Em ano de eleições, António Costa conseguiu o “milagre” de conciliar a disciplina orçamental com um aumento no financiamento dos campos sociais que favorecem o PS, graças a uma política que deixa os restantes serviços à míngua. No entanto, sempre cautelosos com a imagem, os socialistas fogem da palavra “austeridade” como o mafarrico da cruz.

Os jogos de semântica do Governo continuam sem fim à vista. António Costa prometeu “virar a página da austeridade” na campanha eleitoral para as eleições legislativas – nas quais foi vergonhosamente derrotado – mas os números duros e reais mostram que ela continua, e em força.

Segundo a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), há oito anos que não existiam tantas “cativações orçamentais”, a expressão tecnocrática para “cortes”, ainda que o primeiro-ministro tente dar-lhe um significado mais simpático. Apanhado em flagrante a cometer o crime (especialmente para o povo de esquerda) de “austeridade”, António Costa tentou deflectir as acusações, debatendo inclusive o significado da palavra “corte”. As habilidades a que o aperto do cinto obriga…

Certo, certo, é que o aval do ministro das Finanças, Mário Centeno, se tornou cada vez mais indispensável para libertar verbas destinadas a despesas correntes do Estado. Ao longo de 2016, foi pedida a sua assinatura para um total de quase dois mil milhões de euros, mas o super-Mário do Tesouro nacional só se dignou rubricar metade.

O uso e abuso deste poder extraordinário do ministro das Finanças está relacionado com a necessidade de o Governo do Partido Socialista conseguir ter dinheiro para gastar em várias áreas “populares” para a sua coligação eleitoral, ao mesmo tempo que faz por manter as contas minimamente em ordem para que a União Europeia e os investidores estrangeiros continuem a financiar o falido Estado português.

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