Duelo por lisboa

Os partidos do centro-direita estão de acordo: Carlos Moedas é o homem certo para derrotar o socialista Medina e reconquistar a Câmara de Lisboa. A Iniciativa Liberal, agora bafejada nas sondagens, transformou-se no partido-charneira de uma “nova AD” autárquica e faz valer o seu peso nas negociações.

0
7329

Depois de receber o apoio do PSD e do CDS, Carlos Moedas já começou a negociar com a Iniciativa Liberal uma estratégia comum visando a reconquista da presidência da Câmara de Lisboa, agora nas mãos do socialista Fernando Medina. O objectivo é ‘ressuscitar’ o conceito da Aliança Democrática tão caro ao centro-direita, consolidando “uma candidatura com apoios vindos de todos os quadrantes, que una em vez de dividir”, como referiu a O DIABO fonte do CDS. Para já, existe uma palavra de ordem: “Por Lisboa, sem medo do futuro”. E garantida está já, também, a colaboração de vários pequenos partidos da mesma área política: Aliança, RIR, MPT, PPM, PURP e PDR. 

Depois de ter sido o “rosto” das negociações com a Troika e Comissário Europeu, Carlos Moe-
das candidata-se à capital, uma autarquia de onde saíram já vários Primeiros-Ministros e Presidentes da República. Engenheiro Civil de formação, Carlos Moedas tem uma particular queda para o planeamento, para a gestão e motivação de equipas, como demonstrou no dossier Troika, quando PSD e CDS formaram um governo liderado por Pedro Passos Coelho.

Tendo garantido à partida o apoio do PSD e recebido posteriormente o do CDS, Moedas pretende alargar a sua base de partida às hostes liberais, agora em fase ascendente. As conversações entre o candidato social-democrata à Câmara de Lisboa e a Iniciativa Liberal para uma eventual coligação passaram por uma primeira reunião, na segunda-feira, com o líder da IL, João Cotrim Figueiredo. Mas nada se concluiu ainda: “Ficaram previstos novos contactos até se poder chegar a uma decisão sobre a disponibilidade da Iniciativa Liberal para integrar uma coligação, decisão essa que será, em todo o caso, tomada e conhecida em primeiro lugar pelos órgãos próprios do partido”, referiu fonte da IL à Lusa.

Para este Sábado está marcada uma reunião da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal que abordará, entre outros, este tema das eleições em Lisboa. Segundo a mesma fonte, neste primeiro encontro com Carlos Moedas foi analisada a “existência de razões que pudessem levar a Iniciativa Liberal a considerar uma excepção à estratégia de apresentar candidaturas próprias” nas eleições autárquicas deste ano, as primeiras às quais o partido se apresenta.

O que se espera

De Carlos Moedas espera-se uma forte oposição a Fernando Medina, actual presidente de Lisboa, e a proposta de alternativas de política para a Câmara da capital. A experiência anterior e um crescente gosto pela política fazem de Moedas uma aposta forte para uma grande coligação de centro-direita conseguir abalar a titularidade do actual autarca socialista. 

Fraca figura em termos políticos, desprovido de simpatia pessoal na opinião pública e com um currículo nem sempre consensual como gestor, Medina beneficiará, sobretudo, do voto da militância de esquerda. Mas um candidato como Moedas, conhecido pela competência e alheio às habituais jogadas político-partidárias, poderá captar não só o voto dos habituais eleitores de centro-direita mas também a adesão de muitos indecisos. Sobretudo se, como se espera, conseguir o apoio de um leque variado no centro-direita.

Na apresentação de Moedas, o presidente do PSD afirmou que sempre o considerou como a “melhor solução” para a Câmara Municipal de Lisboa, defendendo que o partido não está obrigado a vencer na capital, mas que tinha de apresentar “uma candidatura forte”. Numa declaração sem direito a perguntas, Rui Rio anunciou a candidatura à capital do actual administrador da Gulbenkian e ex-comissário europeu pelo PSD e disse já ter comunicado a decisão ao presidente do CDS-PP, havendo uma “vontade comum” de que Carlos Moedas seja o candidato dos dois partidos à Câmara.

Por seu lado, o presidente do CDS-PP salientou que Carlos Moedas “reuniu sólido consenso” entre os dois partidos, e considerou que é o “primeiro passo” para uma coligação na capital. Se as negociações com a IL correrem bem, estarão reunidas as condições para a formação de uma “nova AD” de incidência autárquica reunindo um total de nove partidos: PSD, CDS, Iniciativa Liberal, Aliança, RIR (Reagir–Incluir–Reciclar), MPT (Partido da Terra), PPM (Partido Popular Monárquico), PURP (Partido Unido dos Reformados e Pensionistas) e PDR (Partido Democrático Republicano). Alguns têm reduzida expressão eleitoral, mas dispõem de eleitorados empenhados na grande massa dos desiludidos. Grão a grão…

Negociações com IL

A Iniciativa Liberal (IL) manifestou de imediato a sua disponibilidade para negociar. Num comunicado oficial, os liberais referiram que “depois de a comunicação social ter anunciado a candidatura de Carlos Moedas”, este contactou o presidente da IL, João Cotrim Figueiredo, para agendar uma “primeira conversa, para explorar eventuais pontos de convergência”.

O comunicado dos liberais era cauteloso: “Como sempre tem feito, a IL não subalterniza as suas ideias em prol de cargos ou ilusórios sucessos eleitorais. Não basta libertar Lisboa do socialismo do PS, é preciso também que PSD e CDS se libertem dos seus hábitos, muitas vezes também, socialistas”, avisava a mesma nota. A IL sublinhava ainda que a sua estratégia eleitoral autárquica passa por “apresentar candidaturas próprias”, motivo pelo qual as exceções implicam “uma análise ponderada” do partido. “Essa análise passa pela verificação, em conjunto com o núcleo da IL de Lisboa, de eventuais pontos comuns a nível político e no plano programático que se insiram na defesa do projeto liberal da IL, numa perspetiva de longo prazo de que não abdicamos”.

A primeira reunião realizou-se logo na segunda-feira e prosseguiu na terça, tendo transpirado “um grande esforço de consenso” entre Figueiredo e Moedas. Contudo, só este Sábado Cotrim de Figueiredo poderá obter da Comissão Executivo do seu partido “luz verde” para prosseguir as negociações sem constrangimentos. ■