Alvíssaras pelo fim da pastelaria Suíça

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Suiça

MANUEL SILVEIRA DA CUNHA 

A pastelaria Suíça vai ter um fim. O turismo, a pressão imobiliária, o negócio desenfreado do qual a baixa de Lisboa se tornou palco vai tomar na sua voragem a antiga pastelaria Suíça, no Rossio de Lisboa. Será isso um momento triste? Infelizmente não, é um momento de felicidade, de gáudio máximo. É caso para dizer: lisboetas, alegremos a nossas almas, cantemos jubilosos cânticos, a pastelaria Suíça já mais não será!

A antiga pastelaria, onde eu em menino comia deliciosos bolos de noz, conhecidos precisamente por “nozes”, a pastelaria de boas cadeiras, de empregados atenciosos e  limpeza imaculada, desapareceu. Isto se não for apenas fruto de uma memória inventada por um deus benfazejo, uma vez que a imunda, cara e antipática casa de comida plástica em que a velha Suíça se tornou parece que ali habita há séculos.

A actual Suíça é tudo o que um lisboeta tradicionalista e conservador mais abomina. Massificada, caríssima, desprezando o lisboeta, abraçando os tostões do turista de pé descalço, ou de classe média baixa, com umas libras ou euros no bolso, é uma
imagem degradante de uma cidade que tem nos tuk-tuks o grande padrão de desenvolvimento lusitano.

Bolos mal confeccionados, comida abominável, esplanada descaracterizada – a Suíça, no Rossio, foi, com o tempo, tomando a imagem que os seus proprietários lhe quiseram dar, uma deplorável decadência com vidros e espelhos sujos, e plásticos, muitos plásticos. Só lhe faltava a abominável “francesinha” para acabar na mais infinita e inominável corrupção!

A Suíça não será pasto da voragem do novo turismo. Provavelmente só poderá melhorar, porque o infinitamente mau nunca poderá piorar. Se for transformada num lupanar ou num hotel de luxo, mudará apenas de categoria. A Suíça já era um monumento ao velho turismo, ao lucro fácil, à desqualificação.

A sua transformação será um raio de sol num Rossio em que a actual Suíça não se enquadra. Não, não temos pena, nem da Suíça, nem dos proprietários que, durante anos e anos enriqueceram à custa da desqualificação de um nome. Não temos pena, porque os proprietários ainda vão receber rios de dinheiro com o negócio em que transformaram uma
pastelaria histórica há muitos anos atrás, em vez de uma falência mais do que merecida
pelo péssimo serviço que têm prestado a Lisboa e ao País.

Meia dúzia de cromos resolveu escrever uma carta em espanhol (em espanhol, se-
nhores?!) ao senhor Nadal, um tenista que se deve estar tão nas tintas para a Suíça como
o autor destas linhas, não se apercebendo do ridículo de querer salvar esse antro do Rossio onde nunca devem ter entrado, pois a veemência da carta deixa entrever que aquilo seria uma espécie de palácio da cultura, do bom-gosto ou da qualidade de vida em
Portugal, quando é exactamente o contrário.

Qualquer recuperação de uma Suíça desaparecida há mais de meio século é uma
invenção anacrónica. Que venha o hotel de luxo, que, pelo menos esse, terá um bom projecto de decoração de interiores que não envergonhe Lisboa e o País.

Morra a Suíça, morra, PIM!