Os dois grandes partidos do sistema, o PSD e o PS, continuam a esgatanhar-se no arquipélago dos Açores – o primeiro tentando recuperar 24 anos perdidos para a governação socialista, o segundo tentando desesperadamente conservar o território conquistado. As próximas eleições para os órgãos regionais já entraram em “modo pré-campanha” e os partidos dão tudo por tudo para marcar pontos.
Para já, o líder do PSD/Açores, José Manuel Bolieiro, tem apostado nos temas da pandemia. “Infelizmente” tem-se assistido a “muitas incoerências e incongruências” nas medidas tomadas pela Autoridade Regional de Saúde para conter a Covid-19 em eventos públicos no arquipélago – declarou o presidente regional ‘laranja’, à margem da apresentação da Universidade de Verão da JSD (ler texto em caixa, nesta página).
“A minha opção, ontem como hoje, é que mais vale sermos excessivos na prudência do que negligentes na acção”. Neste aspecto, frisou, “a seu tempo” far-se-á o “juízo” da acção da entidade de saúde na região, que considerou “ziguezagueante em algumas circunstâncias”: “não em todas, mas em algumas circunstâncias tem sido ziguezagueante e incoerente”.
Embrenhando-se de novo na política açoriana após vários anos em Lisboa, o presidente do PS, Carlos César, saiu a terreiro em defesa do Executivo regional socialista. Elogiou a actuação do Governo dos Açores no combate à pandemia de Covid-19 e defendeu que, “mais do que a maioria dos governos”, este teve um “desempenho extraordinário” que permitiu “conter os efeitos terríveis da doença”.
Carlos César não esclareceu se o Governo português se encontra incluído no lote dos que, na sua opinião, responderam bem na luta contra a pandemia. O certo é que César fugiu a referir que os tribunais deitaram por terra algumas das medidas do Executivo dos Açores, designadamente as polémicas “quarentenas obrigatórias”.
Finalmente, o Mar…
Já o presidente do PS/Açores, e também presidente do Executivo regional, considera que “estas eleições regionais não são um último mandato para o PS”, mas sim “o primeiro mandato de uma nova década, o primeiro mandato de um novo ciclo que as circunstâncias que vivemos levam a que seja aberto”.
Candidato a um terceiro mandato, que a acontecer será o último, por força da lei, Vasco Cordeiro afirma que as eleições que se avizinham serão “particulares, para dizer o mínimo”, visto que “a pandemia de Covid-19 trouxe desafios” inesperados. “Há oito meses, há sete meses, estávamos a preparar-nos para bater mais recordes no turismo” e “embalar para um novo ano de recordes”, disse Cordeiro, que falava na Terceira numa iniciativa da JS.
O socialista reconheceu depois ser necessário “reconfigurar a ideia de desenvolvimento” da região, defendendo que este deve passar, por exemplo, por factores que a qualquer observador pareceriam óbvios, como o Mar. Ainda bem que já chegou a essa conclusão – comentava-se sardonicamente no dia seguinte nas esplanadas de Angra do Heroísmo…
“Precedentes”
Ouvidos os partidos políticos representados na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, o Presidente da República marcou as eleições legislativas regionais dos Açores para 25 de Outubro, e numa nota publicada na página da internet da Presidência refere que acabou de entrar em vigor a Lei Orgânica, que introduz a nona alteração à Lei Eleitoral para o parlamento açoriano, a partir do qual é constituído o Governo.
Entre as alterações à Lei Eleitoral da Assembleia Legislativa dos Açores aprovadas por Marcelo Rebelo de Sousa figura o voto antecipado em mobilidade. Mesmo tendo promulgado, o Chefe do Estado não deixa de considerar, na referida nota publicada no portal da Presidência da República, “inconveniente a alteração da legislação eleitoral a cerca de dois meses da realização de eleições”, mas justificou a sua decisão com a existência de “precedentes”.
Resultados
e expectativas
Nas anteriores legislativas açorianas, em 2016, o PS venceu com 46,4% dos votos, o que se traduziu em 30 mandatos no parlamento regional, contra 30,89% do segundo partido mais votado, o PSD, com 19 mandatos, e 7,1% do CDS-PP (quatro mandatos). O BE, com 3,6% dos votos, obteve dois mandatos, a coligação PCP/PEV, com 2,6%, um, e o PPM, com 0,93% dos votos expressos, também um.
O PS governa a região há 24 anos, tendo sido antecedido pelo PSD, que liderou o Executivo regional durante duas décadas, entre 1976 e 1996. Vasco Cordeiro, líder do PS/Açores e presidente do Governo Regional desde as legislativas regionais de 2012, após a saída de Carlos César, que esteve 16 anos no poder, apresenta-se de novo a votos para tentar um terceiro e último mandato como chefe do Executivo. No último acto eleitoral, estavam recenseados e aptos a votar nos Açores 228.975 eleitores.
No entanto, a mais recente sondagem sobre as intenções de voto dos açorianos faz adivinhar algumas mudanças no arquipélago. Um estudo da Eurosondagem para o Porto Canal e o jornal ‘Sol’, embora prevendo a manutenção do PS no poder, regista uma redução da sua vantagem sobre o PSD: os socialistas ficam-se agora pelos 37,7% das intenções de voto, enquanto o PSD se mantém perto dos 30%.
Nesta sondagem, o Chega faz a sua estreia com entrada directa para o lugar de 5º maior partido dos Açores, com 4% das intenções de voto. O BE desce para 8,3% (menos 1,2 p.p. que nas legislativas), seguido pela CDU (coligação comunista), com apenas 5,5%. Atrás do Chega surgem o CDS-PP, com 3,0% e o PAN, com 2,5% (-0,8 p.p.). A Iniciativa Liberal conta com 1,2% das intenções de voto e o Livre, como aliás a nível nacional, desaparece do mapa.
O PPM, que tem na Ilha do Corvo um forte reduto monárquico, conta obter mais um mandato, elegendo agora dois deputados regionais. ■