Lisboa é uma cidade lindíssima, cheia de luz e paixão, de bairros e gente boa. Infelizmente, é palco de vilipêndios pelos políticos e dirigentes que a comandam. É inacreditável como se escolhem estes autarcas e os lisboetas continuam a votar nos mesmos.
É moda elogiar Lisboa; no entanto, quem elogia a cidade não pode ser seu habitante. As ruas estão pavimentadas por belíssimas calçadas portuguesas, únicas no mundo, infelizmente a Câmara Municipal quer destruir as calçadas; como tal, para justificar que são perigosas e difíceis de manter, deixa de as conservar onde as quer destruir. As Juntas sem meios vêem-se em situações confrangedoras, são ervas daninhas que não se limpam nem se exterminam, matagais onde cães e gatos mijam e cagam; as ruas estão pavimentadas em belo calcário, mas os tapetes que as cobrem são de dejectos animais. Os únicos locais onde se conservam as ruas são as zonas para turistas, que os autarcas de Lisboa, com a sua sempre pronta coluna serviçal dobrável para as negociatas, consideram a galinha dos ovos de ouro em detrimento dos habitantes.
A Câmara realizou podas colossais em árvores. Em que mês?, perguntará o leitor. Em Abril e Maio! Consequência: zonas habitualmente protegidas por sombra estão agora a sofrer a inclemência de um calor tórrido, as árvores parecem anãs enfezadas e pouco nobres e a poda tardia pode afectar o estado sanitário das árvores e mesmo matá-las. Entretanto, há árvores mortas por todo o lado e não são retiradas, muitas delas ainda jovens, cepos desolados em relvados mal regados em que as ervas daninhas constituem o tapete, a par dos inefáveis e omnipresentes dejectos caninos.
O trânsito é um inferno, carros nas avenidas sempre em segunda fila. A Câmara e a sua gigantesca máquina, incluindo repressora, nada faz. Proíbem-se os pobres de ir à Baixa, reservada aos carros dos ricos e para turista ver.
Autocarros velhos e os chamados tuc tuc, poluentes, ruidosos, empestam de gases de escape as mesmas zonas onde automóveis mais antigos não podem entrar, turista manda, se viessem em Trabants abria-se logo uma excepção para os “engraçados” carros a dois tempos da antiga Alemanha de Leste. Sem regulamentação, de forma selvagem, inseguros, poluentes, os tuc tucs enxameiam de forma selvagem todas as zonas turísticas da cidade impedindo moradores de circular e tornando as suas vidas em verdadeiros infernos.
Comerciantes vivem infernos legislativos e taxas incomensuráveis, no entanto os “hostels” são às centenas e os quartos alugados transformam os prédios pouco insonorizados em infernos sem repouso para os habitantes. Para turistas não há regras nenhumas, para os locais inventam-se cada dia novas regras para tornar a vida do lisboeta mais miserável.
Agora o senhor Salgado, vereador e arquitecto, ligado familiarmente aos Espírito Santo, responsável pelo crime de acabar com o quartel dos Sapadores Bombeiros da Luz para dar lugar a uma ampliação do hospital do mesmo nome, vem falar em acabar com a Estação de Santa Apolónia, estação central, ligada pela nova estação de Metro ao resto da cidade e componente central de anos de planificação urbana na capital. Isso de andar de comboio e chegar ao trabalho a tempo e horas ao centro da cidade não é um direito e um avanço civilizacional. Parece que existem terrenos a valorizar junto do que seria o jardim de Santa Apolónia, essa é a razão de fazer planeamento e política desta gente. Ainda se os turistas chegassem de comboio ao centro, mas são só os de pé descalço…