Circulam nas redes sociais, e em uso na publicidade oferecida por lei aos candidatos no rádio e na TV, gravações que seriam cómicas, não fossem trágicas, lamentáveis.
Lula da Silva é o mais atingido, pois tem relevância na política há mais tempo. Ele agora é apoiado pelo ex-presidente FHC, com quem disputou as eleições em 94 e 98, e todos os pleitos em São Paulo nestes 30 anos. Mas, num dos vídeos divulgados, FHC aparece a discursar com veemência declarando que o PT arruinou o Brasil e que “nunca se roubou tanto no Brasil” como nos governos Lula e Dilma. Outros repetem o vice de Lula, Geraldo Alckmin, que foi o candidato de FHC duas vezes a presidente da República, fazendo as mais contundentes acusações de corrupção ao seu hoje aliado.
Para Lula não ter descanso, são muitas as gravações em que o candidato das esquerdas manifesta apreço, apoio e solidariedade ao regime venezuelano, desde Chávez a Maduro. Instado a condenar Daniel Ortega pelas perseguições à Igreja Católica, Lula diz que “respeita a autodeterminação dos povos”. O constrangimento não fica por aí. Dois dos derrotados deste ano, a senadora Simone Tebet, que chegou em terceiro lugar, e o ex-governador e ministro Ciro Gomes, depois de criticarem de forma contundente Lula, apoiam-no também, em nome “da união das esquerdas”.
Já o presidente Bolsonaro, recordista de declarações infelizes, é alvo da repetição de brincadeiras de mau gosto sobre mulheres, “gays” e nordestinos, o negacionismo na pandemia e o atraso na compra de vacinas, que acabou por executar um exemplar Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19. É uma implacável perseguição, mais do que críticas, da maioria dos “media” tradicionais. A audiência de alguns programas jornalísticos tem caído significativamente pelo uso e abuso do tempo dedicado a notícias contra o presidente candidato à reeleição. A tal ponto que, segundo observadores, o tiro estaria a sair pela culatra devido ao exagero evidente.
Um dos assuntos que tem obtido eco no exterior é a existência de supostos 33 milhões de brasileiros a passar fome. O número, entretanto, não bate certo. Pois o governo oferece a mais de 35 milhões de pessoas um auxílio mensal médio em torno do equivalente a 130 euros, cujo valor de compra no Brasil é maior. Mais 99 milhões de trabalhadores com carteira assinada, mais oito milhões de funcionários públicos em diferentes níveis, mais 25 milhões de reformados. Repito: a conta não bate certa. Além disso, a solidariedade entre os brasileiros mais humildes é sabida, sendo estimadas aos milhões as refeições distribuídas aos mais carentes, por particulares e pelos diferentes níveis de governo. E cerca de um milhão e meio de refeições fornecidas pelo poder público ao preço do equivalente a 25 cêntimos de euro.
Há certamente muita pobreza, mas a miséria está dentro do que pode existir noutros países, em diferentes governos. A economia apresenta bons resultados na oferta de empregos, no controle da inflação, na gasolina a um euro, no “superavit” do comércio internacional, na queda da dívida pública, no número de projectos para os próximos cinco anos no valor de 10% do PIB, só nas parcerias e concessões. A troca de acusações entre os grupos em disputa foge ao razoável e, na maioria das vezes, afronta a verdade dos factos. Ambos os candidatos têm pontos fracos suficientes para que estas práticas não fossem usadas, repetem os humoristas. ■