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A rainha que abriu as portas de prisões e conventos para libertar centenas de portugueses perseguidos pelo Marquês de Pombal, mandou erguer a Basílica da Estrela, jóia de Lisboa e do património nacional, e, já doente, atravessou o oceano para garantir a independência do império e preservar a dinastia, morreu faz dois séculos.

Morreu no Rio de Janeiro, mas os seus restos mortais repousam no templo que mandou construir na capital do império, em devoção do Sagrado Coração de Jesus, um dos primeiros, a nível mundial, dedicados a este culto. Mal se sentou no trono, D. Maria I (1734-1816), a primeira mulher reinante em Portugal, começou a reconciliar a família portuguesa, dividida e magoada pelo longo consulado autoritário do Marquês de Pombal, ministro todo-poderoso durante a maior parte do reinado de seu pai, D. José I.

Logo nos primeiros meses, em 1777, D. Maria fez jus ao cognome com que passaria à história, a “Piedosa”: publicou um indulto que libertou quase 800 cativos, desde membros da aristocracia, sobretudo parentes dos marqueses de Távora, e do clero, incluindo o bispo de Coimbra e sacerdotes da Companhia de Jesus, até muitos populares.

Viradeira

O ciclo político que se seguiu ao afastamento de Pombal ficou conhecido como a Viradeira: “viraram” os governantes, a nobreza, abatida e desmoralizada pelo patíbulo de Belém, recuperou poder e influência, encabeçada pelo rei D. Pedro III, marido e tio da rainha.

Muito importante – e com graves consequências – foi o regresso da igreja à esfera do poder. D. Maria era muito zelosa na sua prática religiosa. O seu confessor, frei Inácio de S. Caetano, arcebispo de Tessalónica e inquisidor-geral, verdadeiro mentor espiritual da soberana, conseguia, no entanto, moderar os exageros da devoção de D. Maria. A rainha gastava fortunas astronómicas com as suas intenções, designadamente o envio anual de 40 mil cruzados para a conservação dos Lugares Santos em Jerusalém e a construção da Basílica e Convento da Estrela, em Lisboa, entre 1779 e 1790.

O zelo, que a muitos parecia excessivo, tinha uma explicação: reparar as “ofensas” à igreja católica cometidas pelo marquês de Pombal e permitidos por D. José I – cuja alma estaria, por isso, a padecer penas eternas. D. Maria mandou reabrir o processo dos Távoras, que foram reabilitados, menos o duque de Aveiro. Curiosamente, a rainha absteve-se de autorizar o regresso formal dos jesuítas, não obstante a insistência de D. Pedro III. Contudo, deu ordens para que fosse tolerada a acção dos padres da Companhia.

Dor e loucura

Três perdas em dois anos abalaram de forma irremediável o espírito de D. Maria I. Em 1786, enviuvou e, em Setembro de 1788, ficou devastada com a morte do filho mais velho e herdeiro, D. José, príncipe do Brasil, vítima de varíola, com apenas 27 anos.

Poucos meses depois, em Dezembro, perdeu o último consolo espiritual quando morreu D. Frei Inácio de S. Caetano (sepultado na sacristia da Basílica da Estrela, a poucos metros do túmulo da rainha). O novo confessor régio e inquisidor-geral foi o bispo do Algarve, D. José Maria de Melo.

Ao contrário de frei Inácio, o novo confessor, em vez de acalmar a soberana, atormentava-a, recordando-lhe as penas que o seu pai, D. José, estaria a sofrer no Inferno por ter consentido na política de Pombal. No Verão de 1789, as notícias trágicas da revolução francesa colheram-na num estado de grande vulnerabilidade psicológica.

Com sintomas cada vez mais agravados de perda da sanidade mental, D. Maria foi submetida aos tratamentos possíveis na época. Foi sangrada e levada a banhos até que, a 10 de Fevereiro de 1792, uma junta constituída por médicos afamados emitiu um boletim segundo o qual a rainha não estava em condições de reinar, por razões de saúde.

Partida para o Brasil

Por força da incapacidade da mãe, o príncipe herdeiro D. João assumiu as responsabilidades do Governo. No entanto, só ao fim de sete anos, em 1799, passou a usar o título de príncipe regente.

Para não exibir publicamente a loucura da monarca, D. Maria ficou confinada ao palácio. Apareceu ao povo de Lisboa pela última vez a 27 de Novembro de 1807, durante a partida da família real para o Brasil. Com os invasores franceses às portas da capital, a corte embarcou em massa nos navios postos à disposição para o efeito pelos aliados ingleses. Conta-se que, no meio do pânico generalizado, D. Maria foi quem aparentou mais juízo, mantendo a dignidade até ao fim: “Mais devagar! Diriam que fugimos.”

Morreu no Rio de Janeiro, a 20 de Março de 1816, com 81 anos. Desde o ano anterior que, mesmo sem ter consciência disso, ostentava o título de rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Em 1821, os restos mortais de D. Maria I regressaram a Lisboa, trazidos pelo seu sucessor, D.João VI, para serem sepultados na Basílica da Estrela.

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