Morreram, à data deste artigo, dois formandos do curso de comandos. Dois jovens, militares, que pretendiam acesso ao escol das forças especiais portuguesas.
Ao longo dos anos têm falecido formandos deste curso, em situações, pois, de treino. Ao contrário dos cursos de fuzileiros, de pára-quedistas ou das tropas de operações especiais de Lamego, mais conhecidos por ‘rangers’, o curso de comandos é particularmente propenso a mortes de jovens instruendos.
No caso vertente, e apesar dos cuidados que estas situações sempre merecem, não estamos em face de uma situação única, quer na escala de tempo longa – estes acidentes têm ocorrido desde há mais de vinte anos – quer na escala de tempo curta. Os jovens candidatos ao curso de comando que recolheram ao hospital foram seis, morreram dois e dois ainda estão, à data deste artigo, nos cuidados intensivos.
Por consequência, esta situação não é apenas um acidente isolado devido, eventualmente, ao voluntarismo dos jovens ou a uma particular condição física específica não evidenciada em testes médicos.
Estas situações devem-se, segundo especialistas contactados pelo autor, a diversas ordens de factores.
O primeiro será insuficiente selecção e os testes, físicos e psicológicos, realizados aos candidatos.
A segunda causa será a deficiente preparação dos instrutores, jovens oficiais subalternos, levando a exigências físicas absurdas, possíveis racionamentos de alimentos e água, desrespeitando a duplicação ordenada pelos directores dos cursos. Os oficiais subalternos, matarruanos, com problemas de afirmação e com tendência para se armarem em “rambos” de trazer por casa, podem ter originado esta grave crise. Não afirmamos que possa ser esta a causa fundamental, mas a sequência destes acidentes no comandos, tropas cujas exigências em matéria de cursos não são maiores do que as dos ‘rangers’ ou fuzileiros, leva a crer que os instrutores não cumprem os requisitos de sensibilidade e inteligência para as dificuldades dos cursos e para a condições particulares de cada curso.
Em terceiro lugar, temos o problema do médico que lidou com o caso, que por inexperiência, por insensibilidade, ou por não ser especializado nestes casos, não se apercebeu atempadamente da gravidade do estado dos jovens e os deixou em “observação” na enfermaria. A transferência a tempo para um hospital especializado, evitando seis horas e meia na enfermaria, poderia ter salvado as vidas e evitado graves repercussões na saúde dos sobreviventes. O comportamento deste médico militar deve ser investigado com grande rigor.
Finalmente, resta a questão dos superiores. Os instrutores deveriam exemplificar todos os passos dos exercícios e realizá-los em conjunto com os instruendos, coisa que, sabemos bem, não realizam. Os oficiais superiores deveriam acompanhar o curso e intervir em caso de ruptura das condições de segurança. Os oficiais superiores e directores do curso são responsáveis pela escolha apropriada dos instrutores, e são também responsáveis pela segurança dos instruendos, jovens que confiaram na instituição militar. Os ‘rangers’, por exemplo, têm como princípio a confiança absoluta dos homens nos seus oficiais. Que confiança podem ter os comandos nos seus oficiais, se estes deixam um curso de comandos acabar assim? Seis homens gravemente feridos, dois dos quais mortos?
Alguma coisa falhou gravemente. O inquérito ditará o que foi. Uma das razões acima será eventualmente invocada, mas a responsabilidade máxima é do comando do curso e do comandante actual do regimento de comandos que formata subalternos à sua imagem.
Houve certamente incúria. O exemplo de ‘rangers’ e fuzileiros, a sensibilidade e respeito que nestas unidades se tem pelos seres humanos à sua guarda, deve ser também o mote para os comandos no futuro. Forças que fazem falta ao País e que tanto o dignificaram no passado não podem ser meros conjuntos de “rambos” ignorantes, recalcados, de camuflados apertados de forma ridícula para mostrar músculo mas impedir movimentos reais em combate…