Se a arte incorpora os hábitos e os costumes culturais, a arte sacra em Minas Gerais como no Rio, Salvador e Recife, traduz a marca dos colonizadores que se instalaram em busca do enriquecimento através do ouro e dos diamantes, levando ao interior o progresso e a cultura.
Sendo Portugal uma nação predominantemente católica, esta fé também se faz presente por toda Minas Gerais. O que comumente se denomina “arte colonial”, no estado, é, na verdade, arte cristã no seu aspecto universal. Desde as mais antigas vilas de Ouro Preto, percebemos uma orientação definida, uma “constante” no tipo de representação da arte religiosa, que torna clara as suas origens. Noutras regiões do Brasil, há o domínio de duas ou mais ordens religiosas, com suas biografias de santos e seus tipos característicos de decoração que apontam para diversas influências, todas europeias e de época.
As primeiras igrejas matrizes são todas iguais nos desenhos e nas dimensões às portuguesas. Os cruzeiros dos adros, com a escada, a lança, a esponja, o sudário, os cravos e a coroa de espinhos, são quase os mesmos. Os retábulos do começo do século XVIII são quase iguais nas vilas de Ouro Preto, Sabará, do Carmo, de São João del Rei, Tiradentes, Pitangui e Serro do Frio. E por todo Portugal. As invocações se distribuem dentro de um mesmo esquema e guardam semelhança com o que se constituiu em Pernambuco, Maranhão, Bahia e Rio de Janeiro.
Até os pobres e pretos das irmandades do Rosário, das Mercês e de Santa Efigénia acompanharam os endinheirados do seu tempo e as suas igrejas, ainda que menos ricas, também exibiam obras de arte que vão desde os primorosos livros de “compromisso” à beleza arquitectónica de suas linhas.
Esse mundo religioso, magistralmente representado pelos artistas, sendo a maioria deles anónimos, como é o caso dos frades franciscanos, operou transformações religiosas e sociais. A intensa presença franciscana, que por mais de um século trabalhou pela salvação das almas em Minas, criou notáveis monumentos de arte religiosa, assim como acções espontâneas dignas de admiração na conduta dos homens. No entanto, esse anonimato, que recobria a acção dos frades, explica o desconhecimento que temos da autoria dos riscos de igrejas, altares e imagens, que têm servido aos mitos e às lendas, como é o caso das obras atribuídas a António Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Eram portugueses, italianos e locais, quase todos identificáveis.
A família de Cláudio Manuel da Costa é muito importante para o estudo das origens da Capela de São Francisco. Descendentes italianos, devotos fervorosos de Nossa Senhora da Conceição, padroeira dos franciscanos, custearam a construção da capela cuja planta foi mandada fazer por Cláudio Manuel da Costa, para a construção de um convento no Rio de Janeiro. Vindo o poeta a residir em Vila Rica, aproveitou o projecto do desenho italiano com inspiração franciscana para a capela local.
Hoje, com a “Internet”, “media” digital, publicações abundantes, no Brasil como em Portugal, e viagens, verifica-se que as belas igrejas brasileiras dos séculos XVIII e XIX têm os mesmos traços das portuguesas, assim como as imagens. Pode ter uma diferença aqui ou ali, mas nada de “nativo”, o que torna cada vez mais desacreditado o mito do “Aleijadinho”, uma criação que uniu aproveitadores, mercadores de obras de arte e religiosos desonestos, que venderam peças das igrejas a antiquários, e, recentemente, a gente da ideologia de glorificar o mestiço como afirmação do povo brasileiro, com tendência bem à esquerda.
É preciso pesquisar sobre o assunto, que vai perdendo o sentido emocional dos cúmplices e beneficiários pela fraude. Falta uma obra ilustrada que mostre as igrejas de Portugal e do Brasil com as suas incríveis semelhanças e juntar a documentação que registra os desenhos e projectos iguais, apesar das escalas de tamanhos diferenciados.
Igrejas modernas, algumas até com o traço genial, de Oscar Niemeyer, ateu, agnóstico e comunista, como a Catedral de Brasília, o complexo da Pampulha e até a pequena capela na herdade do José Aparecido de Oliveira, no interior do Rio de Janeiro, são todas do século XX. ■