Em debate: O que resta do “animal político” de José Sócrates

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Vítima do seu enorme ego por Diogo Gil Gagean

O Engenheiro voltou ao panorama político nacional dando uma entrevista à SIC na qual afirma: “Eu responderia. Não teria nenhum problema em responder a todas as perguntas se elas fossem feitas com bons modos”. Imagine o leitor se fosse Cavaco Silva a proferir estas palavras. 

Sintomático do clima que se vive em Portugal é a diferença nas reacções dadas as opiniões de ambos os ex-primeiro-ministro. O artigo de opinião de Cavaco Silva promoveu um sismo na comunicação social e nas redes sociais e a entrevista de Sócrates merece apenas umas linhas nos “main stream media”.

Isto acontece porque o Partido Socialista já varreu definitivamente José Sócrates para debaixo do tapete e foge dele como o diabo da cruz. Ao fazer de conta que Sócrates nada tem a ver com este PS, António Costa desresponsabiliza a sua governação do país da bancarrota socrática. 

Mas José Sócrates não é notícia por ter sido o líder que nos levou a mais uma bancarrota, é notícia por andar a viajar para o Brasil, sem informar as autoridades para onde vai e quando é que vai. 

José Sócrates, além de engenheiro, mostra também ter uma sensibilidade jurídica acima da média, questiono-me mesmo se não terá também uma licenciatura em direito pela Universidade Lula da Silva. O entendimento de José Sócrates baseia-se no facto do caso em que será julgado ter sido separado do processo principal da “Operação Marquês” e como as acusações que ele considera as principais caíram já se pode ausentar do país durante o tempo que entender e que o TIR não se aplica a ele. Maravilhoso de facto.

O magistrado Vítor Pinto afirma que “não parece haver limites para a desfaçatez do arguido”. Sócrates “continua a achar-se com direito a um estatuto especial ou a um processo penal de privilégio”, censura o magistrado, recordando ao ex-primeiro-ministro o princípio constitucional de que “todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei”.

A igualdade dos cidadãos perante a lei é uma coisa que Sócrates parece esquecer ao julgar-se diferente ou superior aos seus concidadãos, nos processos em que é arguido anda sempre a invocar inconstitucionalidades e esquece-se deste princípio basilar da igualdade plasmado na Constituição. 

Este lado mais “arrogante” de José Sócrates é bem conhecido dos portugueses e ainda hoje sofremos na pele esta ideia socialista de que estão acima da lei. Que o português comum aceite isto com a bonomia normal de quem não se quer chatear é uma coisa, outra é o Ministério Público e a Magistratura em geral permitirem a José Sócrates este tipo de comportamento. 

Confesso que embora nunca concorde com o conteúdo, sempre fui um admirador do estilo de José Sócrates, directo e confrontacional com os seus adversários políticos e com uma visão para o futuro do país. Não sou daqueles que acha que Sócrates está politicamente “morto”. O homem é resiliente e caso seja absolvido dos processos ainda vamos ver Ferro Rodrigues a carregar o engenheiro em ombros na escadaria da Assembleia da República. Só que Sócrates está a ser vítima do seu enorme ego, com estes comportamentos insolentes e de desrespeito pelas instituições judiciais, as suas viúvas são cada vez menos e um dia destes nem a Fernanda Câncio lhe abre a porta.

P.S. – O SNS está pelas ruas da amargura e não vejo ninguém a pedir explicações ao Bloco de Esquerda pela sua exigência em acabar com as parcerias público-privadas na saúde. O Hospital de Braga passou de ser o melhor no país a não atender pacientes por falta de médicos nas escalas. 

Quo Vadis Catarina? ■


Passou a ter peçonha por José Guilherme Oliveira

Há quem o considere aldrabão, corrupto, o rei da desfaçatez, corajoso, inteligente, arrogante, líder, atrevido, mentiroso, esperto, determinado. Se calhar tem dessas características, um pouquinho de cada uma.

