Soube-se que os transportes de Lisboa serão entregues aos espanhóis da “Avanza”, esta empresa tem, de facto, capitais mexicanos mas sede em Espanha.
Entretanto, António Costa defende o chamado eixo ibérico com o chefe do partido socialista espanhol Pedro Sánchez. Segundo o PS português, visa-se “aprofundar a integração e a cooperação ibérica”, que plasma “um compromisso político para implementar um programa de reformas e políticas comum para promover o desenvolvimento económico e social”. Também irão rubricar um texto sobre a convergência dos dois países no contexto europeu, que se inscreve no trigésimo aniversário da entrada dos dois países ibéricos na então Comunidade Económica Europeia (CEE).
Será que os políticos do chamado “arco do poder” nunca estudaram história? Ou será que o seu exemplo político é o conde Andeiro ou o mais moderno Miguel de Vasconcelos?
As políticas de aproximação a Espanha são o contrário de toda a matriz portuguesa e de toda a sua história. Sempre fomos aliados de Navarra, Aragão e de Inglaterra contra a hegemonia castelhana que interessava minar. A Espanha sempre actuou de forma traiçoeira contra Portugal. A política de alianças e de casamentos, desde Dom Afonso Henriques, visou sempre passar por cima de Castela de forma a isolar o nosso vizinho hegemonista, enfraquecê-lo e evitar que pusesse as patas em Portugal.
Quando esquecemos estes princípios tivemos gravíssimas crises dinásticas. Foi assim em 1383, foi assim mais tarde com a idiotia política de D. Manuel que, afortunadamente, herdou o reino de D. João II mas que não herdou a sua teleologia e a sua visão política e estratégica. Já antes as aventuras de Afonso V tinham servido de lição a João II; no entanto, D. Manuel, que entendia tanto de geoestratégia que mandou prender Dom Duarte Pacheco Pereira, resolveu aproximar-se dos Habsburgos espanhóis o que levou à perda da independência em 1580. A dinastia de Bragança, com a pequena excepção de uma filha de D. João V, seguiu a política dos fundadores e de D. João II.
Finalmente, Salazar entendia perfeitamente o contexto ibérico e tinha conhecimentos profundos de história, percebia o sentido profundamente assimétrico da relação ibérica, e foi deixando Franco e a sua Espanha hegemónica subtilmente à margem.
Chegamos a estes tempos sem teleologia, com putativos pretendentes ao governo, sem qualquer entendimento da história. Dar aos espanhóis empresas estratégicas é não entender que o domínio e a soberania são hoje, sobretudo, obtidos de forma económica. Não são necessários exércitos derrotados em batalhas ou governos nomeados por Espanha: aos Filipes de hoje, e é significativo que o rei de Espanha seja de novo um Filipe, basta dominar as empresas portuguesas, basta ter lacaios no governo ou na oposição do arco do poder.
Infelizmente, Espanha tem dezenas de Migueis de Vasconcelos, de condes Andeiros ou de Josés Saramagos para servir e fazer a propaganda do espanhol. O Corte Inglês aí está para o provar. Os rios portugueses secos pelos transvases espanhóis são prova bastante, sem protestos sequer esboçados pelos senhores de espinha serviçal que nos governam.
Maior integração ibérica? Com Castela? Se nos falassem de maior integração na cultura europeia, mantendo a força da nacionalidade, do mito fundador, e o vernáculo português, ficaríamos mais descansados. Entretanto somos governados por gente sem princípios, verdadeiros traidores aos princípios da soberania nacional e ao sangue derramado pelos nossos antepassados.