São estimados mais de cem mil os judeus brasileiros. Mas, como nas novas gerações, os casamentos fora da religião já são significativos; estima-se que sejam quase 200 mil no total. E presentes em todos os estados, embora com maior relevância em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, onde estão os mais antigos, que formam uma aristocracia judaica. A comunidade argentina é maior do que a brasileira e a terceira, a mexicana.
No sul, os Steinbruch têm hoje o neto do pioneiro, Benjamin, como CEO de um complexo que inclui a maior siderúrgica, a segunda maior empresa de extracção mineira, um grupo têxtil importante, um banco e criação de gado. Os Sirotsky são donos do complexo de “media” líder na imprensa escrita, rádio e televisão. E há ainda os Maisonnave, os Teruszkin, os Birmann, os Iochpe. Muitas coisas retratadas pelo escritor Moacyr Scliar nos seus livros. Estes primeiros judeus vieram pela articulação do Barão Hirsch, francês, que iniciou conversações ainda com D. Pedro II, do Brasil. E teve financiamento de outro nobre judeu francês, o Barão Rothschild. Entre as duas guerras muitos judeus vieram do Marrocos para o norte do Brasil e, depois de 30, os procedentes da Polónia, Bessarábia, Moldávia e Alemanha.
Em São Paulo, o poderio económico é referência, sendo as famílias Klabin-Lafer, com suas empresas no Paraná, os maiores industriais de papel e celulose e as maiores plantadores de pinheiros do mundo. Formam com os Feffer, da Suzano, a maior produção mundial. Há ainda o Safra, terceiro banco brasileiro e entidades financeiras relevantes como o Grupo Banco Rendimento e o Banco Daycoval, o Boticário, líder nacional na perfumaria, e a Cyrela, líder no imobiliário em São Paulo e presente no Rio e noutros estados. A lista é enorme.
No Rio, a relevância no comércio, desde as jóias com o pioneiro na lapidação, e que ganhou o mundo, Hans Stern, hoje com os herdeiros do fundador a negociar a venda à Vivara, de israelitas paulistas. E o Rio é sede da mais importante revista, do “site” e das produções de áudio e vídeo de temas judaicos, “Menorah”, de Ronaldo Gomlevsky, que foi vereador no Rio e o primeiro dirigente da comunidade eleito com voto directo.
Na comunicação social, temos o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), com Sílvio Santos, de nome Senor Abravanel, e, no passado, a “Manchete”, com Adolpho Bloch, e o “Última Hora”, com Samuel Wainer. O maior dono de autocarros, urbanos e interurbanos, é Jacob Barata, um luso-brasileiro. Jornalistas como Pedro Bial e Boris Casoy. Um dos maiores investidores da Bolsa de Valores é Vitor Adler, ligado em Portugal ao seu primo Felipe Resnikoff, referência no luxo imobiliário em Cascais. David Adler, o pai, foi o pioneiro na moderna cirurgia plástica no Brasil, em cuja escola se formou o lendário Ivo Pitanguy. O hospital Albert Einstein, em São Paulo, é considerado um dos melhores do Brasil e está entre os mais modernos do mundo no sector privado.
Existem casos admiráveis, como o de Arthur Haas, que foi para Minas, logo que foi fundada Belo Horizonte e, em pouco tempo, se tornou o maior revendedor da Ford no Brasil, dono do mercado de Minas Gerais. Sogro de Wolff Klabin, em 1935, ao saber que Henri Ford tinha admiração por Hitler, devolveu a representação. Atitude de dignidade que não lhe custou muito, pois, dois meses depois, desembarcaram em Belo Horizonte dois altos executivos da General Motors e ele fez do Chevrolet o carro e os camiões mais vendidos em Minas até o final do século passado.
Recentemente, assumiu interinamente a Presidência da República, o senador Davi Alcolumbre, sefardita que presidia o Senado. Nas Forças Armadas, há muitos oficiais generais judeus, como o Marechal Levy Cardoso, que esteve na II Guerra, Ramiro Bentes, que foi sogro de Adolpho Bloch, Isaac Nahoum e outros mais.
A criação do Estado de Israel aconteceu numa reunião da ONU, presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha que, como experiente político, conseguiu neutralizar alguns votos contrários à iniciativa e colocou em votação a proposta.
Este é o bom Brasil do luso-tropicalismo de Gilberto Freyre, da miscigenação, do convívio de religiões e povos. Nas grandes cidades, os espaços comerciais populares, que fornecem aos pequenos comerciantes do interior, são sírios, libaneses, cristãos e judeus. ■