Há mais de trinta anos que ando a dizer e a escrever que a arte da previsão faz toda a diferença entre a boa e a má governação, seja das empresas seja dos países, bem que, com a aceleração da mudança, aquilo que não se prevê acaba sempre por ultrapassar as nossas piores expectativas. É o caso, por exemplo, das imigrações oriundas dos países pobres de África em direcção à Europa, que não tendo sido previstas em tempo útil se transformaram num problema intratável.
Estou à vontade neste domínio, porque há 23 anos, na tentativa de alertar o Partido Socialista e a Internacional Socialista, apresentei com dois amigos, Pereira da Silva e Carlos André, duas moções aos XII e XIII congressos do PS, em que escrevemos no capítulo da globalização propostas que poderiam evitar o desastre hoje existente na Europa por via das imigrações sem controlo.
Escrevemos então: “Repetimos que o fenómeno da globalização não pode ser correctamente analisado usando os critérios normais do nosso tempo e, menos ainda, através dos interesses das sociedades industrializadas. Para compreender a globalização e, principalmente, para a orientar no sentido dos valores humanistas que nos são caros como europeus, devemos ser capazes de antecipar as transformações políticas, económicas e sociais, em que a solidariedade deve assumir o papel determinante. Nesse sentido, uma segunda reivindicação das forças do progresso global deve conter uma transferência global de recursos dos países desenvolvidos do Norte para os países pobres do Sul, recursos a serem geridos nesses países pelas Nações Unidas e destinados apenas à educação e à saúde, através, por exemplo, de uma taxa de 1% sobre todo o consumo de bens e de serviços dos países desenvolvidos, valor acrescido de 1% sobre as importações oriundas dos países em vias de desenvolvimento”.
Ao tempo, António Guterres impediu, através de Almeida Santos, que tivéssemos no XII congresso a possibilidade de explicar as nossas ideias e Ferro Rodrigues fez o mesmo no XIII congresso. Foi nesse tempo que foram colocadas as primeiras pedras no sentido de tornar Portugal um país de fachada democrática, que se tem dedicado a matar todas as ideias e toda a capacidade de debate e de previsão e foi então que se iniciou a criação de uma via político/burocrática que passou a limitar o mérito e a qualidade das ideias dos portugueses e a sua participação na vida política.
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