A “minha” estação de metro

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JOÃO FILIPE PEREIRA

Após os atentados de Paris, naquele negro 13.º dia deste mês, sexta-feira que alguns diriam que previra azares, o mundo mudou mais um pouco. Os gritos por mais segurança sobrepuseram-se aos dos que gritavam pela Liberdade. Aquela que nós portugueses gabamo-nos de ter conseguido.

Porém, antes de falar de Portugal, permitam-me falar da “minha” estação de metro. Aquela que partilho a cada manhã e a cada final de dia com milhares (serão milhões?) de outros londrinos e imigrantes em Londres. A “minha” estação de metro foi evacuada a semana passada depois de alguém ameaçar com uma faca os passageiros de uma das carruagens.

Não reconheço a “minha” estação, aquela onde em outro dia, seguramente, não teria havido uma invasão de polícias em poucos minutos. Uma estação que não teria interrompido uma das principais linhas de metro da capital inglesa. Não reconheço neste episódio a “minha” estação. “Uma estação que já não é ‘minha’, mas dos que cederam ao medo e à barbárie”. Não se assustem! A frase não é minha e também não corresponde inteiramente à verdade.

A verdade é que há somente mais atenção aos pormenores. Há um nervosismo oculto dentro de cada um dos londrinos (imigrantes ou não, católicos ou de outras confissões). Esse nervosismo é uma protecção social e pessoal, extremamente importante. Ninguém o diz a alta voz, por ser politicamente incorrecto, mas em surdina lá se ouve dizer – entre os mais próximos – que na aproximação de muçulmanos há sempre um olho que percorre o perímetro em busca de um saco ou de um casaco mais grosso que não faça sentido e que possa ocultar perigo.

Mas regressemos a Portugal, onde a reacção foi bem mais impetuosa do que em Inglaterra. Sobretudo junto dos mais jovens. Com as redes sociais da Internet, estas jovens crias têm voz. E essa voz fez-se ouvir a seguir aos atentados. O que dizia era radicalmente perigoso: o encerramento integral das fronteiras e a recusa em absoluto de receber refugiados.

Não há nada pior que uma sociedade regida pela vigilância e sem liberdade. Estes jovens não sabem quem é George Orwell, nem leram Thomas Hobbes. E o “Jogos de Fome” é só um filme porreiro de Hollywood.

Estamos a criar uma juventude com o medo. Os pais não sabem ou não têm capacidade de educar estas crianças que em breve serão adultas. As escolas há alguns anos que recusaram o papel de formadoras. Por fim, a sociedade esqueceu-se de olhar para o futuro e não tira os olhos do Facebook.

O nosso País não está sozinho. Medidas como estas teriam que ser tomadas a nível europeu. Mas a Europa também se esquece do seu papel de líder. Os agentes políticos que elegemos para a Europa interessam-se mais pela carreira e por encher os bolsos do que realmente por dar seguimento a um projecto de União.

A entrada de refugiados no nosso País não trará um perigo mais acrescido, no que respeita a atentados. O problema da entrada de milhares ou milhões de refugiados em território europeu é a nível identitário e migratório, e é bem mais grave a longo prazo. Contudo, isso ninguém parece ver: não está no Facebook.