Portugueses só se preocuparam com a privatização da TAP

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João-Filipe-Pereira_PB-150x150Sabe quantas empresas públicas portuguesas estão desde início na lista de Passos Coelho para serem privatizadas? Águas de Portugal, EDP, REN, GALP, TAP, ANA, CPCARGA, CTT e ainda a RTP, a LUSA e os Seguros da CGD.

No entanto, os portugueses só parecem manifestar verdadeiro interesse no que respeita à privatização dos transportes aéreos que em breve vão deixar de ser portugueses. Quiçá mais por uma questão de orgulho do que por razões económicas, eu estou contra a privatização da TAP. No entanto, creio que havia condições para a não-privatização, ainda que os interesses instalados na empresa – que consta com dezenas de sindicatos cujo interesse é todo menos nacional – muitas vezes tenham sido um obstáculo à reformulação da empresa.

Há uns largos meses li uma entrevista a um dos fundadores de um jornal económico (não me recordo qual) em que o mesmo contava que, no início, quis distribuir gratuitamente o jornal nos aviões da TAP, mas viu as suas pretensões esbarradas pelo facto de isso obrigar a uma nova ronda de negociações com sindicatos. Seria mais uma função a atribuir a algum sector e isso obrigaria a negociações. Para quem trabalhou sempre no sector privado como eu, tal realidade é completamente estranha e a roçar o ridículo. Por algum motivo já Guterres falava na privatização da TAP.

Falta ainda saber se este consórcio de fachada que agora comprou a transportadora vai passar no crivo europeu. É que a maioria de capital não é português. E tenho muitas dúvidas que seja maioritariamente europeu como exigem as normas. Mais cedo ou mais tarde iremos descobrir.

Porém, o que me tem vindo a atormentar nestes dias é uma questão de princípios: onde estavam estes portugueses que agora gritam, lutam, escrevem e rabiscam contra a privatização da TAP quando Passos Coelho avançou para a privatização da EDP, das Águas de Portugal ou dos CTT?

Estamos a perder serviços bem mais importantes e bem mais preciosos e há, por parte dos portugueses (e da generalidade da Oposição política), um encolher de ombros estranho, silencioso e que compactua com esta atitude de “ven/dar” (fazer de conta que se vende quando de facto se está a dar ao preço da uva mijona).

A EDP dava prejuízo? A PT dava prejuízo? As Águas de Portugal davam prejuízo?

Andam a brincar com os portugueses, a vender o País com políticas mais liberais do que as políticas mais liberais já relatadas nos livros de história.

Passos e Sócrates são teimosos, mas são diferentes. Sócrates vendia a imagem de um País financeiro que não existia, Passos usa o discurso do medo de um País financeiro que os mercados querem que exista para que o povo não se revolte.

Irei em breve de férias até Portugal. Por favor, não deixem que privatizem também as praias.