A percepção da guerra na Ucrânia pela CPLP

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Publicamos no trigésimo primeiro número da NOVA ÁGUIA os textos apresentados no I Encontro do Observatório SEDES da CPLP/ VIII Congresso MIL da Cidadania Lusófona, que decorreu a 20 de Dezembro de 2022, na sede da SEDES: Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, ocasião em que, no final, foi entregue o Prémio MIL Personalidade Lusófona 2022 a Jorge Carlos Fonseca, ex-Presidente da República de Cabo Verde.

Para este evento, convidámos representantes da sociedade civil dos vários países da CPLP: Comunidade dos Países de Língua Portuguesa –, bem como de outras regiões do espaço lusófono. Estiveram presentes, nomeadamente, Jorge Rangel, Presidente do Instituto Internacional de Macau, e Bernardino Crego Cervantes, em representação de algumas associações galegas.

O propósito, plenamente conseguido, foi o de perceber a forma diversa como a Guerra da Ucrânia é percepcionada pelos vários países da CPLP. Com efeito, se em Portugal esta guerra é omnipresente – desde 24 de Fevereiro de 2022, dia após dia, todos os “media” a têm coberto de forma massiva –, o mesmo não acontece, de todo, nos outros países da CPLP. Para estes, a Guerra da Ucrânia é algo de bem mais distante, quase um “assunto privado” entre europeus, por mais que, como saibamos, as consequências desta guerra estejam a ser cada vez mais globais, aos mais diversos níveis (como, desde logo, no da alimentação e no da energia).

Não admira pois, por isso, que os portugueses, em geral, se sintam mais próximos dos ucranianos – acompanhamos, dia após dia, os desenvolvimentos trágicos desta guerra e temos até acolhido um número significativo de refugiados. Por mais que decorra no outro extremo da Europa, os portugueses, em geral, sentem que esta guerra é também “nossa”. Com os outros cidadãos lusófonos, tal não acontece com a mesma intensidade, por mais que ninguém seja indiferente ao sofrimento do heróico povo ucraniano.

Para mais, a dimensão geopolítica desta guerra – com o crescente envolvimento dos países da OTAN/ NATO, em particular, dos Estados Unidos da América, contra a Rússia, herdeira da União Soviética –, veio recuperar alguns alinhamentos internacionais que pareciam já ultrapassados de vez. Em particular, em África, na África Lusófona, onde, como sabemos, a União Soviética foi um actor decisivo na derrocada do Ultramar Português. Não admira pois, por isso, que os PALOP: Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa estejam a ser os mais relutantes na condenação da Rússia, por mais que expressem a sua solidariedade com a Ucrânia. Caso para dizer que a “colonização” soviética ainda se faz sentir…

Quanto ao Brasil, ressalta, claramente, uma sintonia com a generalidade dos restantes países latino-americanos, em que persiste uma grande desconfiança relativamente aos Estados Unidos da América, dado o seu histórico de ingerências políticas na parte sul do continente americano. Se tudo parecia dividir os dois candidatos que se confrontaram na Eleição Presidencial de final de 2022 – Lula da Silva e Jair Bolsonaro –, neste ponto eles estiveram muito próximos, defendendo, ambos, um não envolvimento directo nesta Guerra, quando não uma clara equidistância. Em contraste, a posição de Timor tem sido bem mais solidária com a Ucrânia, o que não surpreende: o povo timorense sabe bem o que é ter o país invadido.

Agenda MIL – 3 de Abril, 22h, apresentação on-line da NOVA ÁGUIA 31 na PASC: Plataforma de Associações da Sociedade Civil – Casa da Cidadania, para cuja Presidência fomos reeleitos (para mais informações: www.pasc.pt).