RTP e um problema chamado “portugueses”

0
2325

João-Filipe-Pereira_PB-150x150JOÃO FILIPE PEREIRA

As críticas à estação pública de televisão têm sido muitas e quase sempre com uma assertividade que coloca os funcionários da RTP debaixo de um fogo de culpas disparado pelo governo e pelos próprios portugueses.

Algo não bate certo, no entanto, quando olhamos para a grelha de programação e para as audiências. Recordo-me de “Perdidos” – “Lost” no nome original – uma série de enorme sucesso ter estado em antena alguns episódios ao sábado à tarde, ter passado para a noite mais tarde, antes de ter ela própria desaparecido da programação. Não havia audiências para uma das séries mais aclamadas da época? É provável que não houvesse. Olhemos para a RTP2 – durante muitos anos um bastião de séries de culto. Um canal de serviço público cujo o fim-de-semana tinha a programação desportiva de maior qualidade que já vi em toda a minha vida e só comparada, agora, com os canais temáticos por cabo – que são pagos pelos portugueses.

Porque estão – e sempre estiveram – os portugueses de costas voltadas com a RTP? Desculpem os mais radicais, mas a culpa é nossa. Dos espectadores.

“O último a sair” ou “Os Contemporâneos” foram outros dos programas de grande qualidade e que acabaram por não ter os resultados pretendidos. Programas com um investimento relevante que não alcançaram nem os resultados merecidos nem os desejáveis.

“A Praça da Alegria” foi uma resistente. Bem como “O Preço Certo”. Pouco, muito pouco, para uma estação de todos nós.

Dirão os mais puritanos que os programas que referi mais em cima tinham como público-alvo os jovens portugueses, quando, em boa verdade, são os mais velhos quem vê televisão. Poderia este escriba contra-argumentar com o facto de haver cada vez mais jovens a assistirem a séries. Que foram os jovens a fazerem o sucesso de “Perdidos” lá por fora ou que são os jovens portugueses que contribuem também para o sucesso ‘online’ de “A Guerra dos Tronos”. Não é preciso. A RTP apostou num formato para uma classe etária mais velha: “Bem-vindos a Beirais”.

Confesso que apesar de os meus pais serem fãs incondicionais da série portuguesa, só esta semana coloquei um olho no programa. Falamos de uma série viciante, de elevada qualidade, que tem audiências, mas que dificilmente irá ser retomada e deverá acabar de vez.

“Beirais” é o programa bem disposto do serão. Onde não entra a violência, o sangue ou o sexo. Entra a vida de todos nós, caricaturada com representações que prestigiam a arte nacional.

Mais uma vez uma série de culto morre sem o ‘glamour’ de uma “Casa dos Segredos” ou de um outro qualquer ‘reality show’.

Fazer televisão é difícil com estes portugueses…