Considerando o momento histórico que hoje se vive é importante recordar que houve dois confrontos militares em sequência dentro do 25 de Novembro. João Cravinho in “expresso” de 31-10-2015.
Sendo igualmente falsa a afirmação agora produzida pelo eng. João Cravinho de que o Presidente da república se recusou a comparecer ao citado colóquio (homenagem a Melo Antunes). Nunes Liberato, Chefe da Casa Civil do Presidente da república in “expresso” 7-11-2015.
Tendo sido amigo e camarada de armas do irmão (já falecido) de João Cravinho, no CISMI, em Tavira e mesmo quando esteve a comandar a Guarda Fiscal de Olhão, nos anos 60 e 70 do século passado, sempre acompanhei o percurso deslizante deste político que, agora acuso de revisionista da história pós-25 de Abril.
E faço-o repescando o título do artigo que ele publicou no “Expresso” e acima referido: “Cavaco revisionista histórico”. Além do desmentido feito pela Presidência da República, atrás salientado, posso afirmar ser uma “monumental” incorrecção (tal como a podia rotular de falsa) quando diz ter havido dois 25 de Novembro e que o PCP, “na manhã desse dia deu-se por vencido e desmobilizou de imediato as forças que lhe eram afectas”.
Não foi assim. O Partido Comunista apenas deu ordem de retirada das acções de sublevação militar, em que estava empenhado, depois das 21H15, já com os “Comandos” liderados por Jaime Neves a ocupar Monsanto e as antenas da RTP recuperadas. Daí um ex-militante do PC, que participou pessoalmente nesta operação de sublevação a afirmar que “só recebeu a ordem de desmobilização no dia 25 às 22H00 e elementos do PCP do Tramagal ainda estarem a receber 120 espingardas automáticas G3, entregues por oficiais da Escola Prática de Engenharia (Tancos) às 21H00”. (in “Relatório Oficial do 25 de Novembro – Texto Integral”).
Socorrendo-me de artigo que publiquei no “Expresso” em 25-11-1995, onde explicava ao Professor Freitas do Amaral “A verdade histórica” do 25 de Novembro, com base naquele Relatório Oficial, lembro que “as então temidas 10/12 companhias de fuzileiros de Vale do Zebro apenas foram convencidas a desmobilizar por Rosa Coutinho e Martins Guerreiro (enviados de Costa Gomes) pelas 05H30/06H00 do dia 26 de Novembro”. E como se sabe esta tropa tinha as suas ligações ao PCP.
Curiosamente nesse meu artigo também dizia ser falsa a afirmação de Freitas do Amaral sobre Dinis de Almeida, já que este “foi um dos principais impulsionadores dos sublevados durante todo o dia 25 e ainda em 26, antes das duas horas da madrugada, pelo telefone e muito excitado, propõe ao 1º Tenente Ferreira da Silva o envio de duas companhias de fuzileiros para o RALIS, de onde juntos, arrancarão sobre Monsanto” (in “Relatório oficial”, vol. 2).
Ninguém poderá afirmar em consciência terem ocorrido dois 25 de Novembro, pois aquilo que João Cravinho salienta em relação a Alpoim Calvão e a Jaime Neves são “bocas” marginais em relação ao problema concreto que foi o golpe dos para-quedistas de Tancos (fora da cadeia hierárquica) a ocupar a maioria das Bases Aéreas de Portugal e o contra-golpe levado a efeito pelos Comandos da Amadora, comandados nas duas operações, Monsanto e cerco do Regimento de Polícia Militar (RPM) na Calçada da Ajuda, na manhã do dia 26, pelo então Comandante, Coronel Jaime Neves. Nesta, como é sabido foram os “Comandos” recebidos a tiro pelos militares do RPM.
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