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Portugal continua a ser um País onde a confiança dos cidadãos nas instituições europeias e nacionais é muito baixa e a esperança num futuro melhor é ainda mais pequena.

Segundo os números de um recente estudo de opinião encomendado pela Comissão Europeia, apenas 54% dos portugueses, ou seja, pouco mais de metade, estão satisfeitos com a sua vida. Quando esse número é analisado à lupa, constata-se que somos dos povos mais infelizes da União: apenas 3% dos portugueses dizem estar “muito satisfeitos” (ainda menos do que os 5% de gregos que, vá-se lá saber porquê, estão radiantes). Os restantes “satisfeitos”, 51% do total, encontram-se afinal na tabela do “mais ou menos satisfeitos”. Se tivermos em conta a tradição cultural do “cá se vai andando” pela qual o nosso povo é conhecido, estes números revelam-se francamente deprimentes.

Não deixa de ser interessante que um dos países onde existem mais felicidade e satisfação de vida não seja membro da União Europeia: a Islândia, onde 98% dos habitantes dizem estar felizes com a sua situação, e 55% muito felizes. Ao contrário do que acontecia em Portugal, a Islândia mantinha a sua própria moeda quando a crise eclodiu e não foi obrigada a ceder às ordens de Bruxelas. Hoje os islandeses estão mais pobres do que há alguns anos, mas a recuperar rapidamente.

Entre os países membros da União Europeia, os mais felizes são, sem surpresa, os mais ricos: os países nórdicos a lideram a tabela com taxas de satisfação muito acima dos 90%. Nas suas conclusões, os técnicos da EU associam a satisfação de vida à capacidade de honrar facturas: segundo o estudo, os europeus que nunca tiveram dificuldade em pagar as suas contas estão melhor com a vida do que aqueles que sofrem para conseguir ter tudo em dia (e nunca conseguem…).

Desemprego

De facto, mais de metade dos portugueses admite que a situação financeira do seu agregado familiar é “má”, sendo nós dos povos que atravessam maiores dificuldades. 94% dos portugueses consideram que a situação económica nacional é má. Neste aspecto, os jovens destacam-se como negativistas, principalmente porque, segundo o INE, apenas 1 em cada 20 ganha mais de 900 euros: os restantes, mesmo aqueles com mais qualificações, apenas auferem um salário médio de 515 euros. Mesmo assim, a União Europeia continua a exigir que o nosso Governo baixe os ordenados.

Em termos de empregabilidade, apenas 46% dos nossos cidadãos dizem que a sua situação em termos de emprego é boa; 38% consideram-na negativa, e os restantes, uma das maiores percentagens do estudo, recusam responder, sem duvida com receio de represálias laborais. Portugal possui dos códigos de trabalho europeus mais permissivos em termos de abusos por parte do patronato, e um sistema judicial excessivamente lento para proteger os cidadãos. Os trabalhadores independentes, em especial, são dos que menos podem falar. As “plenas liberdades” são apenas para alguns privilegiados. Entretanto, a União Europeia insiste com Portugal para que “flexibilize” ainda mais o mercado laboral.

Perspectiva zero

Em termos de expectativas para os próximos anos, os portugueses parecem ter já perdido as ilusões e a confiança no sistema europeu. Depois da euforia dos anos 90 do século passado, eis que 60% dos portugueses esperam apenas a estagnação, sendo que apenas uma pequena minoria (19%) ainda acredita que as coisas vão melhorar, enquanro 17% acham mesmo que vão piorar.

Neste capítulo, os gregos revelaram-se os mais pessimistas no estudo de opinião da União Europeia: 35% consideram que a situação vai piorar. E o estudo foi feito antes de o Governo radical de esquerda começar a implodir, pelo que é provável que neste momento seja muito mais elevado o número de pessimistas helénicos.

Os europeus mais optimistas são os britânicos, e com boa razão, visto que David Cameron tem cumprido a sua promessa de diminuir drasticamente o desemprego e de restaurar o orgulho e a soberania do Reino Unido face a uma Europa cada vez mais desarticulada. Os irlandeses, nossos companheiros de resgate, também olham para o futuro com olhos ligeiramente mais risonhos: a sua economia tem crescido de forma sustentada e, tal como Portugal, já disseram adeus ao FMI.

