Quando a verdade é inconveniente para touros e políticos

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JOÃO FILIPE PEREIRA

Ainda aí em voga a confirmação de factos. Parece que os jornais acordaram para o jornalismo e agora criam caixas onde explicam se determinadas afirmações correspondem ou não à verdade. Pensava este opinador que a isso se chamava notícias. Parece que não.

Vem isto a propósito de duas situações recentes. A primeira sobre o corte de fundos europeus para touradas e a segunda o facto de o jornal “Público” escrever que Luís Montenegro e Nuno Magalhães estavam errados ao dizer que esta é a primeira vez que se elege um Presidente da Assembleia da República contra a sugestão do partido mais votado.

Comecemos pelos touros. Não sou fã de touradas. Pessoalmente não me divirto com um cavalo que sabe mais fintas que o Figo a correr em frente a um touro. Ainda que admire a coragem dos forcados e goste de ver uma boa pega. Dito isto, não sou dos que lutam pelo fim das touradas. Mas gosto de honestidade política.

Os jornais de primeira não tiveram pudor em noticiar a semana passada que a Europa aprovou o fim dos subsídios para as touradas. Os jornalistas já nem querem saber dos contextos, já nem se questionam… Vendem verdades que lhes são vendidas, sem espírito crítico.

Pois bem, independentemente de se gosta de touradas ou não, a verdade é que não existem fundos comunitários para actividades com fins tauromáquicos. Ou seja, não se pode acabar com algo que não existe. Mais, a proposta seria só vigente para “actividades de tauromaquia em que o touro seja morto”. O que não acontece em Portugal – ainda que o touro acabe por ser abatido no final, fora da actividade tauromáquica.

A própria Comissão Europeia já explicou entretanto que, desde 2003, os subsídios recebidos pelos agricultores “deixaram de estar ligados ao que produzem e em que quantidade para ficarem sujeitos ao respeito de determinados padrões” relacionados com o ambiente ou o bem-estar animal.

Outra das verdades inconvenientes desta semana é que – ao contrário do que o jornal “Público” escreve – Luís Montenegro tem mesmo razão quando diz que esta é a primeira vez que um Presidente da Assembleia da República é eleito contra sugestão do partido mais votado.

Quem fez a verificação dos factos foi o ex-deputado do CDS-PP, Michael Seufert. O centrista publicou no seu blogue uma explicação detalhada daquilo a que o matutino dizia terem sido excepções no passado. Não o foram. Seufert fez um trabalho que deveria envergonhar o jornal.

Nunca um Presidente da Assembleia da República tinha sido eleito contra a vontade do partido mais votado. Nunca.

O problema está mesmo no carácter das pessoas que a dita Esquerda unida coloca à frente de Instituições que deveria ser do povo. No discurso de posse como presidente do Parlamento, Eduardo Ferro Rodrigues deixou recados à coligação e críticas encapotadas ao Presidente da República.

Nunca o cinismo, a hipocrisia e a política rasteira estiveram tão presentes no nosso dia-a-dia.