O grande esquema

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MANUEL SILVEIRA CUNHA

Os portugueses estão a pagar milhares de milhões de euros, mais de cinco mil milhões de euros, segundo estimativas conservadoras pelo resgate do Banco espírito Santo (BES). O impacto no PIB português da queda do BES é de 25 mil milhões de euros, segundo estudos de José Poças Esteves e Avelino de Jesus. O desemprego directo provocado pela queda do BES é de cerca de 40 mil postos de trabalho. Os custos para os contribuintes portugueses, além da perda de valor do PIB, são de mais de 15 mil milhões de euros em impostos que têm de sair de outras fontes.

Estes valores são astronómicos. Davam para pagar os aumentos devidos ao tempo de serviço dos professores, para financiar as universidades, para reequipar as forças armadas, para colmatar os problemas em todo o serviço nacional de saúde.

Se os esquemas fraudulentos e corruptos dos “donos disto tudo” que beneficiaram Luís Filipe Vieira, Nuno Vasconcelos, Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, José Sócrates Pinto de Sousa, Manuel Pinho, os envolvidos no escândalo BES Angola, e uma miríade de amigos do regime que, de forma transversal aos partidos do poder, com ênfase no PS, se foram locupletando com dinheiros dos clientes e accionistas do BES, Portugal poderia enfrentar com confiança estes anos pós-Troika.

Não fora o milagre do turismo desenfreado que assola hoje Portugal, “milagre” que absorveu o desemprego na sociedade pela queda do BES, desemprego desqualificado e servil na sua maior parte, pior pago, com menos qualidade, não fora a entrada de divisas produzidas pelo turismo e pelas bolhas associadas ao mesmo, que tem levado a ser vendido a retalho, e estaríamos sem meios para pagar as extraordinárias dívidas contraídas precisamente por J. S. Pinto de Sousa enquanto primeiro-ministro, dívidas para suportar loucuras megalómanas como o TGV e que apenas serviam para sustentar toda uma clientela de favorecimentos e esquemas corruptos de retirar dinheiro ao erário público.

A infelicidade de Ricardo Salgado foi precisamente a queda de Pinto de Sousa e de Manuel Pinho e a entrada da troika. À sombra dos dinheiros públicos, emprestados por nacionais e estrangeiros, Ricardo Salgado e a sua trupe obtinha proventos colossais, num esquema sempre coberto com mais empréstimos e operações duvidosas, num esquema em pirâmide em que todos lucravam e apenas os contribuintes portugueses ficavam com as dívidas.

Hoje, quando o Banco de Portugal publica a acusação aos actos danosos da gestão no BES, sabe-se a extensão dos presumíveis crimes praticados e a teia de implicados. Enquanto meia dúzia de tontinhos anda a implicar contra as touradas, os mesmíssimos senhores continuam a passear-se em liberdade, a alardear os milhões que arrecadaram e que têm ainda bem escondidos noutros esquemas, depositados em nome de amigos e familiares, em offshores bem escondidas em paraísos fiscais. Pior, Manuel Pinho dá-se ao luxo de tourear os deputados e de espetar umas dezenas de bandarilhas nos portugueses ao afirmar que “veio para ver o futebol ao parlamento, não veio para lavar as escadas” como se responder às questões legítimas dos deputados e, sobretudo, dos portugueses, fosse o acto de lavar umas escadas.

Depois de o Ministério Público ter actuado bem contra Pinto de Sousa, gostaríamos de saber o que anda a ser feito nos casos extraordinários de Manuel Pinho e de Ricardo Salgado, entre muitos outros.

Nos Estados Unidos, muita desta gente já estaria na cadeia onde apodreceria por muitos anos. Os simples actos de gestão desastrosa seriam motivo para punições severíssimas pela justiça. Em Portugal parece que apenas há dois juízes de instrução, o severo Carlos Alexandre e o leniente Ivo Rosa, e que depois de chegarem ao tribunal de instrução os processos levam milhares de anos a chegar à fase de julgamento.

Portugal não pode esperar mais pela justiça, é todo um País que foi espoliado, roubado, são velhos que morrem ao abandono nos hospitais após horas de espera, são crianças sem futuro, são milhares de portugueses que tiveram de emigrar, são milhares de desempregados, são milhares de empresas falidas. Por detrás destes números há dramas individuais.