rasa de tudo aquilo para o que paradoxalmente foi mandatado: a protecção dos direitos mais elementares do cidadão comum e a manutenção de um Estado em que prevaleçam os direitos dos cidadãos.

O espanto não é a situação chegar ao ponto a que chegou, o espanto é ver pessoas a banhos e em férias à medida que os seus direitos são cortados e postos em causa em toda e qualquer área, mas mais espantoso ainda é o facto que um Governo que não nos serve, nem servirá como já se viu, continuar há tantos anos a não nos servir, sem que venha alguém definitivamente reivindicar, de uma vez por todas, que se eles não servem e, que como tal, devem ser definitiva e liminarmente substituídos por alguém que sirva, sob pena de que daqui a uns tempos já não seja mais necessário, pois não haverá nada para preservar das conquistas herdadas com tanto sacrifício por todos nós. ■