Estive por estes dias em Lisboa. A matar saudades do País, da cidade, da comida, do sol e, sobretudo, das pessoas: família e amigos. Mas Lisboa é cada vez mais uma cidade turística. Os lisboetas parecem não gostar do crescimento da oferta turística. Os “tuk-tuk” parecem ser uma pequena praga, mas os estrangeiros que nos visitam parecem adorar.
A Câmara de Lisboa está a preparar um relatório para conhecer o impacto que o turismo tem tido na cidade, após o crescimento do número de visitantes nos últimos anos. É que encontrar um português no Terreiro do Paço parece ser uma missão quase impossível.
Portugal precisa do dinheiro dos turistas e este é um dos poucos motores da economia que ainda funcionam. Mas até que ponto é que se pode ir em prol do Turismo?
O presidente da Junta de Freguesia de Santo António, Vasco Morgado, deputado municipal pelo PSD, mostrou-se preocu- pado em relação à “sustentabilidade do território face ao aumento do turismo”. O objectivo, diz, é “evitar que haja um novo êxodo de lisboetas para fora do centro da cidade”.
O Bairro Alto e o Cais do Sodré são dois exemplos da fuga de lisboetas em prol da diversão nocturna e turística.
A preocupação é geral. Os deputados Diogo Moura (CDS-PP) e Carlos Silva (PCP) Santos querem saber em que fase está o anunciado regulamento municipal para regulamentar a actividade dos “tuk tuk”.
Os taxistas andam desagradados. Os lisboetas andam desagradados. O Governo agradece o dinheiro injectado na economia e a criação de postos de trabalho. A verdade é que esta não é uma opção a longo prazo.
Portugal não pode ficar dependente de um único motor económico. Lisboa recebe 35 mil visitantes por dia e todos chegam em busca de uma cidade genuína e sem turismo. A batalha só agora começou. Muitos lisbo- etas agradecem a oportunidade de negócio, mas outros já temem o pior.
Já o Porto parece pertencer a um campeonato alternativo de destinos românticos. Nem Paris, nem Veneza à vista. O Porto lidera a votação em ‘site’ do jornal americano “USA Today”.
Quando Portugal é chamado à competição, os viajantes do 10Best.com, ‘site’ de viagens do grupo do jornal norte-americano “USA Today”, não desarmam. Nas votações dos “melhores” de várias temáticas que pro- move o 10Best.com, Portugal já foi eleito como “o melhor país da Europa a merecer uma visita” ou o Alentejo a “melhor região de vinho do mundo a visitar”.
Ainda assim, o Alentejo é a região de Portugal que alberga proporcionalmente menos turistas estrangeiros. São apenas 30 por cento – três em cada dez – contra cerca de 70 por cento no Algarve ou na zona de Lisboa e 80 por cento na Madeira.
Este é apenas um retrato pontual do complexo quadro de disparidades do turismo no país que emerge de números agora compilados pela base de dados Pordata, para os 308 municípios portugueses.
A proporção de hóspedes estrangeiros nos estabelecimentos hoteleiros é apenas um exemplo. Seis dos dez municípios com mais hóspedes de fora do país são da Madeira, a começar por Santa Cruz, que está no topo da lista com 84,8 por cento. Funchal, Ponta do Sol, Machico, Calheta, São Vicente e Ribeira Brava são os outros.
Continuamos um país de contrastes em que o Interior continua a ser esquecido. E neste aspecto até parece que pelo menos haverá um lado positivo. O Portugal profundo será o Portugal como o conhecemos, o verdadeiro Portugal, quiçá. Ou pelo menos um Portugal que não se mascarou para uma festa turística.
O Turismo é positivo e necessário. Mas não pode esquecer o património, a cultura e o País. Temos de ter um pensamento sustentável. Caso contrário, Lisboa será o novo Algarve… ou “Allgarve”.