Da importância da família

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Se há Governo que podemos orgulhosamente ostentar como bastião e fiel defensor dos valores da família é o do nosso amado e supremo líder António Costa.

O slogan de campanha vencedor deveria mesmo ter sido «A Família vem sempre primeiro».

No que respeita à definição de valores, estamos de acordo que a ordem de prioridade dos mesmos destaca a componente monetária como primeira da lista, podendo e devendo a interpretação ser feita de forma literal.

Apesar das constantes tentativas de desvalorização do esforço inexcedível e do trabalho árduo demonstrado por este executivo, é hoje justo salientar que o afinco imprimido em toda a acção governativa encontra no horizonte familiar a sua motivação. Seja ele ascendente ou descendente.

Medina, por exemplo, elevou este empenho ao nível seguinte.

O apego ao conceito de família é tal, que teve a nobreza de o transferir para a de Sérgio Figueiredo, ainda enquanto autarca da maior Câmara do País, adjudicando à empresa que aquele tem com a namorada (à falta de uma união de facto, foi o melhor que se arranjou) um contrato que rendeu cerca de 30.000€ em 13 dias.

Já em funções como actual ministro das Finanças, decide contratar o anterior patrão como consultor de propaganda, perdão, estratégico (ou seja, o mesmo), posição essa que Figueiredo acaba por vir a recusar, alegando não suportar falsos moralismos (leia-se justa indignação perante o regabofe e consequente mediatismo que o mesmo desencadeou).

«É lixado desistir», desabafa, referindo-se à inevitabilidade de ter que prescindir de um tacho remunerado ao nível de um ministro para um lugar sem paralelo na carreira da administração pública.

É lixado haver memória e restar ainda alguma liberdade de informação, Sérgio… estamos de acordo. Que nunca nos falte Kompensan.

Pedro Nuno Santos, por sua vez, consegue desde 2008, ou pelo menos enquanto não aparecerem registos na torre do Tombo que remontem a gerações fernandinas, permitir que a empresa que partilha com o Senhor seu pai tenha sido já galardoada com pelo menos 22 contratos com o Estado, 16 dos quais por ajuste directo.

Certo é que, até à hora do fecho da edição, os valores que se conhecem ascendem já a 1,1 milhões de euros, estando a actualização deste valor, à cautela, em aberto.

Ana Abrunhosa, de quem na verdade pouco ou nada se virá a saber, tendo presente a actual tendência para a eliminação de registos que comprovem a sua existência, corre a lenda que terá (ou não) contribuído para o favorecimento da empresa constituída pelo marido, agraciada também ela com cerca de 2 milhões de euros de Fundos comunitários, enquanto exercia funções como Presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro.

Quanto a Manuel Pizarro, pouco há a acrescentar para já. Tendo renunciado ao cargo de gerente na sua empresa na área da saúde por incompatibilidade de funções, sobra-lhe tempo para as tarefas do lar.

Como a Sr.ª Nutrição e o Sr. Saúde fazem um par perfeito desde o início dos tempos, torcemos para que assim continuem… Felizes e de mãos dadas.

Mais, tendo Pizarro as competências delegadas apenas no âmbito extra-conjugal, não há desculpa para sair de casa sem fazer a cama ou sem tirar a loiça da máquina.

A Família deverá estar sempre primeiro.

O raciocínio, em suma, é sempre o mesmo.

Entoa-se o Mantra:

Se for imoral e não for ilegal, não vemos problema.

Se for ilegal mas não for muito grave, não vemos problema.

Se for muito grave e daqui a uma semana estiver esquecido, continuamos a não ver qualquer problema.

Se continuar a correr bem, temos que institucionalizar a arte, definindo como intolerável a existência de qualquer membro do Governo que não tenha ligação a nenhuma empresa capaz de celebrar contratos públicos com o Estado.

Neste caso há que haver coragem de o identificar como incapaz, como inadequado ou, no limite, como demitido. ■