Direita e moderados ganham terreno em ex-colónias

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ESTE ARTIGO FOI ORIGINALMENTE PUBLICADO A 14 DE AGOSTO

As eleições em S. Tomé e Príncipe, no Brasil e em Moçambique põem em causa o domínio dos partidos marxistas. Os regimes de ditadura disfarçada e de delírio esquerdista dominantes naquelas antigas colónias portuguesas podem sofrer, neste mês de Outubro, um sério revés nas urnas.

Tudo está em aberto: à hora de fecho desta edição, contavam-se ainda os votos no arquipélago de São Tomé e Príncipe, mas a ADI do político moderado Patrice Trovoada era dada como favorita nas eleições gerais; no Brasil, a esquerdista Dilma Rousseff vê tremer o poderio que lhe foi deixado em herança por Lula da Silva, agora questionada pela crescente popularidade de Aécio Neves na campanha para a segunda volta das presidenciais marcada para o próximo dia 26; e em Moçambique o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, ameaça directamente uma Frelimo instalada no poder há quase quatro décadas e confia numa votação expressiva nas eleições simultâneas (presidenciais e legislativas) desta quarta-feira.

A vida não está fácil para os tiranetes de esquerda e para os ex-terroristas que têm usado o poder em proveito próprio ou para imporem uma agenda radical que mantém os povos na miséria socialista.

GHANA ELECTIONPoderá Dhlakama ganhar as eleições presidenciais em Moçambique, suplantando a rica e poderosa máquina de campanha que a Frelimo mobilizou para apoiar o seu candidato, Filipe Nyusi? Ninguém sabe.

Só quando, esta quarta-feira, dia 15, os moçambicanos forem a votos se verá se o antigo líder guerrilheiro anti-marxista Afonso Marcheta Dhlakama conseguiu de facto arrebatar o eleitorado, como pareceram indicar as multidões que por todo o país acorreram aos seus comícios. Consiga ou não, algo ficou já claro: a Frelimo, que se eterniza no poder há 39 anos, perdeu decisivamente o exclusivo da vida política naquela antiga província ultramarina portuguesa.

As eleições de quarta-feira não questionam apenas o poderio da Frelimo na chefia do Estado: em sufrágio legislativo simultâneo, os moçambicanos elegerão também os deputados ao parlamento – e aqui o cenário repete-se.

Se corresponderem a votos as manifestações de apoio que tem recebido em diversas províncias, sobretudo no Centro e Norte do país, a Renamo poderá alcançar uma votação expressiva: talvez não suficiente para governar, mas em todo o caso bastante para influenciar a vida legislativa e obter participação na esfera executiva.

Já o MDM (partido que se perfilou como “alternativa” enquanto a Renamo e Dhlakama permaneceram afastados do processo político legal, acantonando o seu protesto nos refúgios da Gorongosa) parece agora relegado para um terceiro lugar distante e sem consequência, ultrapassado pela popularidade de Dhlakama e pelo discurso libertador que o seu regresso suscitou.

A campanha tem decorrido com entusiasmo, ainda que toldada pelos velhos “truques” que a Frelimo tira da cartola sempre que vê ameaçado o seu domínio exclusivo do poder, onde se instalou como partido “de Estado” a seguir à chamada independência, em 1975. São casos pequenos, mas sintomáticos da dificuldade que a Frelimo sente em aceitar as regras do jogo.

Na povoação de Moha, distrito de Sussundenga (província de Manica), militantes da Frelimo espancaram o delegado local da Renamo, Arlindo Maposse, e incendiaram a sua casa depois de o partido da perdiz ter andado na região em campanha eleitoral.

Outros agentes da Frelimo tentaram barrar a caravana da Renamo, levantando barricadas na via pública. E um pobre comerciante que se atrevera a vender comida a apoiantes de Dhlakama ficou, por ordem do chefe do posto administrativo de Moha, sem a sua licença de comércio. Não admira que o líder da Renamo fale em “segunda descolonização” e tenha sido aclamado na Beira como “o Mandela de Moçambique”…

Outro “truque” típico: a Frelimo atraiu a uma cilada palaciana o líder dos desmobilizados de guerra, Hermínio dos Santos, fazendo-lhe crer que o partido no poder desejava entregar-lhe um donativo e colocando-o numa posição em que aquele militante histórico da Renamo parecia, afinal, apoiar a Frelimo. Hermínio dos Santos teve de denunciar publicamente o estratagema, reiterando o seu apoio a Dhlakama.

