A escalada russa contra os territórios da Ucrânia, que Moscovo justifica com razões históricas, teve esta semana o desfecho que se receava. À hora de fecho desta edição, o Presidente russo Vladimir Putin avançava já com uma operação militar em território ucraniano, alegadamente para defender os separatistas pró-russos no Leste do país.
Numa declaração televisiva, Putin pediu aos militares ucranianos que “deponham as armas”, garantindo que o seu objetivo não é “a ocupação”, mas sim a “desmilitarização” do país. E avisou que qualquer país que tente interferir na operação militar terá “consequências nunca antes vistas”. As armas e os tanques falaram mais alto do que a diplomacia e Vladimir Putin fez avançar as suas tropas.
O impasse bélico parecia ter-se instalado quando, a meio da semana, a Rússia visou directamente a Ucrânia com uma das suas armas favoritas: o ataque informático. Serviços vitais foram afectados, nomeadamente ao nível das comunicações e centrais decisórias. Mas o ataque não se ficaria pela informática.
Ao longo de toda a semana, grandes contingentes militares da Federação Russa reforçaram as posições já ocupadas junto à fronteira russo-ucraniana, enquanto forças castrenses de vários países ocidentais se posicionavam em países e águas vizinhas.
A União Europeia e os Estados Unidos avançaram, nos últimos dias, com algumas sanções e ameaças visando directamente o Governo de Moscovo: bloqueio de financiamentos, interdição de transações comerciais e outras medidas que só muito dificilmente poderiam considerar-se convincentes. A Alemanha avançou, entretanto, com uma medida mais concreta: interrompeu o processo de certificação do gasoduto Nord Stream 2, para distribuição de gás natural russo na Europa, e sem essa certificação o gasoduto não pode ser posto em funcionamento. Mas o Executivo de Putin mostrou-se pouco preocupado, respondendo que com essa medida a Alemanha provocaria um aumento do preço da energia para os consumidores ocidentais.
À hora de esta edição seguir para a rotativa, as tropas russas avançavam em solo ucraniano, indiferentes a ameaças e sanções do Ocidente.
A importância da Ucrânia
Para muitos europeus, o conflito russo-ucraniano resume-se a uma disputa política com complexas raízes históricas. Ninguém o nega. Contudo, analisando a questão mais friamente, importa recordar que aquele país de 44 milhões de habitantes é também um cobiçável fenómeno económico.
Com efeito, a Ucrânia é o país europeu com maiores reservas, comprovadamente recuperáveis, de minérios de urânio; detém o 2° lugar na Europa e o 10° lugar no mundo em reservas de minério de titânio; tem a 2ª maior reserva mundial de minérios de manganês (12%) e de ferro (30 mil milhões de toneladas); é a 2ª maior reserva de mercúrio e a 3ª de gás de xisto da Europa; e detém o 7° lugar no mundo em reservas de carvão (33,9 mil milhões de toneladas).
No plano agrícola, a Ucrânia é o país europeu com maior percentagem de terra arável; o 1º exportador mundial de óleo de girassol; o 2º no mundo em produção de cevada (e 4° nas exportações desse cereal); o 3° maior produtor e 4° maior exportador mundial de milho; o 4° maior produtor de batatas do mundo; o 5° maior produtor de centeio do mundo; o 5° maior produtor mundial de abelhas (75 mil toneladas de mel/ano); o 8º maior exportador mundial de trigo; o 9º produtor mundial de ovos de galinha e o 16° maior exportador de queijo.
A Ucrânia é ainda o 1º produtor mundial de amónia; tem o 4° maior sistema de gasodutos de gás natural da Europa (142 mil milhões de metros cúbicos de capacidade de produção de gás na UE); tem a 3ª maior capacidade instalada de energia nuclear da Europa (e 8ª maior do mundo); tem a 3ª maior rede ferroviária da Europa e 11ª do mundo (22 mil km); é o 3° maior exportador de ferro do mundo; o 4° maior exportador de turbinas para centrais nucleares do mundo; o 4º maior exportador mundial de argila e de titânio; e o 10° maior produtor de aço do mundo. ■
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