CDS entre “meias verdades” e “tom tasqueiro”

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O presidente do CDS-PP e o deputado João Almeida protagonizaram um momento muito aceso na reunião do Conselho Nacional, com Rodrigues dos Santos a criticar as “meias verdades” e o parlamentar a acusá-lo de usar um “tom tasqueiro”.

Durante a reunião do órgão máximo entre congressos, João Almeida considerou que “é mentira” que o CDS tenha tido mais votos e mais mandatos nestas eleições autárquicas. Apontando que o resultado de há quatro anos “não foi bom” mas “agora foi pior”, João Almeida disse ver a “realidade como ela é”.

O também candidato à Câmara Municipal de São João da Madeira lamentou não ter sido contactado pela direcção durante a campanha e falou em “declarações vergonhosas” do presidente do partido, quando Francisco Rodrigues dos Santos disse aos jornalistas que não ia visitar aquele concelho durante o período oficial de campanha por não ter sido convidado.

Na resposta, o presidente do CDS-PP acusou o deputado, com quem disputou a liderança do partido no último congresso, de dizer “meias verdades” e quis “responder à letra e dar troco”. Apesar de a reunião ter decorrido por videoconferência e à porta fechada, transpirou que Francisco Rodrigues dos Santos pediu a João Almeida que explicasse as contas para chegar à conclusão a que chegou, argumentando que o deputado não tem “condições nenhumas” para “provar” que o CDS elegeu menos autarcas. Rodrigues dos Santos indicou que a direcção ainda está a “fazer o apuramento final” dos resultados.

Sobre São João da Madeira disse a João Almeida que “não vale a pena fazer discurso de virgem ofendida” nem “de ‘Calimero’” e reiterou que não se deslocou lá porque não foi convidado. O líder centrista lamentou também que João Almeida tenha comentado nas redes sociais o facto de o líder da distrital de Lisboa, João Gonçalves Pereira, não ter integrado as listas da candidatura de coligação à capital. “Não sou obrigado a escolher quem tu entendes que deve ir para as listas do CDS”, criticou, rejeitando que tenha sido “um acto de cobardia”.

Quanto aos resultados das autárquicas, o deputado disse que esperava que fosse a direcção “a dar os números” e argumentou que o CDS elegeu no dia 26 de Setembro “menos quatro vereadores, menos 48 deputados municipais” e também menos presidentes de junta e membros de assembleia de freguesia.

Depois, João Almeida acusou Francisco Rodrigues dos Santos de ter usado um “tom tasqueiro” e salientou que a diferença entre os dois “não é só no tom e na educação, é também na maneira de enfrentar a realidade”.

E exemplificou: o líder também “não foi convidado” para ir a Vale de Cambra, mas foi lá durante a campanha para as autárquicas, e criticou que “quando achava que era relevante, fazia-se de convidado”. “Já perdi muitas vezes, desde logo no congresso, e assumi essa derrota. Tu nunca perdeste. As pessoas julgarão isso no futuro”, disse ainda o deputado.

Congresso

Sobre a data do Congresso, proposta pela direcção de ‘Chicão’ para 27 e 28 de Novembro, votaram a favor 145 conselheiros (64%), contra 65 conselheiros (29%), e abstiveram-se 16 (7%). O Congresso do CDS-PP vai assim realizar-se no mesmo fim-de-semana da reunião magna do Chega, assunto que marcou a discussão no Conselho Nacional. Enquanto os próximos de Nuno Melo pediram o adiamento do Congresso, a direcção defendeu a data proposta. André Ventura já se manifestou contra esta “coincidência” de datas com o Congresso do Chega (ver texto em caixa).

Também o regulamento da reunião magna e o regulamento para a eleição dos congressistas foram aprovados na reunião do órgão máximo entre congressos. O regulamento da eleição de delegados ao Congresso foi aprovado com 169 votos a favor (75%), 15 votos contra (7%) e 42 abstenções (19%), segundo a mesma fonte. O regulamento do Congresso estipula que as candidaturas à presidência do CDS e à Comissão Política Nacional “são apresentadas pelo primeiro subscritor de uma Moção Global de Estratégia e as candidaturas aos restantes órgãos por qualquer militante” e devem “efectuar-se até à hora definida pelo presidente da Mesa do Congresso”.

As moções de estratégia globais, que fixam a orientação do partido, têm de ser entregues à COC até “às 23 horas e 59 minutos do dia 15 de Novembro” e devem ser “subscritas por um número mínimo de 300 militantes”.

Entretanto, vários elementos da direcção do CDS-PP reiteraram durante a reunião do Conselho Nacional que o partido teve um “grande resultado” nas eleições autárquicas de 26 de Setembro, depois de a oposição contrariar esta opinião. Pedro Melo, vice-presidente do partido, apontou um “crescimento substancial da força autárquica”, uma vez que está no governo de “quase 50 câmaras”, a maioria através de coligação. Na sua óptica, o CDS “estava débil” depois das europeias de 2019, nas quais Nuno Melo foi cabeça de lista, e “continuou a definhar com as legislativas”, mas agora “não só não está a desaparecer, como está mais forte”.

O vice-presidente acusou os críticos internos, “sempre os mesmos”, de fazerem “oposição profissional” à actual direcção e de “desvalorizarem o que tem sido feito, que tem sido muita coisa”, o que na sua opinião “causa dano a todo o partido”.

Apontando que se iniciou um novo ciclo político, Pedro Melo realçou que o CDS está agora “muito mais forte e melhor preparado para o enfrentar” e está “hoje muito melhor do que em 2019”, antes de esta direcção, liderada por Francisco Rodrigues dos Santos, tomar posse. ■