“Portugalidade, Biografia Duma Nação”, a monumental obra de Domingos Mascarenhas, é de 1982, mas actual e certamente a maior referência no que toca à História de Portugal, desde seus primórdios. Um trabalho profundo de sentido didáctico, mas também de evocação de valores e que desperta o patriotismo e o orgulho nacional.
Nas páginas dedicadas a Portugal, do Estado Novo até o final dos anos vermelhos do 25 de Abril, em que a bibliografia é rica, a narrativa é honesta, singular por vezes, com base em factos, substantiva e não adjectiva, como tem sido habitual.
Domingos Mascarenhas precisa ser lembrado pela vida voltada para o jornalismo, a literatura, e o cinema, numa singular dedicação, não tendo faltado em seis anos no Rio de Janeiro como Adido Cultural e de Imprensa da Embaixada de Portugal, entre 63 e 69.
A independência de Domingos Mascarenhas e o seu compromisso com os valores do mundo ocidental, com base na liberdade, inclusive económica, justificam a oportunidade de uma reedição de sua obra, pois Portugal sofre, como tantos outros países, com a acção persistente daqueles que procuram destruir o patriotismo, o orgulho da pertença e com a fraudulenta campanha de desmerecer grandes homens.
Para ficar nos acontecimentos do século passado, da instituição do Estado Novo até o fim do ciclo radical do 25 de Abril, o livro aborda detalhes ocultados pelos donos da “nova história”. Como ao lembrar que Salazar chegou ao poder com 43 anos, formando uma equipa de jovens valores como Duarte Pacheco, com 33, e António Ferro, com 40. Mostra um Salazar renovador em todos os sentidos, o que passa despercebido nas obras conhecidas. Foi a maior troca de gerações da história de Portugal. Na avaliação histórica de Salazar reconhece os seus feitos, sem deixar de criticar a censura desnecessária e certo exagero no controlo policial da oposição.
As políticas de Portugal face à guerra civil de Espanha e à neutralidade na Segunda Guerra são, no livro, pérolas de narrativa correcta e objectiva. Regista a postura firme na questão dos Açores, quando Roosevelt defendeu a ocupação do território ultramarino.
Outro registo histórico pouco lembrado foi sua iniciativa quando da morte do Rei D. Manuel II, em 1941, em Londres. Salazar providenciou o enterro em Lisboa, em São Vicente de Fora, com honras de Chefe de Estado, reconhecendo a boa lembrança que os portugueses tinham da monarquia comparada com os anos de tumulto da República. O que foi repetido em 1950 quando da morte da Rainha Amélia, em França, e que foi para São Vicente de Fora em solenidade que levou milhares de portugueses às ruas da capital. Isso sem ser monárquico, mas de evidentes simpatias.
Domingos Mascarenhas também foi presença relevante como crítico, director e produtor de cinema. Assim como o seu amigo de convívio diário António Lopes Ribeiro, gerou os melhores anos do cinema português e, por isso, é bem lembrado. Marcou presença no jornalismo, no rádio e na fundação da “RTP”. Foi tradutor.
Sua obra inclui bom trabalho sobre a Rainha D. Amélia, escrito quando do falecimento e do seu traslado para Lisboa.
Homem de fé, foi chefe de família correcto, exemplo para os filhos e até para os netos. Os filhos, José Carlos, Domingos e Francisco, ficaram no Rio, tendo ele regressado com a filha Leonor, quando possível. Os dois últimos fundaram o icónico restaurante “Guimas”, até hoje um sucesso, e na cidade nasceu a neta Xandinha e o neto José António, que chegaram a ocupar cargos de direcção em importantes empresas jornalísticas no Brasil.
Reeditar o “Portugalidade”, para sua distribuição em meios académicos, militares e formadores de opinião, seria o melhor serviço neste momento para desintoxicar a mente da maioria silenciosa e pouco informada sobre a história de Portugal. ■