Contudo, a esmagadora maioria dos europeus (uma média de 70%) apenas vê estagnação no horizonte. Mais de metade considera que o seu país está no mau caminho. Em Portugal, é grande o descontentamento com a III República em que vivemos: 74% dos portugueses estão insatisfeitos com o actual regime. E apenas um quarto dos inquiridos portugueses dá nota positiva à forma como a União Europeia está a ser governada.

Todos ganham, menos os cidadãos

Em termos de preocupações gerais, uma diferença adicional existe entre Portugal e os países mais ricos. Estes ainda se preocupam com temas como a Segurança Social (alínea prioritária para os suecos, por exemplo). Mas os países pobres, como o nosso, já desistiram de esperar muito em retorno dos seus impostos, e como tal a principal preocupação dos portugueses está na subida dos preços, visto que os ordenados estagnaram desde o início da crise (para já não referir o enorme aumento nos preços que se verificou quando se passou do Escudo para o Euro, especialmente com a conversão fraudulenta, não controlada, feita por muitos negociantes).

A seguir aos preços, as maiores preocupações dos portugueses são mesmo o desemprego e as pensões, que se encontram eternamente ameaçadas pela ordem de corte da UE, embora os países ditos ricos se recusem a cortar nas suas próprias reformas. Não deixa de ser interessante que os finlandeses, segundo os dados do estudo da Comissão, se preocupem mais com as nossas finanças do que com o desemprego no seu próprio país. Temas que em tempos de maior bonança eram centrais (como o ambiente e a integração europeia) estão relegados para segundo plano. O projecto europeu ficou reduzido a três partes alíneas: economia, desemprego e obrigar os países do Sul a pagar.

Ilustrado pela enorme abstenção, que promete ainda vir a ser maior, o desinteresse dos portugueses pela política é notório. Nos últimos anos, o debate político nacional tem-se cingido a ‘soundbites’ sem o menor interesse, enquanto dois blocos, sem verdadeiras diferenças entre si, tentam conquistar o aparelho do poder para distribuir uns empregos pelos seus apoiantes. A esquerda radical, essa, fica feliz com o controlo das autarquias e dos sindicatos. Todos ganham, menos os cidadãos.

67% com as Forças Armadas

Não é, por isso, muito estranho que apenas 10% dos portugueses se mostrem interessados, e participativos, em política – a menor percentagem da Europa, valor que rivaliza com muitos Estados autoritários. 49% dos portugueses admitem ter muito pouco, ou mesmo nenhum, interesse nesta área. E 31%, especialmente os mais jovens, afirmam que nada sabem sobre o tema e não têm interesse em saber. Muitos nem sabem quem está no poder, pois já existe a ideia generalizada de que “são todos maus”.

A falta de confiança nas instituições é tal que apenas a tropa merece a confiança dos nossos cidadãos: 67% dos portugueses afirmam confiar nas Forças Armadas, até mesmo numa posição de governo. Valor elevado que reflecte o colapso total da confiança dos portugueses na III República.

Não confiamos na justiça, que é rejeitada por 61% dos inquiridos; também não confiamos nas autoridades locais, que colhem 60% de desaprovação; e quando se chega aos partidos políticos, a desgraça é total: 86% dos portugueses desconfiam dos partidos e não encontram qualquer justificação para a sua existência. Um dos valores mais elevados da EU. Aliás, só encontramos valores mais elevados em países onde o sistema partidário se encontra em convulsão, como a França ou a Espanha.

União de rastos

Quanto à União Europeia, a maioria dos portugueses associa-a à liberdade de viajar e trabalhar: largos milhares precisam de emigrar, sendo forçados a abandonar o País e as famílias. Menos positivamente, 15% dos portugueses acham que a União é um “desperdício de dinheiro”, 18% consideram que a UE permite demasiada imigração descontrolada, 24% associam o “projecto europeu” ao desemprego e à miséria (especialmente os mais jovens), 12% pensam que Bruxelas nos está a roubar a identidade cultural.

Associações mais positivas, que os eurocratas certamente gostariam de ver, são minoritárias: apenas 11% dos portugueses associam democracia à UE, menos do que aqueles que acham que as leis laxistas da União estão na origem do aumento da criminalidade no nosso país. E o número central: 70% dos portugueses consideram que a austeridade é da responsabilidade da Europa e que se tornou política central do organismo. 60% dos portugueses consideram ainda que a UE não é democrática, nem representa os seus interesses.

Apenas uma pequena minoria acha que a União deu mais protecção social aos portugueses. A maioria não confia nem no Parlamento Europeu, nem na Comissão Europeia, e desconfia especialmente do Banco Central Europeu.