O colapso do sistema

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[avatar user=”serrao14″ size=”thumbnail” align=”left” /]A política portuguesa está refém de um fim de ciclo, cujos contornos estão envoltos num denso nevoeiro e onde pouco há a dizer em matéria de ideologia ou de modelos socio-políticos.

O rotativismo partidário nos governos (onde ao PS se sucede o PSD e assim sucessivamente…) é determinado pelas promessas de “mais dinheiro nas carteiras” e da sempre “certeza” “nós faremos melhor… porque sim”.

Longe vão os tempos das promessas de sociedade baseadas nos valores ideológicos que cada partido oferecia a Portugal. Longe vão os tempos da clareza ideológica e da previsibilidade do advir.

O ciclo PSD parece estar a chegar ao fim e a nova aurora socialista emerge em cada manhã. Às trapalhadas na educação e na justiça seguem-se as querelas internas na coligação.

O CDS, que sempre procurou estar dentro e fora do Governo, continua a sua cruzada de teimar em nos dizer que é contra a política fiscal, contra a austeridade, contra tudo o que é impopular e desagrada ao bem-estar dos portugueses… e como fazê-lo senão na praça pública?

Passos Coelho continua, aparentemente imperturbável, na sua caminhada até ao fim da legislatura, transmitindo a ideia de que o seu objectivo é chegar à meta, muito mais do que a sua preocupação com cada um de nós, alvos das políticas da austeridade e do empobrecimento. Passos Coelho, que já afirmou “que se lixem as eleições”, parece, na realidade, focado no “seu fim de ciclo” pouco mais se importando com tudo o que está à sua volta.

Neste contexto, emerge a cada dia a messiânica imagem de António Costa, de quem apenas sabemos que a dívida pública não é uma prioridade e que fará melhor mesmo honrando os compromissos internacionais a que o seu PS nos obrigou.

Os eleitores que em 2011 votaram PSD castigando o PS de Sócrates serão os mesmos que castigarão Passos Coelho e elegerão António Costa. E assim continuaremos… até à exaustão que se adivinha.

Que move este eleitorado que navega de Costa a Coelho e vice-versa? Apenas a ilusão de que o próximo será diferente e que lhe trará mais dinheiro, seja de que forma for.

Este é um eleitorado ideologicamente neutro e de matriz puramente pragmática que julga o poder pela medida da sua carteira.

Costa tem tudo para ganhar as próximas eleições legislativas. Mas isso significa que as políticas vão mudar? Que a austeridade vai terminar? Infelizmente, não estou crente nisso.

A Costa sucederá outro Messias que se há-de posicionar com a força mediática para convencer os mesmos de que com ele será diferente. No meio disto, os carreiristas dos aparelhos e as suas clientelas vão-se alterando e serão os únicos que retirarão resultados práticos imediatos…!

Daqui a um ano, passado o estado de graça de Costa, voltaremos a ter os sindicatos nas ruas lutando contra “as políticas de direita”, contra o ministro da Educação, contra o Ministro da Saúde, contra… tudo e mais alguma coisa que sirva como “prova de vida sindical”.

Voltaremos a ouvir a Oposição clamar contra as políticas do governo e a exigir a sua demissão… etc… ou seja, mais do mesmo.

Poucos são os que ousam dizer o óbvio: não são as pessoas… é o sistema que colapsou e já não serve os interesses do país e dos seus cidadãos.

Para onde vamos, afinal? Que futuro para Portugal? Quanto mais tempo demorarmos a perceber o óbvio, mais nos afundaremos e mais nos reduziremos à dependência do exterior, mais poremos em causa a nossa soberania e a nossa identidade nacional.