Lula voltou pior e mais esquerdista

0
682

O presidente Lula sempre foi uma referência como homem público que construiu uma carreira com base na capacidade de dialogar, conciliar, agregar. Desde que surgiu na liderança sindical foi chamado de “interlocutor de confiança” pelos patrões e pelos governantes da época, em pleno regime militar, que nunca o molestou.

Com essas qualidades e um vento mundial favorável, teve dois mandatos razoáveis e elegeu para outros dois um poste, visto que a presidente Dilma nunca mostrou qualidades de política, gestora ou oradora.

Depois de envolvido em inúmeros casos de corrupção, directa ou indirectamente, o que lhe custou condenações e mais de um ano de cadeia, recebeu uma anulação de julgamentos, cujos processos foram enviados para outro juízo e não se ouviu mais falar neles. Contou ainda com a interferência do STF em decisões que não encontram unanimidade entre juristas. Assim, ficou habilitado a concorrer à Presidência da República, onde chegou menos pela sua actuação e mais pela dedicada autodestruição de seu opositor, despreparado para corresponder aos favores do destino. Bolsonaro não parou de gerar polémicas e crises, agredir e discriminar, independentemente do bom governo em termos de progresso e ordem que vinha fazendo. A insegurança e o deslumbramento foram mais fortes do que a humildade e a sabedoria de saber ouvir.

Eleito com os votos da rejeição ao desastrado oponente, entre as poucas promessas anunciadas na campanha, Lula comprometeu-se a um governo conciliador e que unisse o país. A promessa foi esquecida desde o primeiro dia.

Lula não pára de bater no antecessor, que ruma para o ostracismo, contando apenas com uma base de apoiantes mais radicais, que não chegam a um terço do que teve nas eleições presidenciais que venceu. Até a polícia esteve em casa de Bolsonaro apreendendo telemóveis e implicando-o numa suposta falsificação de vacinação. O tempo passa e não existe um projecto de governo. Apenas distribui benesses, despesas e tenta aumentar impostos. Sem um projecto para o país para a crise decorrente da pandemia e do ambiente mundial, o actual presidente gera dúvidas, decepciona alguns, procura no campo internacional marcar uma presença, que se tem transformado numa sucessão de infelicidades que o levam a se desdizer a cada momento.

Nos EUA, foi bem recebido, mas, desconfiados de sua tradição antiamericana, fenómeno comum na América Latina, a questão ambiental e a defesa da democracia marcaram os encontros. Nada de concreto. Na China e em Portugal, dois desastres. Revela simpatias com a Rússia invasora, critica os EUA e a União Europeia, faz declarações sobre o Médio Oriente sem base na verdade histórica e desfavorável a Israel, país com fortes ligações com o Brasil. Generoso com a Argentina, que derrete, coloca em risco o aval oficial nas operações comerciais. Não aquece a cadeira no Palácio do Planalto. Mal chegou de viagem seguiu para Londres para a coroação de Carlos III. Agora em Tóquio para o G7.

No campo interno tem sido pródigo em contrariar desnecessariamente segmentos significativos. Retira o nome da Princesa Isabel de uma comenda que substitui por outro nome, muito digno, aliás, mas desconhecido. Poderia ter criado uma comenda que não discriminasse aquela que é tida como a maior das brasileiras, inclusive com um processo no Vaticano para a sua beatificação. A agro-pecuária, que sustenta a economia nacional, fenómeno mundial, depois de anos de paz, enfrenta a acção criminosa de invasores, com a tolerância das autoridades públicas. E a afronta de ver o líder das invasões integrar uma comitiva presidencial ao exterior, na China. Além disso tudo, parece claro um projecto de intimidar e tentar anular o prestígio que os militares gozam na sociedade brasileira. A última tem sido o controle dos “media” digitais e o confronto com o “Google” e outros grupos.

Não é este o Lula que se apresentou ao eleitorado como a opção que poderia unir e conciliar o país. O seu mérito parece ficar apenas em ter afastado o caricato presidente, que fez questão de anular seus feitos ao se deixar levar pela arrogância e ignorância.

Como Bolsonaro está a pagar por ter agredido tanta gente, Lula pode sofrer muito com o inevitável desgaste que o descontrole das contas públicas vai provocar na vida da população. A factura nunca deixa de chegar!