O controlo da informação, típico dos governos marxistas que se renderam ao capitalismo mas não perderam os velhos hábitos, é outro campo em que a Frelimo gosta de exercitar a sua vasta experiência. Apesar de estar legalmente proibida a divulgação de sondagens, a televisão pública TVM tem emitido “previsões” de uma “vitória retumbante” da Frelimo.

Na cerimónia de celebração do Dia da Paz, na semana passada, em Maputo, o representante da Renamo, Jeremias Pondeca (que deveria usar da palavra, como estava previamente acordado com as autoridades), foi “esquecido” pelo Protocolo do Estado e os seus protestos de nada valeram.

Afonso Dhlakama, que se encontrava em Tete, prontificou-se a participar nas celebrações locais do mesmo Dia da Paz. Mas quando chegou ao local marcado, à hora prevista, já a cerimónia tinha acabado, pois o governador provincial de Tete resolveu “antecipá-la” para impedir o líder da Renamo de usar da palavra. Neste caso, saiu o tiro pela culatra: a multidão ignorou a cerimónia oficial e esperou Dhlakama na Praça da Paz, onde um comício de grandes dimensões paralisou o trânsito durante horas. O mesmo entusiasmo foi visível na vizinha província de Sofala, onde Dhlakama discursou fluentemente em língua N’dau.

A campanha eleitoral trouxe à superfície, entretanto, alguns aspectos menos conhecidos dos bastidores políticos moçambicanos, como o interessante entendimento entre a Frelimo e algumas organizações religiosas de índole protestante, como a seita pentecostal Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).

Segundo o porta-voz da Renamo (partido com conhecidas ligações à Igreja Católica), membros destacados de congregações e seitas protestantes têm feito propaganda eleitoral em favor da Frelimo, por vezes durante cerimónias litúrgicas, e “assistem calmamente enquanto membros da Renamo são atacados e as suas casas são incendiadas”.

Mas que são estes pequenos incidentes quando comparados com o que verdadeiramente está em causa? Na última semana, as autoridades da Frelimo anunciaram que o país é já o terceiro maior produtor de carvão vegetal em África e abriram concurso para a concessão de 15 novos blocos de pesquisa e produção de petróleo, incluindo três enormes concessões marítimas ao largo da província de Cabo Delgado, na bacia sedimentar do Rovuma.

Em resposta, Afonso Dhlakama já anunciou que, se ganhar as eleições, as empresas mineradoras passarão a pagar impostos, como toda a gente. Aqui, a notícia não reside na promessa do líder da Renamo – mas no facto extraordinário de o governo da Frelimo ter, até agora, dispensado as grandes empresas exploradoras dos recursos naturais desse desagradável incómodo de terem de contribuir para o fisco…

S. Tomé em busca de governo estável

O arquipélago de São Tomé e Príncipe foi a votos, no último Domingo, para eleger os autarcas, os dirigentes regionais e os deputados do país para os próximos quatro anos. Estavam recenseados 92.760 eleitores, de um total de 180 mil habitantes.

À hora de fecho desta edição, os resultados oficiais ainda não tinham sido divulgados, mas sondagens informais apontavam para a confirmação da ADI, do MLSTP e do MDFM como os partidos mais votados nas eleições legislativas. Já os prognósticos das eleições para as autarquias e para os órgãos regionais variavam de acordo com os cabeças de lista.

A Acção Democrática Independente (ADI) liderou as intenções de voto dos santomenses ao longo da campanha. Criada pelo antigo Presidente Miguel Trovoada, a ADI é actualmente dirigida por seu filho, Patrice Trovoada. Apesar de ter vencido confortavelmente as eleições legislativas de 2010, arrebatando 26 dos 55 lugares no parlamento (42%), Patrice alegou “perseguição política” e auto-exilou-se em Lisboa em 2012.

