PAULO FERRERO

Convenhamos que o melhor desta “Suite Francesa”, realizada pelo londrino Saul Dibb (e ele vinha de “A Duquesa”, com Keira Knightley) não é tanto a dramática história de amor (algo diferente de colaboracionismo) na França ocupada, entre uma francesinha das proximidades do Luxemburgo e um oficial da Wehrmacht, história vulgar de Lineu e por demais ‘déjà vue’ e de desfecho previsível, mas a capacidade que a equipa técnica (fotografia, música de fundo, diálogos, encenação) teve, e conseguiu, em não permitir que o filme descambasse na pirosice do costume, mais coisa menos coisa, sempre que se faz um filme com romances impossíveis em tempo de guerra.

Claro que “Suite Francesa” tinha todos os pré-requisitos aos Óscares, não fosse ela produzida pela Weinstein Co., meter a Segunda Guerra Mundial e um manuscrito (incompleto, ao que parece) de Irène Némirovsky, escritora judia que acabaria por sucumbir em Auschwitz, também ele objecto de uma história digna de filme até à sua publicação em 2004, e ter além disso um punhado de actores e de ‘performances’ de encher o olho, com Michelle Williams e Kristin Scott Thomas à cabeça mas não só (Lambert Wilson, por exemplo, compõe uma personagem, toda ela uma ‘charge’ à França, sobretudo à colaboracionista de Vichy). Só que chegou atrasada às nomeações pelo que deve transitar para o ano. E daí?

Pelo meio, registe-se também a excelente recriação da vida em comunidade, capaz do melhor e do pior, com personagens, todas elas, credíveis e apuradas, dignas de figurar em apurado estudo sociológico da melhor das universidades de nomeada.

Ah, é verdade, a suite romântica propriamente dita, que dá título ao filme e lhe serve de verdadeiro prelúdio, é bastante bonita e a gente acredita que foi composta por quem foi, independentemente de só poder ser de inspiração francesa…