O Congresso do PS não serviu para muito. Apenas para afiar os punhais!

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O PS foi, este fim-de-semana, a banhos. Não de ética – coisa que no partido deve causar sarna ou coisa do género –, mas a banhos tépidos em piscina de miúdos, cuja temperatura é assegurada pela quantidade de urina produzida ao longo do dia. Assim foi, mais ou menos, o encontro socialista, em que os momentos altos da abertura foram o atraso do Pedro Nuno Santos – mais notado a dormir do que aos disparates produzidos quando acordado, o que muito diz da sua competência – e a disposição dos lugares à mesa por parte dos comensais. Nota jornalística para os indícios sucessórios que a dança das cadeiras poderia apontar. Foi a coisa aquecendo, com o humor de Cabrita, que garantia nunca ter pressionado investigações judiciais, ao contrário de outros. Claro que os remoques dirigidos a Sócrates, a Ferro e ao próprio Costa, enquanto ministro da Justiça, foram ignorados pelos núncios de serviço. 

Afinal, os jornalistas estavam lá também em celebração, de microfone aberto para as boas notícias, que isto de ter que informar, questionar e ser incómodo, tem um preço demasiadamente alto que as direcções e administrações não estão dispostas a pagar. Aqueceu a piscina quando a Temido militante, que não a ministra, mostrou uma raspadinha premiada do Santo Costa da Misericórdia para gáudio do público, que aplaude estes amiguismos intimistas. Receber um cartão de militante, pelas mãos do Secretário-Geral em pleno Congresso, é privilégio só para alguns. Como o tratamento desigual e de favores é apreciado no partido, os louvores e comendas foram mais que muitas para a Marta militante, que rapidamente perdeu o temor e tremor da Marta ministra ao assegurar que esta acreditava na moção do líder partidário e que a outra acreditava no líder do governo. É um caso de dupla personalidade a aguardar consulta nas listas de espera. Neste caso – e ao que parece – nas listas do PS, sucessório a Costa que, ainda assim, são mais rápidas que as do Serviço Nacional de Saúde. Importa esclarecer que a dita moção mais não era do que a apologia do próprio, feita pelo próprio e em nome próprio. Que saudades de um PS onde se debatiam ideias, programas, linhas programáticas e não o seguidismo e aclamação de homens medíocres, a mendigar lugares! 

Nesta parte quase cedi à tentação de higiene mental de desligar a televisão, mas eis que César anuncia Costa. No império dos sentados, todos se levantam de rajada, como se as hemorroidas picassem ou certos que o “big brother is watching” e terá mão pesada em caso de “défis” (não confundir com défice, que esse em nada preocupa os socialistas). Compreenda o leitor que o meu ímpeto era mais que justificado: se nem o Secretário-Geral se dignou a por os pés no Congresso, pedir-me que assistisse à paródia era tratamento cruel e desumano, seguramente proibido por uma convenção internacional qualquer. O Costa secretário ter-se-á deixado dormir (provavelmente no leito ainda quentinho deixado pelo retardado Pedro Nuno), para se fazer substituir pelo Costa primeiro-ministro. Estoicamente, aguardei.

Costa – o Primeiro –, moreno da praia e embrulhado numas quantas bolas de Berlin que não fez por esconder, vinha rejuvenescido. Num discurso datado no tempo pré-muro, apelou ao sentido patriótico, enalteceu aqueles que sempre tratou mal, citou Portugal, os portugueses, Pátria e Nação mais vezes do que Salazar em tempos idos.

Dei por mim de lágrima no canto do olho, mão junto ao peito e pronto a entoar o hino. 

Louvou os médicos, os enfermeiros e todos os profissionais de saúde pelo combate à pandemia, colhendo para o seu governo os méritos dos resultados, apesar de os ter destratado em todo este processo, lhes ter negado meios, lhes ter proposto quantias remuneratórias ofensivas, lhes ter negado férias, não lhes pagar trabalho suplementar e ter tido que entregar a gestão do processo de vacinação às Forças Armadas, tal a incapacidade e incompetência do governo para o gerir.

Colheu palmas, muitas. Colheu as lágrimas da Marta – uma das duas, ou de ambas, confesso que não percebi.

Embalado, continuou para a educação, para o desemprego, para a transparência e o combate à corrupção, do investimento público estratégico, para as políticas sociais, enfim, um fartote de méritos e competências acumuladas que me levou a pensar estar a ouvir falar de uma Suécia ou uma Finlândia. Nesse delírio discursivo que a turba aplaudia, esqueceu de referir os congelamentos dos salários dos professores, a confusão das aulas presenciais/não presenciais, a proibição imposta às escolas privadas, a falta de meios para o ensino à distância, que os níveis de desemprego resultavam, quer de políticas proibitivas e sancionatórias de despedimentos durante a pandemia, quer de um aumento exponencial do número de funcionários públicos, ou seja, de dependentes do Estado. Olvidou os casos judiciais que envolvem políticos (sendo que 1/6 da mesa do congresso está a braços com a justiça!), os dados pessoais fornecidos a países terceiros, os negócios de compadrio e em prejuízo para o Estado, a tentativa do seu partido fazer aprovar uma lei em plenas férias judiciais que beneficia a incompetência dos seus autarcas e os livra de responsabilidades criminais (vergonha!!!), o contínuo acumular de prejuízos pela TAP, após o despedimento de mais de um milhar de funcionários, as greves recorrentes de quase todos os sectores de actividade e os níveis de pobreza da generalidade da população, mascarados sob epítetos como subsídios, abonos, apoios e outros quejandos, cujos números crescentes são facilmente contraditados pelas associações caritativas. Se o discurso é da Suécia, a realidade é da Albânia!

Costa não é brilhante, não é competente, é habilmente mentiroso. Mas é um político de eleição, dominando todas as suas vertentes e movendo-se nesse lodo de enganos como ninguém.

Confúcio dizia “Exige muito de ti e espera pouco dos outros”, já Sun Tzu clamava que “A água adapta o seu curso ao terreno que atravessa”. Costa interpretou o segundo, derrogando o postulado do primeiro, adaptando-o para: “Colhe os louros dos outros e imputa-lhes os teus fracassos”, quando trouxe a direita à colação. Os energúmenos aplaudiam sem que as mãos lhes doessem, e Costa, suando em bica, mergulhou de cabeça na piscina que, por esta altura, já fervia.

Marta chorava, brandindo o cartão, presume-se a militante, quando tanto jeito teria dado a presença da ministra para retirar a faca que ainda se encontra enquistada nas costas de Seguro!

O Congresso não serviu para muito. Apenas para afiar os punhais! ■