Depois de meses de contactos cirúrgicos com as bases, Paulo Rangel está a acelerar a sua campanha. O candidato à liderança do PSD defende que o próximo líder do partido não tem apenas de estar preparado para eleições legislativas antecipadas, caso venham a ocorrer, mas “legitimado” para concorrer.
“O líder do PSD não tem apenas de estar preparado para eleições legislativas antecipadas se estas vierem a ocorrer, também precisa de estar legitimado para concorrer a essas eleições legislativas”, afirmou Paulo Rangel naquela que considerou a “primeira acção de campanha” no Palácio da Bolsa, no Porto.
Perante uma plateia de cerca de 600 militantes e apoiantes do partido, Paulo Rangel afirmou não desejar uma crise política e não ser “daqueles que no PSD ou fora apostam tudo na ideia de crise política”, ainda que esteja “mais do que preparado”.
“Estamos preparados para lidar com a crise. Antes, durante ou depois das eleições internas”, assegurou o candidato à liderança social-democrata, acrescentando que, se existir uma crise política, “o único responsável é António Costa e o seu governo”.
Ataque a Costa
Entre críticas ao primeiro-ministro e ao Governo, Paulo Rangel salientou que a “fraca governação do PS” é o que lhe pica e “verdadeiramente dói”, em tom crítico à expressão utilizada pelo actual líder e recandidato Rui Rio.
“Há expressões que não gosto de usar como pica, picar, ficar picado, mas, há uma coisa que posso garantir: as posições divergentes dos meus companheiros de partido e dos meus competidores eleitorais não me picam, nem me levam a fazer voos picados ou voos picantes”, observou.
Considerando que a oposição não pode ser feita aos “correligionários do partido”, Paulo Rangel reforçou que o PSD “não irá a eleições antecipadas sem um líder legitimado” e que o calendário aprovado é o “único” que serve o PSD.
“Se de outros lados estão convictos que vão ganhar as eleições internas, só tem vantagens de estar em acordo e contribuir para este calendário”, afirmou.
Aos militantes que se reuniram no Palácio da Bolsa, Paulo Rangel assegurou que, caso vença as eleições internas do PSD e ocorra uma crise política, vai criar um “grupo de trabalho para preparar as bases do programa eleitoral” que serão “anunciadas e acolhidas pelos portugueses no congresso que há de se seguir”.
“Não posso ser mais claro. Estamos preparados para todos os cenários, não temos medo de eleições legislativas antecipadas, não temos receio de eleições internas no prazo certo, não queremos ganhar na secretaria, não acreditamos na prorrogação de mandatos em pleno processo eleitoral. Queremos uma liderança eleita, legitimada que possa ir bater-se com o PS em eleições, com cara levantada e o suporte claro do nosso partido”, referiu.
Durante a sua intervenção naquela que foi a “primeira acção de campanha”, Paulo Rangel criticou ainda o Governo e o primeiro-ministro pelas “alterações feitas à lei laboral”, a actuação na crise do sector energético e dos combustíveis, na digitalização e tecnologia do 5G e no sector da saúde.
Defendendo que a união e o crescimento do PSD permitirão “reganhar a confiança dos portugueses”, o candidato à liderança dos sociais-democratas disse não ter dúvidas que tal permitirá o partido “regressar à sua vocação e ambição maioritária para poder vencer”.
A direcção de campanha da candidatura de Paulo Rangel à presidência do PSD é liderada pelo seu assessor Pedro Esteves e integra o deputado Emídio Guerreiro, o ex-presidente do PSD/Setúbal, Bruno Vitorino, e o líder do PSD/Coimbra, Paulo Leitão. O PSD vai realizar eleições directas para escolher o presidente no dia 4 de Dezembro e o 39.º Congresso decorrerá entre 14 e 16 de Janeiro, em Lisboa, e até agora apresentaram-se como candidatos Rui Rio e Paulo Rangel.
Rio prepara directas
O deputado Hugo Carvalho, o dirigente João Montenegro e o presidente da Assembleia de Secção do PSD de Vila Nova de Famalicão, Vítor Moreira, integram a direcção de campanha de Rui Rio para as directas no partido.
De acordo com um comunicado da candidatura, a direcção de campanha do actual presidente e recandidato ao cargo – encabeçada pelo vice-presidente do PSD, Salvador Malheiro, como já tinha sido divulgado – integra “para já” nomes como Vitor Moreira, presidente da Assembleia de Secção do PSD de Vila Nova de Famalicão, e Rui Rufino, secretário distrital do PSD de Santarém).
O deputado Hugo Carvalho, cabeça de lista pelo Porto nas últimas legislativas, e João Montenegro, secretário-geral adjunto da actual direcção (cargo que já ocupou durante a liderança de Pedro Passos Coelho) e antigo director de campanha de Santana Lopes nas eleições directas de 2018, são os outros nomes avançados, numa estrutura a que se “juntarão ainda outros destacados militantes a anunciar brevemente”, segundo a candidatura.
Queixas de Nuno Melo
A candidatura de Nuno Melo à liderança do CDS-PP já está no terreno, e deixa queixas contra “Chicão” e a sua equipa. Melo acusou os opositores de não facultarem os cadernos eleitorais nem possibilitarem a fiscalização da eleição de delegados ao congresso, apontando também a substituição de senadores sem aviso.
Numa nota enviada à Lusa, o antigo líder parlamentar do CDS-PP Nuno Magalhães (que assina como membro da candidatura “Tempo de Construir – Nuno Melo”) considera que “existem aspectos relativos à organização e democraticidade” do 29.º Congresso do partido que merecem “repúdio e justificam uma tomada de posição pública”.
“A candidatura nossa opositora recusa a consulta dos cadernos eleitorais, que só disponibiliza a si própria”, acusa, defendendo que “não há eleição democrática digna desse nome sem que os cadernos eleitorais estejam facultados a todas as candidaturas”.
Nuno Magalhães refere também que foi “recusada a possibilidade de fiscalização” de “vários actos eleitorais” por delegados da candidatura de Nuno Melo, considerando que “é inaceitável” a realização de “eleições à porta fechada sem se conhecer o universo eleitoral e em que só os elementos de uma das candidaturas podem ter acesso ao processo”.
“Vamos disputar um congresso sabendo que princípios básicos de democraticidade não estão garantidos até ao momento”, salienta.
Assim, o antigo dirigente pede à direcção de Francisco Rodrigues dos Santos que “faculte a consulta dos cadernos eleitorais e abra as salas de votação à fiscalização de todas as candidaturas”.
“Alertamos para o facto de que se não for permitida tal fiscalização, manteremos delegados da nossa candidatura à porta de cada edifício em que as votações ocorram, para verificação de cada pessoa que aí se dirija”, refere o antigo deputado.
O apoiante de Nuno Melo na corrida à liderança do CDS-PP relata também que “senadores do CDS foram substituídos por outras pessoas escolhidas pela direcção” sem que “qualquer advertência acerca da intenção, ou uma simples palavra de agradecimento, lhes fosse dada”.
De acordo com Nuno Magalhães, “a maioria destes senadores não sabem sequer que foram substituídos”, apontando que “esta não é uma forma digna de tratar” aqueles a quem o partido deve “consideração, respeito e muita gratidão”.
O 29.º Congresso do CDS-PP está agendado para 27 e 28 de Novembro e são candidatos à liderança do partido o actual presidente, Francisco Rodrigues dos Santos, e o eurodeputado Nuno Melo. ■