Um país sem respostas

"O Governo, como sempre, adianta-se na entrega do Orçamento mas falha na ponderação, no estudo, e nas políticas a apresentar"

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Como sobreviver num país de enganos, de verdadeiros vendedores de “banha da cobra”, mentirosos, charlatães e de falsa índole que rejubilam com o prazer de enganar os incautos sob a capa do embuste? Qual a importância de um programa de governo envergonhado, sem horizonte de esperança e incapaz de se adaptar às circunstâncias internacionais? Para que serve um Orçamento do Estado reflexo dessa mesma política desajustada? Quanto vale a palavra de um ministro que afirma hoje o que nega amanhã e o que pensar da teoria absurda do Partido Comunista Português sobre a guerra na Ucrânia?

Perguntas para um país com cada vez menos respostas. 

Para o executivo socialista do XXIII governo constitucional já em plenitude de funções – o terceiro de António Costa – o programa de governo significa, tão só, uma proposta ou promessa de redundâncias que não espelham uma única visão estratégica, clara, estruturante e de futuro, muito menos existe intenção de as cumprir. Isto é, é algo que se anuncia através de um palavreado com o velado propósito de enganar os outros. Em suma, deixou de ter carácter de responsabilidade e de orientação, para acomodar uma trapaça compactada num documento inócuo e inútil que se desdiz antes mesmo do momento da sua apresentação. Vendem-nos “gato por lebre” e transformam o “latão” em “ouro de lei”, uma patologia que se estende, vertiginosamente, em modo pandémico à classe política em geral, cada vez mais demagógica e incompetente.

Entre promessas de diálogo com a direita e a esquerda democrática e juras “solenes” de uma estabilidade política para a legislatura, como resposta objetiva ao resultado eleitoral de 30 de Janeiro de 2022, António Costa apresentou no seu programa de governo – suportado por uma maioria absoluta de 120 deputados do PS – as medidas estruturais para a legislatura: resposta à emergência climática, aposta na transição digital, luta contra a demografia e combate às  desigualdades, mas sem nunca fazer referência às tão necessárias medidas reformistas decisivas para a modernização e desenvolvimento do país, ignorou a  invasão e o flagelo da guerra da Rússia sobre os Ucranianos e as previsões sobre as implicações de como vai lidar com decisões de políticas centrais, nomeadamente o choque energético e os seus efeitos na escalada de preços que já começaram a ter impacto nos bolsos dos portugueses. Não há o menor sinal sobre política de rendimentos e de como diminuir o impacto ao nível do poder aquisitivo da generalidade da população. Para estes governantes socialistas não há amanhã, só existe o dia de ontem!

Durante os últimos dois meses, os socialistas adormeceram ao som das trombetas celestiais que anunciavam uma inflação a crescer, falharam nos anúncios das previsões macroeconómicas e de novo na apresentação do programa que apresentaram para a legislatura. Só após seis semanas de combates brutais passados e repassados pelas notícias a toda a hora e minuto é que o Governo finalmente descobre que a Europa está a viver uma guerra sem lei nem honra, desumana, com consequências económicas devastadoras que exigem políticas de rigor, estruturadas e definidas com a devida ponderação e em tempo.

A boa noticia – será que é? – foi saber que o Governo entregou na passada semana na assembleia da república o OE para 2022 e que ao antecipar a sua apresentação, poderá assim encurtar a gestão do país em duodécimos. Como sempre, adianta-se na entrega, mas falha na ponderação, no estudo, e nas políticas a apresentar. Um Governo fim de linha, um executivo de roda no ar, reativo, pouco amigo da planificação, vive e faz-nos viver no fio da navalha, sempre aconchegado por planos de emergência ou de contingência – chamem-lhe o que quiserem – e o primeiro já se encontra plasmado no orçamento do João Leão chumbado em outubro de 2021, remendado e apresentado pelo aprendiz Medina na sua estreia nas finanças e apadrinhado por Marcelo, nas boas vindas aos retificativos. Sempre, mas sempre tudo sobre os joelhos, à pressa, à boa imagem do aluno cábula sem metas para cumprir, nem objetivos para apresentar, despreocupado com o resultado e militante do “quem vier atrás que feche a porta”. 

Quem, também, encerrou em definitivo o que defendia, esquecendo e atirando para trás das costas o que debitou com vigor, foi o «independente» António Costa e Silva que, depois de passar pela presidência de uma empresa petrolífera, foi recrutado pelo homónimo Costa para salvar a economia nacional.  O senhor PRR chega agora ao governo para substituir Siza Vieira como ministro da economia. Em 2018, dirigindo-se ao governo de Costa, insurgiu-se afirmando: “um governo com políticas que hostilizam as empresas e o lucro não cria condições amigas do investimento e do desenvolvimento do país”. Já na passada semana, na apresentação do programa para a legislatura na Assembleia da República, com as vestes de ministro da economia do governo liderado pelo mesmo Costa, advoga: “uma taxa de imposto sobre os lucros aleatórios e inesperados que estão a ter” sobre as empresas que ele próprio cita e anuncia uma lista de outras mais. Haja coerência! O estilo transfigura o homem e a palavra dada jamais será honrada. O mundo da conveniência e do interesse anda a toldar-lhes o pensamento e a sumir-lhes a credibilidade. Talvez seja por estas e por outras que continuamos a ser o país da Europa que menos cresce há anos, os campeões do défice e como se previa, recentemente, ultrapassado por mais duas economias de leste. Afinal, o António Costa da economia sofre do mesmo mal do António Costa primeiro-ministro, ambos não conseguem governar a mais de uma semana de distância e à vista, muito menos são capazes de projeções de médio e longo prazo para refletir e pensar o país. 

Quem, também, não consegue ver mais longe e mantém o seu pensamento e raciocínio empedernido e congelado pelo gelo siberiano é o Partido Comunista Português, liderado por Jerónimo de Sousa, a única força política em Portugal a não condenar de forma clara a invasão Russa de Putin sobre a Ucrânia e a assumir uma nostalgia doentia pela União Soviética. O PCP responsabiliza os Estados Unidos, a Nato e a Ucrânia pelo crescente conflito com a Rússia – mas afinal quem invadiu quem? – e não consegue ver o poder da destruição pela força das bombas, os refugiados que fogem da guerra com os filhos nos braços, os idosos que são abandonados à morte, os jovens invadidos e invasores que deixam de sonhar, o país destruído e sem futuro.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, já depois de ter discursado por videoconferência em mais de vinte parlamentos, dentro e fora da Europa, discursou ontem no parlamento português, ainda que com a oposição dos comunistas que se refugiam numa formalidade que não faz qualquer sentido: “as intervenções no parlamento têm sido limitadas e na sequência de visitas institucionais ao nosso país”.  Abrem-se exceções para situações extraordinárias, a Ucrânia foi invadida, está em guerra e o seu presidente não pode andar dentro e fora em viagens como se de turismo se tratasse. O PCP dia após dia continua a meter as mãos pelos pés e a dar-nos desculpas esfarrapadas, qual gato escondido com o rabo de fora, ora a favor da guerra contra a paz, ora a favor do diálogo contra a confrontação: é para o lado que o PCP dorme melhor, uma profunda encruzilhada de valores e nós também. É caso para dizer: bons sonhos! ■