Não me interessa discorrer acerca da pessoa, pois para isso já há muito quem faça. O “homem” já foi escalpelizado ao pormenor, todos e cada um de nós já lhe traçou um perfil. Infelizmente, e sem que tenha começado a primeira sessão de julgamento, foi já julgado e condenado pela “populaça” em praça pública e isso acontece sem que a turba se incomode. Isso perturba-me.

Incomoda-me também a hipocrisia daqueles que “antigamente” bajulavam ou, pelo menos, calavam, mesmo perante alguns sintomas do que viria a surgir mais tarde e agora, paladinos da verdade e da justiça, caiem-lhe em cima sem piedade. Na altura, quando o José Sócrates, primeiro-ministro, entre outras habilidades, tentava dominar a comunicação social, (coitada da Manuela Moura Guedes), ou tentava “mexer” nas Magistraturas, condicionando-as (talvez algum do preço, esteja a pagá-lo agora), muitos dos que ficaram “quedos e mudos”, agora são inquisidores impiedosos. 

Incomoda-me a violência e o à vontade com que se agride e esfola quem jaz. Vale tudo.

Estupefacto, observo quem escarnece o facto de o antigo primeiro-ministro ir estudar para uma universidade ou instituto em Paris, como agora que se candidatou a doutoramento em São Paulo. O achincalho existe porque sim, pois não há qualquer razão conhecida para o desvalor.

Bater no Sócrates é fácil nos dias de hoje.

Se há coisas insofismáveis uma delas é que o indivíduo ainda não foi condenado por coisa alguma e impõe a ética republicana que até lá e por respeito à lei, temos de o presumir inocente.

Contudo, há outros factos desta estória que não se podem negar, elenco e destaco que a sua detenção quando regressava ao país foi uma desgraça e que o prolongamento da mesma por 11 meses envergonha o país que se quer um Estado de Direito. Prender para investigar existe em regimes autocráticos e totalitários e existia em Portugal na anterior república. 

Isto aconteceu sem ninguém se indignar.

Entretanto o processo prolonga-se por tempo infindo, enquanto assistimos a disputas, mais ou menos veladas, entre magistrados, assistimos à queda de grande parte da acusação inicial, observamos imóveis a justiça esparramada nas capas dos “pasquins”, ao segredo de justiça espezinhado nas nossas barbas, tudo normal. Mas… se o “Sócrates” se defende, usando todos os expedientes que a lei lhe permite usar (podemos até falar do excesso de garantias dos arguidos, mas isso é outra conversa), esgotando-os de modo a defender-se o melhor possível, aqui d’El-Rei, que o tipo está a inundar o processo de recursos o que atrasa o seu regular andamento, que o tipo é por isso um escroque!!!!!!! Mas o que é isto?!

Nos últimos dias tivemos a notícia que título de “o caso da violação do TIR”. O ex-primeiro-ministro entende e fundamenta que a ida a São Paulo não viola qualquer medida de coacção, os magistrados do Ministério Público têm entendimento diverso, o Sócrates fá-lo ao seu modo aguerrido e destemido, outros dizem provocador. 

Um alarido global! Tudo isto é legítimo desde que a justiça no final se cumpra.

O direito não é matemática e por isso interpretações distintas das normas fazem parte da mundividência judicial, menos para os hipócritas.

Por fim tenho de dizer que me custa, até como antigo militante do PS, não ver um singelo sinal de solidariedade de nenhum, ou quase nenhum (lembrei-me do dr. Mário Soares), “camarada” desde que o processo se iniciou. A palavra solidário, tão simpática ao socialismo, tem efectivo valor nas situações de fragilidade. 

O Sócrates, passou a ter peçonha…

P.S. – Sou tentado a concordar com o dr. Mota Pinto quando diz que o Sócrates era mais reformista do que o dr. Costa. Não gosto quando ouço gente a encher a boca com suficiência energética e as energias renováveis sem dar os créditos devidos ao Sócrates, entretanto proscrito.

P.P.S. – Evidentemente que também eu criei a minha opinião sobre o ex-primeiro-ministro José Sócrates, pois não sou imune ao bombardeamento de informação. Confesso que sustentei a minha sentença no critério: “se, quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem”. Mas a mim, mero cidadão e julgador de café, isso é-me permitido, já não o é a um magistrado.