DIA DA MARINHA
A data da partida da armada de Vasco da Gama para a Índia, 8 de Julho, assinalou até 1998 o Dia da Marinha. Desde aquele ano, o Dia da Marinha passou a ser comemorado a 20 de Maio, data da chegada a Calecute. Mantendo a homenagem a Vasco da Gama, a alteração destinou-se, segundo o site da Marinha, a “dar ênfase ao cumprimento do objectivo perseguido durante décadas, o descobrimento do caminho marítimo para a Índia”.
Faz 518 anos desde que Vasco da Gama partiu da praia do Restelo a caminho do Oriente. Dez meses depois chegava a Calecute, tendo percorrido, pela primeira vez, o caminho marítimo para a Índia. O ponto culminante dos Descobrimentos Portugueses marcou o início de uma nova era na História universal.
A partida de Vasco da Gama para Calecute deu início à viagem que seria o momento mais alto da Expansão ultramarina. A importância da descoberta do caminho marítimo para a Índia pelo navegador português foi tal que o historiador inglês Arnold Toynbee a considerou um marco da História da humanidade: o início da “Era Gâmica”.
Durante quase 200 anos, do início do século XV até finais do século XVI, Portugal esteve na vanguarda da História do mundo. A grande aventura da Expansão iniciou-se com a conquista de Ceuta e prosseguiu com a descoberta das ilhas do Oceano Atlântico e com a exploração da costa ocidental de África. O projecto do Infante D. Henrique foi continuado por D. João II, que apontou a Índia como objectivo, atingido já no reinado de D. Manuel I.
Pais periférico, no extremo ocidental de uma Europa voltada para si própria ou envolvida numa guerra secular contra os sarracenos na bacia do Mediterrâneo, Portugal virou-se para o Atlântico e… deu “novos mundos ao mundo”.
Vasco da Gama (1469-1524), filho do alcaide-mor de Sines, foi escolhido por D. João II para ser o capitão-mor da expedição à Índia. A seguir à morte do Príncipe Perfeito, em 1495, a nomeação foi confirmada por D. Manuel I. Gama tinha 28 anos quando partiu do Restelo, em 8 de Julho de 1497, faz esta semana 518 anos. A armada era composta pela nau S. Gabriel, sob o comando do próprio capitão-mor, tendo como piloto Pêro de Alenquer, pela S. Rafael, capitaneada por Paulo da Gama (irmão mais velho de Vasco), pela caravela Bérrio e por um navio de transporte, destinado a ser queimado depois de esvaziado dos mantimentos. A tripulação contava entre 150 e 170 homens.
Depois de uma primeira escala na ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde, a armada dirigiu-se à Serra Leoa. Dali navegou em arco para oeste para contornar os ventos contrários, até apanhar outros favoráveis, mais a sul, que a aproximaram de novo da costa africana: os navegantes passaram três meses longe de terra. Só a 22 de Novembro, e após duas tentativas, dobraram o Cabo da Boa Esperança e fundearam na angra de S. Brás, onde queimaram o navio de mantimentos. Continuando para norte, ao longo da costa oriental de África, chegaram em fins de Janeiro de 1498 ao rio a que Vasco da Gama chamou dos Bons Sinais (onde seria erguida a cidade de Quelimane, em Moçambique), por ali ter obtido informações úteis para o prosseguimento da viagem. Foi ali que ocorreram os primeiros casos de escorbuto.
Ao chegarem à ilha de Moçambique, no princípio de Março, os portugueses confirmaram que ali se transaccionavam os produtos que procuravam no Oriente: ouro, prata e especiarias (pimenta e cravo). Em Abril desembarcaram em Mombaça mas sentiram-se em perigo quando os locais descobriram que os visitantes eram cristãos. Só em Melinde, mais a norte, foram bem recebidos e contrataram um piloto árabe que os conduziu ao destino final.
Em Calecute, na costa ocidental do subcontinente indiano, ao verem estátuas de deusas hindus nos templos, os portugueses julgaram a princípio ter estabelecido contacto com cristãos veneradores da Virgem Maria. Em breve perceberam o equívoco. A campanha anti-cristã dos mercadores muçulmanos foi decisiva: o samorim (como os nossos cronistas chamaram ao ‘samutiri’, designação do soberano de Calecute, à época Manavikraman Rajá) nunca viu com bons olhos os portugueses.
Ao fim de três meses de negociações infrutíferas, a 29 de Agosto de 1498, Vasco da Gama largou de Calecute. Após uma paragem na ilha de Angediva, onde os portugueses se encantaram com as mulheres nativas, episódio que serviu de inspiração a Camões para a “ilha dos Amores”, a armada foi apanhada pela monção. Em Mombaça houve que destruir a nau S. Rafael, danificada pela tempestade e com a tripulação dizimada pelo escorbuto. Em Cabo Verde, o capitão-mor separou-se da frota, dirigindo-se aos Açores para dar assistência ao irmão, gravemente doente. Paulo da Gama acabaria por morrer na ilha Terceira.
Vasco da Gama voltou a Lisboa em finais de Agosto ou início de Setembro de 1499, a bordo da nau S. Gabriel. A notícia do descobrimento do caminho marítimo para a Índia chegara em Julho, pelos tripulantes da caravela Bérrio.
D. Manuel I concedeu a Vasco da Gama e aos seus descendentes o título de Dom e o cargo de almirante da Índia. Atribuiu-lhe também uma tença de 300 mil cruzados por ano; autorizou-o a trazer da Índia mercadorias no valor de 200 cruzados por ano e negociá-las no reino sem outros encargos além da vintena para a Ordem de Cristo; e prometeu ainda doar-lhe a vila de Sines, o que não cumpriu. Mais tarde, atribuiu-lhe a Vidigueira, com o título de conde.
Voltaria mais duas vezes à Índia. Ao chegar a Calecute durante a segunda expedição, em finais de 1502, Vasco da Gama apresentou um ultimato ao samorim de Calecute, exigindo-lhe que expulsasse os muçulmanos da cidade e pagasse uma avultada indemnização por ter matado os portugueses que ali tinham ficado aquando da visita de Pedro Álvares Cabral. Como a intimação não foi acatada, Gama retaliou, mandando bombardear Calecute durante dois dias.
O navegador que ergueu bem alto o nome de Portugal morreu em Cochim, como vice-rei, durante a sua terceira viagem à Índia, na noite de Natal de 1524.