DUARTE BRANQUINHO
Rúben Pacheco Correia tem apenas 18 anos, mas quer ser deputado à Assembleia da República. É o candidato do partido Nós, Cidadãos pelos Açores e, muito provavelmente, o mais jovem candidato que se apresentará nas próximas eleições legislativas. O DIABO entrevistou-o.
- O DIABO – Com apenas 18 anos, já escreveu vários livros e agora quer ser deputado. Como foi esse percurso?
Rúben Pacheco Correia – Sou um jovem sonhador. Um jovem de 18 anos como tantos outros, mas com as suas ideias muito bem definidas. Escrevi o meu primeiro livro aos dez anos de idade e publiquei-o quatro anos mais tarde. Desde então, percebi quais eram, realmente, as minhas aptidões mais aguçadas e defini algumas metas para a minha vida, quer a nível estudantil, literário, mas também político.
Sempre aprendi que sem metas não podemos marcar pontos. Então sempre levei os meus sonhos ao mais alto patamar, para que o sucesso fosse sempre o resultado de todo o meu trabalho esforçado que tenho vindo a dedicar em tudo aquilo que me envolvo.
Mas não podia apresentar-me sem referir aquilo que, a meu ver, é o ponto mais alto da minha identidade: sou açoriano, nascido e criado em Rabo de Peixe, Vila onde ainda resido. Nos últimos anos, tenho vindo a traçar um caminho interessante. Já estive envolvido em algumas actividades políticas, presidi uma Associação de Estudantes, da mais antiga escola dos Açores, e publiquei cinco obras, sendo uma delas sobre os Açores.
- Porque escolheu o Nós, Cidadãos para se candidatar?
Foi o próprio movimento que me escolheu e, neste sentido, lançou o convite que aceitei. Primeiro porque, da experiência partidária que tive, percebi que o actual sistema político e partidário, enraizado há já 40 anos, tem sido o principal causador do insucesso do nosso país. E explico: a bipolarização partidária (hoje em dia um pouco mais tripolarizada, quando não há maiorias) é um cancro para a democracia. Vemos, constantemente, partidos políticos a sobreporem ao interesse da Nação os seus próprios interesses internos/partidários. Esta guerrilha ideológica cega a isenção que deveria predominar numa democracia. Temos que saber ser isentos, aceitando propostas que, mesmo vindas de outras alas distantes das nossas, possam vir a constituir soluções interessantes para o País.
Por esta razão, por ver que um movimento de cidadãos defende, única e exclusivamente, os interesses de todos e não, apenas, de um determinado grupo, aceitei o convite. Aqui, neste movimento, não há rótulos de esquerda ou de direita. Há, sim, o sonho de levar o País para a frente.
- Como acha que pode marcar a diferença se for eleito?
Primeiro, porque estou a candidatar-me a deputado. Não me estou a candidatar a ministro. Candidato-me a deputado, pelo Círculo dos Açores, não só para dar o meu contributo para o desenvolvimento do País, mas, sobretudo, para ser a voz dos interesses da minha região nos órgãos de soberania nacionais. Porque, não o posso esconder, o que me move é o amor incondicional que tenho pelos Açores.
Não esperem de mim um representante dos interesses centrais na minha região, mas sim um convicto defensor da nossa identidade insular e dos seus problemas adjacentes.
Apesar de jovem (ou melhor: de muito jovem) conheço bem a realidade da minha terra. Não só a realidade dos Açores geográficos, mas também das nossas comunidades espalhadas por todo o mundo. Somos das regiões mais jovens do País, portanto é necessária a representação desta faixa etária em maioria nos órgãos de decisão.
- Já lhe disseram que é demasiado novo para se candidatar?
Muito acusam-me de me candidatar precocemente. Mas acho que o facto de ainda ser muito jovem traz-me mais vantagens do que desvantagens. Tenho consciência de que, quando for eleito, terei, inicialmente, um caminho de aprendizagem. Mas, depois, terei toda a energia normal na minha idade para aplicar nos interesses da Nação. Sou um jovem sem passado político, é verdade. Mas a verdade é que há passados que nos condenam e, destes, a maioria dos políticos em Portugal não se livram. Votar em mim é votar no futuro. É deixar acesa a chama da esperança.
- Como vê a participação dos jovens na política?
Os jovens de hoje estão muito desmotivados. E é bem normal, mediante todos os acontecimentos nos últimos anos. Eu acredito e sei que os jovens não querem envolver-se na política e nos partidos que a representam. Mas não o querem porque, quotidianamente, numa rede global como a nossa, onde tudo está à distância de um clique, as notícias chegam bem mais depressa. Hoje, é possível acompanhar os debates quinzenais em directo. Hoje, é possível assistir a eutanásias em directo. Hoje, é possível olhar para um ecrã e observar realidades distantes, mas em tempo real.
A informação em massa é uma realidade para todos. Já não é necessário ser-se curioso para abrir um jornal e ler uma notícia. Basta iniciarmos sessão numa qualquer rede social, onde, numa fracção de segundo, chovem “murais” de notícias.
Os jovens de hoje em dia não são menos jovens como os de antigamente. São, sim, mais informados. E esse excesso de informação é também ele responsável pelo afastamento que se sente na sociedade moderna.
- Como é que o “excesso de informação” provoca um afastamento?
Na chamada “política institucional”, a forma como muitos políticos têm tratado as questões públicas faz com que desacreditemos que qualquer mudança seja possível. De igual forma, os órgãos de comunicação social contribuem, também, com o dito “excesso de informação”, fazendo com que tenhamos uma má ideia da política e dos políticos. Valorizam-se excessivamente notícias sensacionalistas, a corrupção, o nepotismo, etc., e esquecem-se as boas atitudes políticas que também existem, mas que infelizmente têm sido em menor número.
- Como se podem atrair os jovens para a política?
Os jovens não estão isolados da restante sociedade. Os jovens também se interessam pela política. Mas não querem envolver-se em grupos que são, logo à partida, apresentados da pior forma. Ser-se jovem é, por natureza, ser-se sonhador… ser-se revolucionário! Não há política sem sonho, porque sonhar é o primeiro passo para a mudança. E nós temos essa capacidade aguçada! Não são os jovens que têm que se interessar mais pela política. São os políticos de hoje que têm que honrar os cargos para os quais foram legitimados; mostrar, através do seu exemplo, que a política é uma causa nobre e provar que “tudo vale a pena”, como dizia Pessoa. São, portanto, eles, os principais responsáveis pela descredibilização da política, porque é através dos seus maus exemplos que os jovens se afastam das causas públicas
Temos o futuro garantido. Dele não nos podemos livrar. Hoje ou amanhã seremos políticos. Estaremos a ajudar o nosso vizinho, a intervir na nossa rua, a colaborar com a nossa freguesia, a embelezar o nosso concelho, a desenvolver o nosso país! Porque a maior qualidade de se ser jovem é termos a possibilidade de mudar. E ainda estamos a tempo de provar que vale a pena…
Os jovens não querem ser instrumentalizados, obrigados a pensar pela cabeça dos outros. Não podemos ser tratados como se fôssemos crianças e obrigados a pensar e agir através de códigos impostos de forma unilateral pelos partidos ou instituições. Nós temos ideias e precisamos do espaço que nos permita fazê-las florescer.