O seu regresso triunfal a São Tomé, na passada sexta-feira, animou a campanha eleitoral – com militantes do MLSTP a ameaçarem fisicamente o líder da ADI durante escaramuças em Água Izé. Sintomaticamente, Patrice Trovoada chegou a São Tomé, via Luanda, na companhia dos deputados portugueses José Ribeiro e Castro, do CDS, Nuno Serra, do PSD, e Mário Ruivo e João Portugal, do PS – um forte e abrangente leque de “padrinhos”.

O “mau da fita” destas eleições, o MLSTP, acrescentou “Partido Social Democrata” à sua designação oficial, mas não deixa de ser o velho Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe, de origens marxistas, que tomou o poder a seguir à “independência” e se instalou como partido único no aparelho do Estado. Detém ainda alguma influência junto da clientela eleitoral ligada ao sistema, mas perdeu a primazia nas urnas. Nas eleições de 2010 obteve apenas 32% dos votos.

O MLSTP apoiava, com o Movimento Democrático Força da Mudança (MDFM) e o Partido de Convergência Democrática (PCD), o governo no poder até Domingo, mas os observadores internacionais em São Tomé estimavam que a ADI poderia aspirar a uma maioria que lhe permitisse constituir um governo estável, algo que tem faltado a São Tomé desde a “independência”. Nos últimos 25 anos, o arquipélago já teve 20 governos, nenhum dos quais chegou ao fim do seu mandato.

As eleições foram acompanhadas por um grupo de 20 observadores da CPLP dirigido pelo diplomata cabo-verdiano Luís Fonseca. A realização dos três sufrágios simultâneos em São Tomé chegou a estar comprometida, quando em Setembro a Comissão Eleitoral Nacional anunciou que não dispunha de verba suficiente para concluir a organização do escrutínio nas duas ilhas. Mas com uma pronta ajuda da União Europeia, que contribuiu com 110 mil euros, os problemas logísticos foram ultrapassados. O próximo acto eleitoral no arquipélago (escolha do Presidente da República) está marcado para 2015.

Aécio baralha esquerda brasileira

peça 3E, de repente, o candidato que todos consideravam “derrotado à partida”, um simples “contrapeso” de centro-direita no grande combate entre as esquerdistas Dilma e Marina, acaba por ser o favorito na corrida pela Presidência da República do Brasil.

Aécio Neves, o “número 3” que estaria condenado a apoiar uma ou outra na segunda volta das presidenciais brasileiras, vai afinal disputar o ‘round’ final com Dilma Rousseff (marcado para 26 de Outubro) e já figura nas sondagens como o candidato com mais intenções de voto.

Surpresa? Sim e não. Sim, porque a comunicação social, mais uma vez, se enganou redondamente ao apostar num prognóstico que privilegiava a antiga terrorista Dilma Rousseff e a evangelista radical Marina Silva, ignorando totalmente as hipóteses de Aécio Neves. E não, porque o extremismo de Marina se tornara já cansativo e repetitivo no final da campanha para a primeira volta, ao mesmo tempo que Dilma acusava o desgaste de uma quebra de popularidade que remonta à trapalhada da realização do campeonato mundial de futebol, quando multidões em fúria saíram à rua para condenar o despesismo descabelado da sua gestão.

Surpreendida ou não pelos resultados da primeira volta (Dilma 42%, Aécio 34% e Marina 22%), a classe média brasileira parece ter despertado de um pesadelo ao acorrer às urnas para votar numa alternativa civilizada. Apesar de o voto ser obrigatório no Brasil, a abstenção alcançou os 20%, mas estes eleitores desinteressados poderão mudar de atitude depois de se ter confirmado a possibilidade concreta de Aécio, neto do antigo presidente Tancredo Neves, chegar ao poder.

Em Portugal, em cujos serviços consulares votaram 10.118 eleitores brasileiros aqui radicados, Aécio Neves (Partido da Social Democracia Brasileira, PSDB, de centro-direita), foi o mais votado na primeira volta, obtendo 38,43%. Em segundo lugar, a grande distância, ficou Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores, PT, de esquerda), com 28,20%. Uma votação muito idêntica (28,06%) foi obtida por Marina Silva (Partido Socialista Brasileiro, também de esquerda).