O deserto de homens e ideias

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Vivemos uma época que o chamado mundo ocidental e cristão carece de líderes, de ideias e anda, portanto, sem rumo entre as incertezas económicas, sociais e políticas. A última crise de identidade deu-se nos anos 1930 em muitos países, com o fantasma bolchevista presente em acções revolucionárias estimuladas por Estaline, no contexto de seu projecto de exportação da revolução comunista.

Mas a reacção foi grande, com base na formação cristã e democrática dos povos, na sensibilidade dos empresários da época, nos militares e na Igreja.

Em Portugal foi quando um movimento nacional, com a cobertura dos militares, colocou no Governo, com poderes, um professor de Coimbra, sem vaidade e sem ambições, para colocar ordem e paz social. Assumindo como missão, Salazar deu início ao seu longo reinado em que as contas públicas foram ordenadas, o país liberto de greves e teve como prioridade a segurança pública.

Em Espanha, a escalada comunista foi maior e provocou o levantamento dos militares, em guerra civil em que a latinidade assumida pela Itália garantiu apoio para a vitória, que contou com a acção da Igreja, justificada pelas perseguições sofridas no país, em que mais de cem igrejas foram incendiadas e dez mil religiosos e religiosas foram assassinados barbaramente. João Paulo II, no seu papado, tornou mártires ou beatos mais de dois mil destes religiosos. A unidade nacional foi confiada por 40 anos ao generalíssimo Francisco Franco, que chegou ao generalato como o mais jovem da Europa.

O Brasil não ficou atrás. Em 1930, Getúlio Vargas assume o comando do país para um período de 15 anos. Primeiro como Chefe da Revolução, depois como eleito pelo Parlamento, depois oito anos como ditador. Ditador de “ditabranda” com pleno direito do ir e vir, liberdade económica, avanços sociais e segurança pública. Compromisso com a tradição da diplomacia, confirmada pela entrada na II Guerra ao lado dos aliados. Foram o carisma, a habilidade e a sensibilidade de Vargas que deram impulso ao país.

Hoje estas referências no sul da Europa e na América Latina carecem de lideranças, de um programa comum na busca do progresso que eleve a qualidade de vida de grande parte da população. A pobreza na região deve-se a políticas equivocadas, populistas, que afastam avanços no investimento privado, na maior produtividade e na distribuição do rendimento. Em quase todos os países reina um ambiente hostil ao empreendedor. Governos inchados, corrupção, inflação, altos impostos. Tudo o que não se deve fazer para melhorar é feito de maneira demagógica.

Os países perderam perfil, identidade. São formalmente capitalistas, mas contidos pelas leis laborais fora do razoável, impostos que levam à perda da competitividade e muita desordem, nas greves normalmente no sector público que pela omissão as incentivam.

Falta um protocolo que possa unir os países em torno de algumas ideias que levam a maior liberdade para avanços sociais com base no trabalho, na sustentabilidade e na austeridade. Sem os privilégios do sector público que provocam tanta injustiça.

Agora que se discute o acordo da União Europeia com o Mercosul seria uma oportunidade de se colocar um ponto final nestas distorções dos países do sul e um aperfeiçoamento nos do norte, em fase de definição do que querem daqui para frente em eleições. O estadista brasileiro Oswaldo Aranha exclamou, desanimado com a falta de rumo do Brasil nos anos cinquenta, que “vivemos um deserto de homens e ideias”. Falta um Salazar, Franco, Thatcher, Reagan, Vargas, De Gaulle, Churchill para uma saída competente do momento difícil que todos atravessam.